Política

Arapiraca: 'Auditoria teve fins políticos e pessoais', afirma auditor

Luiz Lôbo tenta receber mais de R$ 600 mil por trabalho pronto e entregue ao prefeito Rogério Teófilo

Por Carlos Victor Costa com Tribuna Independente 11/05/2018 08h06
Arapiraca: 'Auditoria teve fins políticos e pessoais', afirma auditor
Reprodução - Foto: Assessoria
O prefeito de Arapiraca, Rogério Teófilo (PSDB), contratou supostamente os serviços de auditoria para o município não com fins administrativos, mas políticos. A informação é do auditor Luiz Lôbo, que realizou o trabalho na segunda maior cidade de Alagoas, não recebeu o pagamento total do acordo e denunciou o calote junto ao Ministério Público Estadual (MPE). Em entrevista à Tribuna Independente, Luiz Lôbo, indicado a Teófilo pelo advogado Adriano Soares e ex- coordenador da assessoria estratégica e modernização de Arapiraca na gestão tucana, relatou que possivelmente os seus trabalhos foram realizados para averiguar eventuais deslizes das administrações de Luciano Barbosa (MDB), atualmente vice-governador e Célia Rocha (PTC), adversários políticos do tucano em Arapiraca. “Hoje, verifico que a auditoria não tinha a finalidade dentro dos parâmetros e princípios da administração pública, pois o prefeito [Rogério Teófilo] não queria uma radiografia financeira e contábil do município, mas tão somente identificar eventuais deslizes de administrações anteriores para fins políticos e pessoais. Independentemente desses desvios de responsabilidade pública, o município me deve. Não quero saber qual era a finalidade dele. O fato é que ele usou a máquina pública, me contratou e no meu entendimento com objetivos pessoais, políticos pessoais”. O auditor ressalta que todo o relatório analisado foi entregue diretamente ao prefeito Rogério Teófilo. “Tá aí o talvez o motivo de eles não quererem me pagar, pois no momento que ele me paga, a auditoria passa a ser pública. Qualquer pessoa pode pedir, pois foi pago com dinheiro público. Eu entreguei os relatórios de todos os meses nas datas marcadas diretamente ao prefeito, até porque isso era determinação dele”. “MENTOR DO CALOTE” O auditor Luiz Lôbo também relatou a sua decepção com o advogado Adriano Soares, a quem atribuiu ser o mentor ou ter participado do calote contra ele. Lobo acreditava que Soares iria se manifestar nos autos, por ter sido citado como principal responsável pelos trabalhos do auditor no município, sendo que apenas apresentou o profissional ao prefeito Rogério Teófilo. “Achei que ele [Adriano Soares] iria encaminhar um documento ao MPE e dizer que apenas me apresentou e que não acompanhou o trabalho. Ate porque ele era secretário desde janeiro, desde a posse do prefeito, mas que iria uma vez ou outra no município. E é impossível você conduzir um assunto dessa magnitude sem estar presente. Esperava que ele pessoalmente desmontasse essa defesa tosca de certa forma ofensiva ao bom senso. O Adriano ao não se manifestar deixa a entender que ele se não foi o mentor intelectual desse calote, de fato participou disso”, relata o auditor à reportagem. Ainda sobre Adriano Soares, Lobo ressalta que acredita na participação do advogado no calote, pelo fato de ele não ter se desligado da administração de Arapiraca, mesmo assumindo a direção econômica da Chesf. “O Adriano, ao assumir a Chesf, tecnicamente devia ter se desvinculado de Arapiraca e isso de fato não aconteceu. Ele continua ligado num cordão umbilical ao município, participando de reunião de secretariado dentro dos mesmos padrões anteriores, indo uma vez por mês. De acordo com a avaliação dele [Adriano Soares], nada lá acontece se ele não estiver presente porque o prefeito não conseguiu montar uma equipe e sim um amontoado. O que me impressiona é o silêncio dele, pois o município colocou nas costas dele toda a responsabilidade da contratação da auditoria quando ele apenas era um integrante da equipe e apenas me indicou. Todas as minhas negociações foram com o prefeito”. Conversas em aplicativo mostram intervenção   Apesar de a Prefeitura de Arapiraca tentar justificar ao promotor do caso, Napoleão Amaral, da 4ª Promotoria, de que não havia sido realizado o contrato com a equipe de auditoria de Luiz Lôbo, constam nos autos da denúncia, conversas via WhatsApp que comprovam o acordo tacitamente feito entre as partes. A empresa de auditoria de Lôbo teria firmado contrato “de boca” com o prefeito de Arapiraca, em abril de 2017, com contrato até dezembro podendo prorrogar. Conversas no aplicativo comprovam também que Adriano Soares tentou intervir na situação, não conseguindo ter êxito.   [caption id="attachment_99102" align="aligncenter" width="550"] Adriano Soares teria mediado acordo entre prefeitura para a realização da auditoria em gestões anteriores (Foto: Sandro Lima/arquivo)[/caption]   A representação feita ao Ministério Público tinha a intenção de denunciar o calote de quase 90% do valor acertado. A Prefeitura teria pago apenas R$ 60 mil, dos R$ 610 mil acertados, mas o que chamou a atenção da Promotoria da cidade foi a forma como a empresa de consultoria foi contratada e a origem do dinheiro do percentual pago. “O valor total a ser pago pelo trabalho seria de R$ 610 mil líquidos. É importante frisar isso e que apenas R$ 60 mil foram pagos, através da construtora Construir Construções do secretário de Planejamento e Gestão, Antônio Lenine, via TED. Preciso apenas que o secretário reconheça a sua total participação e condução de todo esse processo”. Lobo confirmou que na semana que vem irá novamente ao MPE para adicionar novos elementos que se contrapõem à defesa da Prefeitura de Arapiraca. CÂMARA DE ARAPIRACA Esta semana, a Câmara de Vereadores de Arapiraca, aprovou que o prefeito Rogério Teófilo, terá de ir ao Legislativo prestar esclarecimentos acerca dos valores devidos ao auditor Luiz Lôbo. Os parlamentares ainda tentam criar uma Comissão Especial de Investigação (CEI) para cobrar do prefeito os motivos de ter contratado uma auditoria nas contas públicas e posteriormente não haver a divulgação de tudo o que foi analisado pelo auditor.