Política
Com dúvidas, partidos aprovam Fundo da Democracia
Das legendas consultadas, todas concordam com financiamento público eleitoral, mas possuem algumas considerações
Foi aprovada no último dia 10 pela comissão da reforma política na Câmara dos Deputados a criação do Fundo Especial de Financiamento da Democracia, cujo objetivo é garantir recursos públicos para as campanhas eleitorais. O valor aprovado pelos parlamentares é de R$ 3,6 bilhões, já para 2018. Dos partidos ouvidos pela Tribuna, todos aprovam a medida, entretanto, com dúvidas sobre sua implantação.
Segundo Ricardo Barbosa, presidente estadual do PT, o financiamento público de campanhas eleitorais sempre foi uma bandeira do partido, mas a iminente aprovação na Câmara do modelo eleitoral chamado de “distritão” pode distorcer o benefício que o Fundo traz para as eleições.
“Se o ‘distritão’ for aprovado, na prática, esse recurso vai para o candidato. O PT sempre defendeu o financiamento público porque diminui a influência privada da eleição”, diz o petista.
Ronaldo Lessa, presidente estadual do PDT, também defendeu a criação do fundo eleitoral, mas ponderou que formatação ele terá após sair do Congresso.
“Alguém tem de financiar a eleição, uma vez que o Supremo proibiu as doações privadas. É melhor que o financiamento seja público, com controle rigoroso, do que privado e do jeito que estava”, comenta Ronaldo Lessa.
Para José Thomaz Nonô, presidente do DEM em Alagoas, a medida é reflexo da proibição das doações privadas. Entretanto, ela não garante, por si só, o fim de práticas de corrupção.
“Dentro das circunstâncias que foram construídas lá trás, é bom. Mas a dúvida é se esse fundo vai acabar com o caixa 2. Na Alemanha também tem fundo público e o ex-chanceler Helmut Kohl caiu porque recorreu ao caixa 2”, afirma Nonô.
O fundo eleitoral será mantido com recursos públicos previsto no orçamento, num percentual de 0,5% da receita corrente líquida em 12 meses, encerrados em junho. Nos valores atuais, R$ 3,6 bilhões.
Metade dos recursos deve bancar corrida presidencial
O Fundo Especial de Financiamento da Democracia ainda vai precisar ser regulamentado, mas a maior probabilidade é que metade dele seja destinada às campanhas majoritárias: presidente, governador e senador. A outra metade deve ser dividida com 30% para as disputas à Câmara dos Deputados e 20% às assembleias legislativas.
Para já vigorar na eleição de 2018, é preciso que todas as mudanças na regra eleitoral sejam aprovadas até a primeira semana de outubro deste ano.
A ideia do relator da reforma política na Câmara, Vicente Cândido (PT-SP) é que o montante do fundo eleitoral seja reduzido com o tempo. Pela metade já em 2020.
O parlamentar defende que o modelo eleitoral seja alterado e, assim, a necessidade de recursos diminua. A maioria da comissão da reforma política aprovou que o modelo de votação para 2018 seja o ‘distritão’, que elimina a proporcionalidade nos parlamentos e dá caráter majoritário à disputa para deputados e vereadores.
Vicente Cândido defendia o sistema distrital misto, que ainda pode vigorar a partir da eleição de 2022. Nesse modelo, o eleitor votaria duas vezes: uma no candidato e outra no partido. Em cada distrito eleitoral, os mais votados seriam eleitos e preencheriam metade das vagas disponíveis.
A outra metade seria preenchida com as vagas obtidas pelos partidos políticos a partir de suas votações.
Para que essas alterações passem a valer é preciso que 2/3 da Câmara as aprovem em duas votações. Depois o tema segue para o Senado.
Para cientista político, Divisão de recursos merece maior atenção
Para o cientista político Ranulfo Paranhos, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o fundo eleitoral é necessário – principalmente pela proibição do financiamento empresarial das campanhas eleitorais – e seu montante, R$ 3,6 bilhões, está dentro do razoável. O problema, segundo ele, é como se dará a divisão desse dinheiro e o modelo de eleição.
“Esse valor, R$ 3,6 bilhões, é muito se compararmos a alguns programas ou a alguns orçamentos de cidades ou estados. Mas como é que se faz campanha num país do tamanho do Brasil? A meu ver, o problema é em como esse recurso será dividido. Será que os diretórios de cidades pequenas do interior verão a cor desse dinheiro?”, questiona.
Além disso, ele ressalta que o financiamento público tem mais a ver com os votos em lista partidária e não em pessoas. O “distritão” torna as disputas, até então proporcionais, em majoritárias.
“De antemão acho que qualquer modelo que priorize o personalismo em detrimento da vinculação partidária é ruim. Os partidos já são instituições fragilizadas no país e o modelo ‘distritão’ tem essa característica. Essa discussão, para mim, é mais importante do que o fundo eleitoral”, comenta o cientista político.
QUATRO PAÍSES
O modelo “distritão” só é utilizado em quatro países: Afeganistão, Emirados Árabes Unidos, Kuait e Vanuatu.
Segundo a proposta aprovada pela comissão da reforma política, esse modelo será transitório e, em 2022, o modelo será o distrital misto. Nele, o eleitor vota duas vezes: uma no candidato e outra no partido.
Também fica possibilitado que um mesmo candidato dispute dois cargos numa mesma eleição, se um deles for para o Poder Executivo. Ele poderia ser candidato ao governo e constar na lista partidária para o parlamento. Se eleito para o governador, sai da lista.
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