Polícia

Grávida, vítima de feminicídio disse ter “algo ruim” no namorado antes de morrer

Fernando é o principal suspeito da morte de médica veterinária, que sofreu um traumatismo craniano ao ser golpeada na cabeça

Por Yahoo 28/12/2018 12h38
Grávida, vítima de feminicídio disse ter “algo ruim” no namorado antes de morrer
Reprodução - Foto: Assessoria

Beatriz Milano é mais uma jovem que perdeu a sua vida para um relacionamento abusivo. A médica veterinária de 27 anos estava grávida de cinco meses de Fernando Veríssimo, com quem teve um relacionamento de onze meses. Fernando é o principal suspeito da morte de Beatriz, que sofreu um traumatismo craniano ao ser golpeada na cabeça e não resistiu aos ferimentos.

“O primeiro laudo divulgado pelo IML não identificou o golpe. Eles precisaram fazer outra perícia no corpo para encontrar”, disse Bárbara, irmã da vítima ao Universa.

Como o suspeito é médico, a Polícia Civil do Mato Grosso, encarregada do caso, acredita que ele teria utilizado seus conhecimentos na área para esconder os rastros do crime. Fernando, que atendia em hospitais públicos de São Vicente, litoral paulista, está preso desde o dia 19 desse mês.

Bárbara Milano conta que recebeu uma mensagem do namorado de sua irmã pedindo para que ela entrasse em contato com ele, no dia 24 de novembro. Quando ela ligou, Fernando disse que Beatriz “havia passado mal e não estava mais entre nós”. A vítima havia acabado de se mudar para Rondonópolis, no Mato Grosso, a trabalho.

Durante o relacionamento, Beatriz terminou com Fernando uma vez. Foi durante esse término que a jovem teria dito haver algo de errado com o ex-namorado. Ela enviou uma mensagem para a mãe dizendo “não tem jeito, ele tem alguma coisa ruim dentro dele”. Segundo Bárbara, a vítima se incomodava com o comportamento controlador e possessivo do namorado. “Ele arrumava briga do nada, era instável. Minha irmã era uma mulher independente, amava viver a vida, era linda, vaidosa e excelente profissional. Ele não sabia lidar com tudo isso e se viu no direito de tirar a vida dela”.

A irmã da vítima ainda diz que já havia questionado sua irmã sobre o então namorado. “Eu perguntei a ela, uma vez, se tinha medo dele, se ele era agressivo. Minha irmã me respondeu que Fernando só era esquisito, controlador e que ficava com raiva facilmente. Eu não paro de pensar se eu poderia ter evitado isso. É muito confuso para mim, não existem palavras para descrever a minha dor”, conta.

Beatriz descobriu a gravidez enquanto estava separada de Fernando. Ela decidiu contar ao ex-namorado, que aproveitou a situação para reestabelecer contato. “Ele disse que queria se reaproximar para ajudar a cuidar dela e da criança. Ela tinha acabado de receber uma proposta de trabalho em Rondonópolis e Fernando decidiu se mudar com ela”, conta Bárbara.

O jeito despreocupado com que Fernando tratava a morte de Beatriz fez Bárbara desconfiar do ex-cunhado. “Mandei uma mensagem tentando esconder minha suspeita. Perguntei o que realmente tinha acontecido. Ele respondeu friamente: ‘Acho que foi aneurisma, Bá’. Era como um deboche, sabe? Ele me mandava áudio contando detalhes das coisas que eu perguntava. Era assustador”, disse.

Bárbara também se lembrou de uma frase que ouviu um dia do ex-cunhado. Enquanto estavam bebendo cerveja em uma praça, viram uma viatura passar. Fernando teria dito “eu sou branco, sou médico, a polícia nunca vai me prender”.

Um colega de trabalho relatou que Beatriz foi trabalhar sorridente na noite que antecedeu o crime. A vítima teria dito que achava que seria pedida em casamento naquele dia. Ainda não se sabe claramente o que aconteceu.

A polícia afirma que Fernando relatou em seu depoimento ter saído para jantar com a namorada e que, quando voltaram para casa, a vítima foi dormir. Ele, então, teria passado a noite na sala e só foi encontrar sua mulher, já morta, no dia seguinte. Em entrevista à rádio CBN Ribeirão, o suspeito negou ter cometido o crime. “Não consigo nem falar em relação a isso. Não sei do que estou sendo acusado, o que aconteceu. Isso me deixa chocado, eu sou inocente”.

Aurea Cintra, advogada de Fernando, afirma que o cliente é inocente. “Ainda não se sabe se houve crime, portanto ele não é autor de nada. Após a morte da esposa, Fernando foi para a casa dos pais, em Ribeirão Preto, porque estava muito abalado. Ainda estou apurando o caso e não tenho mais informações”.

Para Bárbara, “não dá para entender como alguém se sente no direito de tirar a vida de outra pessoa. Eu só quero justiça. Quero que ele responda pelo que fez como manda a lei”.