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Fazendeiro dos EUA sonha com muro na fronteira prometido por Trump

Para homem que mora ao lado da fronteira EUA-México, muro é solução

Por AFP / G1 28/10/2016 13h31
Fazendeiro dos EUA sonha com muro na fronteira prometido por Trump
Reprodução - Foto: Assessoria

Muitos consideram inviável a promessa de Donald Trump de construir um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México, mas Jim Chilton está convencido de que é a única solução para que ele possa dormir em paz.

Aos 77 anos, Chilton diz que está cansado de ver traficantes de drogas a partir de sua casa. O muro é, segundo ele, a única solução.

"Realmente admiro Trump por ter a visão e o conhecimento do que está errado no atual sistema fronteiriço", disse à AFP enquanto observava a extensa planície desértica em sua fazenda de 194 quilômetros quadrados, que se estende até a fronteira com o México.

"Precisamos do muro, digo isso há 10 anos, precisamos de estradas ao longo da fronteira e a patrulha fronteiriça deve ser mobilizada para que não deixe ninguém passar", afirmou. "Tornaria a minha vida muito mais simples e eu me sentiria mais seguro", acrescentou o homem, que representa a quinta geração de uma família de fazendeiros do Arizona.

Trump lançou a polêmica ideia do muro no início de sua campanha, afirmando que sua construção custaria entre US$ 8 milhões e US$ 12 bilhões, que o Estado mexicano deveria pagar.

O republicano também foi defensor da deportação de 11 milhões de pessoas que estão no país ilegalmente.

Embora tenha admitido que Trump não era sua primeira opção entre os candidatos republicanos à Casa Branca, Chilton insistiu que a construção deste muro de 3.200 quilômetros de extensão na fronteira sul é essencial para a segurança nacional.

"Terra de ninguém"

"Vivo na terra de ninguém, vivo em uma terra ocupada pelo cartel de Sinaloa", afirmou, apontando para montanhas dentro de sua propriedade onde afirma que há pessoas com sofisticados equipamentos para apoiar os contrabandistas.

"Eu os vi nestas duas montanhas e inclusive no pátio da frente. Eu os cumprimento com a mão e muitas vezes me respondem com um 'hola' (em espanhol) de volta", destacou.

Chilton, que carrega uma pistola na cintura e outra junto a sua cama, além de um rifle na porta de casa, afirmou que outros fazendeiros da região são favoráveis a um reforço na segurança destas áreas remotas que, vulneráveis, podem servir para que grupos extremistas como o Estado Islâmico (EI) entrem no país.

"Não temos ideia nesta fronteira porosa de quantas pessoas do EI estão de fato entrando", advertiu junto a sua cerca de arame farpado.

Embora muitos políticos cogitem esta ideia de que terroristas cruzaram para os Estados Unidos a partir do México pelo sul, não há evidências até agora de que isso tenha ocorrido.

Questão humanitária e de segurança

Mas além dos cartéis da droga e das ameaças de terrorismo, Chilton insiste que o muro de Trump responde a uma situação humanitária.

"É simplesmente revoltante encontrar um cadáver na minha fazenda. É revoltante para a patrulha fronteiriça, para meus vaqueiros", indicou em referência aos migrantes que morrem tentando cruzar para os Estados Unidos através do brutal deserto do Arizona. "É uma questão humanitária e de segurança nacional", acrescentou.

O fazendeiro disse que sempre carrega ao menos 10 galões (37 litros) de água em sua caminhonete, para o caso de encontrar algum migrante desesperado, mas afirmou que o número diminuiu desde que os traficantes de drogas tomaram o controle da região.

Segundo a patrulha fronteiriça, 2.600 corpos foram encontrados desde 1998 no deserto no setor de Tucson, Arizona, onde há 420 km de fronteira.

Mas várias organizações próximas ao tema migratório afirmam que um muro não diminuirá as mortes na zona, já que a estrutura -- mesmo alta e sólida, como prometeu Trump -- não deterá as pessoas que tentam cruzar.

"O muro por si só não fará absolutamente nada se não existir alguém de guarda o tempo todo", afirmou Mike Kreyche, integrante dos Samaritanos de Tucson, um grupo humanitário que deixa água e comida ao longo destas trilhas de imigrantes no deserto.

"O que menos se fala sobre este tema é a raiz do problema", estimou Kreychec. Porque, no fim das contas, "como alguém disse, mostre-me um muro de 50 pés [15 metros] e te mostrarei uma escada de 51".