Interior

Fumo: mulheres mantêm tradição de destaladeiras em Arapiraca

Produção agrícola e feira livre impulsionaram desenvolvimento no município

Por Davi Salsa - Sucursal Arapiraca / Tribuna Independente 14/09/2024 10h04 - Atualizado em 14/09/2024 10h14
Fumo: mulheres mantêm tradição de destaladeiras em Arapiraca
Mulheres destaladeiras contribuíram com o desenvolvimento econômico do município de Arapiraca trabalhando na indústria do fumo - Foto: Carlos Magno / Cortesia

O município de Arapiraca comemora o centenário de sua criação no próximo dia 30 de outubro.

A produção agrícola e a feira livre impulsionaram o desenvolvimento econômico e social da antiga vila pertencente a Limoeiro de Anadia.

Mas o crescimento da cidade teve o seu apogeu entre as décadas de 1940 e 1980, com a produção fumageira que mobilizava mais de 20 mil pessoas no campo e na cidade.

As famílias dos pequenos agricultores trabalhavam dia a dia nas plantações e depois nos varais onde as folhas de fumo eram colocadas para secar.

No processo final da produção, as folhas secas eram colocadas em salões e armazéns para o fumo

se destalado com a retirada do talo e, em seguida, o produto ser enrolado e transformado em cordas de fumo antes da maturação para ser comercializado no mercado regional e também exportado para outros países.

No plantio, a mão de obra era basicamente dos homens. Mas nos salões, as mulheres ajudavam os seus maridos na tarefa de destalar o fumo. As mulheres cumpriam uma longa jornada de trabalho em casa e nos salões de fumo, ajudando no sustento financeiro de suas famílias e no desenvolvimento econômico de Arapiraca, que chegou a ser conhecida nacionalmente como a “Capital Brasileira do Fumo”.

As donas de casa e as camponesas ficaram conhecidas como as “destaladeiras de fumo”. Enquanto retiravam os talos das folhas de fumo, as mulheres cantavam músicas que se estendiam pela noite e até na madrugada, como forma de passar o tempo e não tornar o trabalho menos cansativo.

A cidade ultrapassou em crescimento e desenvolvimento urbano todas as outras, com exceção da capital Maceió.

As mulheres ajudaram no progresso econômico de Arapiraca, que passou por muitas transformações ao longo dos anos, impulsionando a economia, o comércio e o setor de serviços.

Leis contra uso do tabaco reduziram áreas de plantio

No início da década de 1990, as leis internacionais ficaram mais rígidas em relação ao consumo de tabaco, o que acabou gerando a redução da área do plantio e o número de produtores de fumo em Arapiraca.

Com isso, o processo de destalação de fumo foi reduzido também nas casas e nos salões e armazéns, o que levou os agricultores locais a investir em outras culturas, a exemplo da mandioca, feijão, milho, abacaxi e hortaliças.

Mesmo com a queda de mais de 50% na produção de fumo, a atividade ainda é um meio rentável para centenas de famílias em Arapiraca, sobretudo para as mulheres que conheceram o processo de destalagem do fumo e passaram o conhecimento para as filhas e netas.

Cícera Maria, 58 anos, desde criança trabalho na cultura do fumo (Foto: Carlos Magno / Cortesia)

O caso da destaladeira de fumo Cícera Maria da Silva, de 58 anos de idade. Ela trabalha em uma empresa local que mantém a atividade fumageira como o principal negócio econômico.

O Grupo Capa, localizado no bairro Itapoã, em Arapiraca, é uma das poucas indústrias de tabaco ainda em atividade no município. A firma emprega atualmente 350 pessoas e mais de 80% delas são mulheres que trabalham selecionando o fumo para a comercialização nos estados da Bahia, Sul, Sudeste e também para exportação em outros países.

Moradora da comunidade quilombola de Carrasco, na área rural de Arapiraca, Cícera Maria da Silva conta que desde criança viveu na lavoura e aprendeu todo o processo de plantio, secagem e seleção das folhas de fumo para venda.

“Sempre trabalhei em casa e na roça. Casei e tive um filho, que hoje é adulto. Trabalho aqui na firma há muitos anos e consigo meu salário para o meu sustento”, declara Cícera Maria.

A mulher lembra que chegou na indústria de fumo no ano de 1985. “Gosto muito do que faço aqui e hoje sou chefe de turma”, concluiu.