Interior

Palmeira dos Índios enfrenta surto da febre do Oropouche

Em Alagoas, 19 casos da doença já foram registrados; autoridades alertam para cuidados a fim de evitar infecção

Por Valdete Calheiros - Colaboradora / Tribuna Independente 13/08/2024 09h04 - Atualizado em 13/08/2024 17h11
Palmeira dos  Índios enfrenta surto da febre do Oropouche
A febre do oropouche é transmitida pela picada do mosquito Meruim Pólvora, muito comum no bioma Amazônia - Foto: Reprodução

Alagoas tem, até o momento, 19 casos de febre do Oropouche confirmados, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). O município de Palmeira dos Índios apresenta o maior número de casos, com 13 confirmações. Japaratinga vem na sequência, com dois registros. Os municípios de Estrela de Alagoas, Messias, Tanque d’Arca e Porto Calvo apresentam, cada um, um caso da doença. Nenhum dos pacientes apresentou complicações clínicas graves.

Do total de casos, há uma predominância na faixa etária de indivíduos entre 20 e 29 anos (31,5%), seguido de pessoas entre 30 e 39 anos (26,3%). Dos casos confirmados, 12 (63,1%) ocorreram em pessoas do sexo feminino, sendo destas, 10 em idade fértil, que representa 52,6% do total. Até o momento, não se conhece ocorrência de caso em gestante, nem óbito.

A Sesau explicou que segue monitorando a quantidade de casos de febre do Oropouche registrados em Alagoas. A pasta vem atuando, em conjunto com as Secretarias Municipais de Saúde (SMSs) dos 102 municípios, com o objetivo de executar medidas de mitigação e também na orientação da população para a prevenção de novos casos.

O assessor técnico de vetores, zoonoses e fatores ambientais da Sesau, Clarício Alvim Bugarim Neto, explicou que a febre do Oropouche é uma doença causada por um arbovírus do gênero Orthobunyavirus. A transmissão é feita principalmente pelo inseto Culicoides paraensis, popularmente conhecido como maruim.

“Após picar uma pessoa ou animal infectado, o vírus permanece no inseto por alguns dias, que transmite a doença ao picar alguém saudável. Os sintomas são dor de cabeça intensa, dor muscular, dor nas articulações, náusea, vomito e diarreia, ou seja, bem parecidos com os da dengue, zika e chikungunya. O diferencial está, principalmente, no modo de evolução do quadro”, comparou.

A febre não causa manchas na pele. Entre os sintomas, podem ocorrer também fotofobia. A população precisa ficar atenta aos sinais para todas as arboviroses, porque além dos sintomas comuns, a febre do Oropouche pode causar tontura, dor retro ocular e calafrios.

Sintomas são parecidos com outras doenças

O início dos sintomas é súbito, geralmente com febre, dor de cabeça, artralgia, mialgia, calafrios e, às vezes, náuseas e vômitos persistentes por até cinco a sete dias. Ocasionalmente, pode ocorrer meningite asséptica. A maioria dos casos se recupera em sete dias, mas, em alguns pacientes, a convalescença pode levar semanas. O período de incubação é de quatro a oito dias, com variação de três a 12 dias.

A doença pode ser transmitida de duas formas: a silvestre e a urbana. Na silvestre, os contaminados são animais como macacos e bicho-preguiça, já na urbana os humanos são os principais infectados.

“Não é comum que o quadro se agrave. Há, no entanto, casos em que a doença evolui para meningite viral”, considerou o assessor técnico de vetores, zoonoses e fatores ambientais da Sesau.

Prevenção

Alguns estudos já estão sendo feitos e comprovam que a febre pode estar relacionada com a má formação fetal, em gestantes. As mulheres grávidas podem adotar recomendações extras, como a proteção das residências com redes de malha fina nas portas e janelas, além do uso de mosquiteiros.

Além das grávidas, os grupos mais vulneráveis como idosos e pessoas com comorbidades também devem ficar atentos.

Clarício Alvim Bugarim Neto salientou que é importante sempre manter a casa limpa e remover os possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas, além de usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplicar repelente nas áreas expostas da pele e evitar áreas com circulação de mosquitos.

A prevenção, assim como nas demais doenças transmitidas por mosquitos, está nos cuidados individuais, como no uso de repelentes. Os maruins possuem local específico de reprodução e horário de alimentação.

O maruim se reproduz em locais com lagos e vegetação e costumam se alimentar a partir do fim da tarde, de noite e de madrugada, no restante do dia ele se resguarda. Por isso, o ideal seria evitar estar ao ar livre nestes horários apontados.

É difícil identificar a febre Oropouche e diferenciá- la das outras. Contudo, o exame epidemiológico, o de sangue, PCR, nos três primeiros dias de sintoma, e o sorológico, após sete dias, podem detectar a doença.

Segundo o assessor técnico da Sesau, o diagnóstico dos casos é confirmado através de exame laboratorial, realizado no Laboratório Central de Alagoas (Lacen/AL), com o uso da metodologia de RT-PCR. (V.C.)

Tratamento inclui repouso e ingestão de líquidos

As medidas em relação ao tratamento são semelhantes às necessárias nas doenças virais. É recomendado repouso para restabelecer a saúde, além da ingestão de líquidos e o uso de analgésicos.

Em relação ao tratamento, Clarício Alvim Bugarim Neto esclareceu, que, segundo o Ministério da Saúde, não existe tratamento específico.

“Neste caso, os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico, assim como ocorre com a dengue, zika e chikungunya”, informou.

Em casos graves, o recomendado para o tratamento é a internação, para que haja um acompanhamento com o profissional indicado.
Primeiro caso

A febre do Oropouche foi descoberta em 1955, nas Américas, no país Trindade e Tobago. No Brasil, a doença foi detectada pela primeira vez em 1960 em um bicho-preguiça, na construção da rodovia Belém-Brasília.

Naquela década, casos isolados e surtos foram relatados no Brasil, principalmente nos estados da região Amazônica. Também já foram relatados casos e surtos em outros países das Américas Central e do Sul.

Inicialmente, os casos dessa febre no país eram mais encontrados na Amazônia, pela transmissão silvestre. Mas no decorrer dos anos percebeu- se que, assim como a febre amarela, esta enfermidade carrega o risco de se tornar uma epidemia.

Ainda conforme o assessor técnico de vetores, zoonoses e fatores ambientais da Sesau, Clarício Alvim Bugarim Neto, durante o ano de 2023, 831 casos de febre do Oropouche foram confirmados no Brasil. Até o momento, foram confirmados 7.497 casos no país, o que representa um aumento de 802,1%.

Na região Nordeste do país, no ano passado, não houve confirmação de nenhum caso da doença. Até o momento há confirmação de dois óbitos atribuídos à febre do Oropouche no Brasil. Ambos aconteceram em indivíduos residentes da Bahia.

A febre do Oropouche compõe a lista de doenças de notificação compulsória, classificada entre as doenças de notificação imediata, em função do potencial epidêmico e da alta capacidade de mutação, podendo se tornar uma ameaça à saúde pública.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou mais de 6,7 mil casos da febre do Oropouche, de janeiro a junho deste ano, em 16 estados do país. A maioria dos registros se concentra em Rondônia e no Amazonas, onde a incidência da doença é recorrente.