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Em momento histórico, príncipe Charles substitui Elizabeth 2ª pela primeira vez

Monarca quebrou o protocolo que cumpre há 59 anos e que abre os trabalhos do Parlamento devido a problemas de mobilidade

Por R7 10/05/2022 11h29
Em momento histórico, príncipe Charles substitui Elizabeth 2ª pela primeira vez
Príncipe Charles faz o discurso da rainha durante a abertura do Parlamento - Foto: REUTERS

O príncipe Charles sucedeu a rainha Elizabeth 2ª nesta terça-feira (10) no simbólico "discurso do trono", que abre os trabalhos do Parlamento, um momento histórico visto como a transição progressiva de uma rainha idosa determinada a não abdicar em favor de seu herdeiro.

A monarca de 96 anos costuma abrir cada nova sessão parlamentar lendo o programa legislativo elaborado pelo governo para o próximo ano.

Durante suas sete décadas de reinado, ela só faltou a esse compromisso duas vezes, em 1959 e 1963, quando estava grávida do príncipe Andrew e do príncipe Edward, respectivamente.

No entanto, devido aos seus "problemas de mobilidade e, depois de consultar os seus médicos, ela decidiu com relutância não fazer o discurso desta vez, pela primeira vez em 59 anos”, explicou a casa real.

O príncipe Charles, de 73 anos, que substitui cada vez mais a mãe, não chegou ao Parlamento de carruagem, mas em um Rolls-Royce oficial com teto transparente, acompanhado da esposa, Camila.

Tampouco usava a tradicional capa de arminho, mas um uniforme militar com numerosas condecorações, e a pesada coroa ornada de pedras preciosas, que presidia a sessão sobre uma almofada diante do espaço vazio deixado no trono pelo soberano ausente.

Charles sentou-se ao lado dele, em um trono menor que já ocupou em outras ocasiões ao lado da mãe. Acompanhado por Camila e seu filho mais velho, o príncipe William, de 39 anos, número 2 na linha sucessória, leu o discurso com a mesma voz monótona, solene e aplicada da rainha diante dos deputados e dos senhores reunidos na câmara alta do Parlamento.

Toda essa pompa, que incluiu a chegada da coroa e dos cetros em procissão real, as fanfarras e os arautos em suas vestes cerimoniais, mostra que "a rainha ainda está no comando", nas palavras do Daily Mail. Mas "não se engane, este é um momento histórico para a coroa", destacou o jornal.

A saúde de Elizabeth 2ª tem sido motivo de preocupação desde que os médicos ordenaram que ela descansasse, em outubro do ano passado. Ela foi hospitalizada por uma noite para fazer "exames" médicos que nunca foram especificados.

Desde então, a rainha cancelou sua participação em eventos de destaque e foi vista com bengala, mostrando ter dificuldades de locomoção.

Mas, em um histórico discurso de rádio em seu aniversário de 21 anos, durante uma viagem à África do Sul com sua família, em 21 de abril de 1947, a então princesa Elizabeth prometeu dedicar toda a sua vida a servir seu povo, e todos a consideram determinada a não abdicar, apesar das doenças crescentes.

Especialmente neste ano, de 2 a 5 de junho, haverá quatro dias de grandes festividades pelo "jubileu de platina", os 70 anos de Elizabeth 2ª no trono, um recorde para qualquer monarca britânico.

Agenda legislativa de Boris Johnson

O discurso do príncipe Charles durou menos de nove minutos e detalhou a agenda legislativa preparada pelo governo do conservador Boris Johnson, que busca reconquistar os britânicos pelos próximos dois anos, até as próximas eleições legislativas, nas quais espera ser reeleito .

O polêmico primeiro-ministro vê sua permanência no poder ameaçada há meses devido à indignação causada pelo chamado "partygate", o escândalo das festas ilegais organizadas em Downing Street durante os confinamentos contra a Covid-19.

Soma-se a isso o grave revés eleitoral sofrido na semana passada por seu partido, que perdeu uma dezena de câmaras municipais e quase 500 vereadores nas eleições locais, inclusive importantes redutos londrinos, como Westminster.

Os eleitores expressaram preocupação com o custo de vida e a inflação descontrolada, que pode ultrapassar 10% neste ano.

Mais de 7 milhões de adultos e 2,6 milhões de crianças, em um país de 66 milhões de habitantes, viviam, em abril, em casas onde não comiam o suficiente, segundo um estudo publicado pela Food Foundation, um aumento de 57% desde janeiro.

Nesse contexto, o governo vai procurar “ajudar a aliviar o custo de vida”, “reduzir as desigualdades”, “apoiar o Banco da Inglaterra no seu esforço para devolver a inflação aos seus objetivos”, leu Charles.

Os 38 novos projetos de legislação também incluem medidas a favor da transição energética e mudanças para “aproveitar as oportunidades” oferecidas pelo Brexit, como novas regras de concorrência e controle de imigração.