Interior

Proximidade com mineradora em Craíbas faz tremores se multiplicarem em Arapiraca

Pesquisadores da Uneal atribuem fenômenos frequentes à distância pequena com município de Craíbas

Por Davi Salsa - Sucursal Arapiraca / Tribuna Independente 03/05/2025 15h46 - Atualizado em 04/05/2025 09h45
Proximidade com mineradora em Craíbas faz tremores se multiplicarem em Arapiraca
Pesquisadores da Uneal constaram que a proximidade entre os municípios causa os tremores de terra - Foto: Reprodução

A distância entre as cidades de Arapiraca e Craíbas é de apenas 17 quilômetros. Essa proximidade, segundo pesquisa inédita da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), está relacionada, diretamente, ao aumento dos tremores de terra nos últimos quatro anos, depois da instalação da mineradora Vale Verde, no Povoado Serrote da Laje, na área rural de Craíbas.

A pesquisa foi aprovada e selecionada para apresentação no 15° Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO), que será realizado em agosto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal.

O estudo, intitulado “Sismicidade no Agreste Alagoano: entre falhas e interferências antrópicas no relevo dos municípios de Arapiraca e Craíbas”, é de autoria dos pesquisadores Willian Macksuel Almeida Melo e Sandro Maciel dos Santos, do curso de Geografia do campus da Uneal em Arapiraca.

Os dados representam uma das investigações mais relevantes e pioneiras sobre a temática no estado de Alagoas.

A pesquisa teve início a partir de um estudo de caso sobre os abalos sísmicos registrados no município de Arapiraca. Mas diante da persistência e expansão dos eventos, os estudos passaram a incluir o município de Craíbas e regiões vizinhas.

De acordo com dados do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), desde o ano de 2020, tanto Arapiraca quanto Craíbas já registraram mais de 80 tremores de terra em cada município. É um número expressivo para uma região historicamente considerada de baixa sismicidade.

O trabalho analisa a recorrência desses eventos, que os relacionam à movimentação natural de falhas geológicas, mas também às interferências humanas, sobretudo a atividade mineradora.

Ambas as cidades estão inseridas em um contexto geomorfológico estratégico. Arapiraca se situa entre a Depressão Sertaneja e os Tabuleiros Costeiros, enquanto Craíbas está totalmente inserida na Depressão Sertaneja, região marcada por estruturas geológicas relevantes como falhas e zonas de cisalhamento.

A partir da integração de dados sísmicos do LabSis com informações do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), os pesquisadores utilizaram ferramentas de sistemas de Informação Geográfica (SIG) para mapear os eventos e delimitar áreas de mineração, especialmente nas regiões noroeste de Arapiraca e sudoeste de Craíbas.

Os resultados revelam uma concentração dos tremores em áreas com ocorrência de falhas geológicas e próximas às atividades mineradoras, como explosões controladas e rebaixamento do lençol freático. “Essa sobreposição espacial sugere que, embora exista uma predisposição natural à sismicidade, há também fortes indícios de sismos induzidos por ações antrópicas”, aponta o pesquisador Willian Almeida.

Para ele, o resultado da pesquisa aponta para a necessidade de compreender os eventos sísmicos no Agreste alagoano como resultado da interação entre processos geológicos e atividades humanas.

“Isso exige maior atenção do poder público, com investimentos em monitoramento sísmico, ordenamento territorial e políticas de gestão de riscos, especialmente em áreas urbanas sujeitas a tremores, mesmo que de baixa magnitude”, acrescenta.

Empresa nega relação com abalos sísmicos na região

Com a aprovação no simpósio nacional em Natal, no Rio Grande do Norte, um dos mais importantes encontros científicos da área de geomorfologia no Brasil, a pesquisa ganha reconhecimento nacional e reforça o papel da ciência geográfica na análise crítica de fenômenos naturais intensificados por ações humanas no Agreste de Alagoas.

Mapa mostra epicentro dos abalos sísmicos nos dois municípios (Imagem: Reprodução)

A empresa mineradora, sempre que é indagada sobre a relação de suas atividades com os tremores de terra na região, nega qualquer vínculo com os abalos sísmicos e reforça que mantém as melhores práticas de ESG, que consistem em monitoramento ambiental contínuo estando rigorosamente dentro dos padrões exigidos na legislação brasileira e em linha com as melhores práticas internacionais.

A Mineração Vale Verde (MVV), localizada em Craíbas, Alagoas, tem sido alvo de diversas denúncias por parte dos moradores da região, que relatam rachaduras em suas casas, tremores de terra e outros impactos ambientais e sociais desde o início das operações de extração de cobre em 2020. Em março de 2024, a Defesa Civil Estadual e Municipal constatou que o número de imóveis com fissuras aumentou de 50 para mais de 350, com mais de 100 casas condenadas e em risco de desabamento.