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Superbactérias resistentes a antibióticos mataram 35 mil na Europa

Por Terra 18/11/2022 16h30
Superbactérias resistentes a antibióticos mataram 35 mil na Europa
O uso excessivo de antibióticos faz com que uma bactéria comum passe por uma mutação e se espalhe de forma evoluída - Foto: Reprodução

Um levantamento do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, em inglês) mostrou que 35 mil pessoas morreram na Europa entre 2016 e 2020 por infecções causadas por superbactérias, que têm resistência a antibióticos.

Segundo informações da RTP, o impacto na saúde de infecções causadas por esse fenômeno já pode ser comparado ao da gripe, da tuberculose e da aids juntas.

Os antibióticos são medicamentos que agem impedindo o crescimento de microrganismos e são importantíssimos para tratar uma série de doenças.

Nos casos identificados na Europa, algumas das bactérias mais resistentes observadas foram Acinetobacter, normalmente em pacientes já hospitalizados; Klebsiella pneumoniae, no trato gastrointestinal; e o fungo Candida auris, identificado em 2010 e já conhecido por sua resistência, capaz de causar infecções graves e se espalhar com facilidade em ambientes de tratamento de saúde.

Como antibióticos podem fortalecer bactérias?

O fortalecimento de bactérias por resistência a medicamentos pode ocorrer com todos os antimicrobianos: antibióticos, antifúngicos, antivirais e antiparasitas. O uso excessivo desses remédios, principalmente no tempo de uso, faz com que uma bactéria que era comum passe por uma mutação e se espalhe de forma evoluída.

O problema das superbactérias já é velho, mas está cada vez mais difícil controlá-lo. Tanto que alguns especialistas já consideram essa resistência como uma pandemia.

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em abril apontou não apenas o excesso e uso incorreto dos fármacos como problemas, mas também o descarte inapropriado deles, o que contamina o solo e a água.

O documento também alertou para que ações imediatas fossem tomadas, como otimizar o uso de antibióticos existentes, tomar mais medidas para controlar e monitorar infecções e proporcionar maior financiamento para novos antibióticos e tratamentos.

Outro estudo publicado este ano na respeitada revista científica Lancet também mostrou que 1,2 milhão de pessoas morreram em 2019 devido a infecções bacterianas resistentes e 4,95 milhões por razões semelhantes. Considerando 204 países, o trabalho considerou a resistência a antibióticos uma das maiores causas de morte no mundo.

“Esses novos dados revelam a verdadeira escala da resistência antimicrobiana em todo o mundo e são um sinal claro de que devemos agir agora para combater a ameaça. Estimativas anteriores previam 10 milhões de mortes anuais por resistência antimicrobiana até 2050, mas agora sabemos com certeza que já estamos muito mais próximos desse número do que pensávamos”, afirmou o coautor do estudo e professor do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, Chris Murray.

Covid pode ter influenciado


Acredita-se que a pandemia de covid-19 possa ter contribuído para esse cenário, considerando que medicamentos como a azitromicina, por exemplo, tiveram um aumento de 150% de vendas em 2020, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Ainda que autoridades sanitárias tenham alertado sobre a ineficácia desse tipo de medicamentos, muitos rumores pairavam na época e qualquer remédio minimamente promissor estava sendo considerado para uso. Foi o caso também da cloroquina, que foi provada ineficaz em diversas ocasiões.

Azitromicina foi indicada indevidamente para o tratamento da covid-19
Azitromicina foi indicada indevidamente para o tratamento da covid-19 / Foto: Reprodução


“Durante a pandemia foram utilizadas tantas carbapenemas [um tipo de antibióticos] que em alguns países, como o Chile, temos os níveis de resistência que esperávamos ter em 2030. Aceleramos dez anos. Estamos muito alarmados”, contou o catedrático da Faculdade de Veterinária da Universidade Complutense de Madrid, González Zorn, ao El País.

Combatendo as superbactérias

Como resposta a isso, grupos de pesquisadores da Texas A&M University e da Universidade de São Paulo (USP) já descobriram como “barrar” essa resistência por meio do uso da luz. É um tipo de terapia fotodinâmica antimicrobiana, ou seja, uma reação química gerada a partir da luz visível, que quebra a resistência.

O artigo sobre o recurso foi publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS). As bactérias foram tão enfraquecidas que pequenas doses de antibiótico já foram capazes de eliminá-las.

No mesmo sentido, uma outra equipe identificou uma molécula capaz de controlar essas “superbactérias”. A molécula, denominada fabimicina, pode ser usada para combater infecções difíceis de vencer. É o caso das bactérias gram-negativas, normalmente por trás de problemas no trato urinário, pulmões e corrente sanguínea.

Porém, as duas pesquisas ainda estão em fase de desenvolvimento. Por enquanto, a recomendação geral dos médicos é de usar antibióticos apenas com prescrição adequada, com dias e horários definidos, sem usar as “sobras” do remédio. Hábitos de higiene também são importantes, como lavar as mãos e os alimentos que irá consumir.