Interior

Mais uma vítima de intolerância religiosa é registrada em Alagoas, desta vez em Arapiraca

Comissões da OAB Alagoas acolheram praticante de Umbanda que teria sido ameaçado de morte por um vizinho

Por Ascom OAB/AL 01/06/2023 18h55 - Atualizado em 02/06/2023 00h43
Mais uma vítima de intolerância religiosa é registrada em Alagoas, desta vez em Arapiraca
Caso ocorreu no município de Arapiraca e vítima, praticante da Umbanda, foi ameaçada de morte por um vizinho - Foto: Ascom OAB/AL

A Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), por meio da Comissão Especial de Direito e Liberdade Religiosa e da Comissão da Igualdade Racial, acolheu, na última semana, mais uma vítima de intolerância religiosa. Desta vez, o fato foi registrado no município de Arapiraca, no Agreste de Alagoas, onde a vítima, praticante da religião Umbanda, teria sido ameaçada de morte por um vizinho, supostamente incomodado com as celebrações realizadas na casa dela.

De acordo com o relato da vítima, o vizinho vinha demonstrando insatisfação com a religião praticada pela vítima, a ponto de, em determinada oportunidade, fazer questão de dizer, na presença dela, que tinha uma arma de fogo em casa. A situação passou a ficar insustentável quando ele começou a atrapalhar as celebrações e a fazer ameaças enquanto os rituais aconteciam.

Da última vez em que ele se manifestou a respeito, em meados de maio, usou palavras de baixo calão e disse que daria um “tiro na testa dela” ao ouvi-la conversando com uma amiga nos fundos da casa, onde ocorrem as celebrações, a respeito da prática religiosa delas e das entidades de matriz africana.

Houve uma discussão e a vítima conseguiu gravar as agressões verbais que estavam sendo feitas pelo homem. Ela decidiu, então, denunciar o fato na Delegacia de Polícia Civil, onde foi registrado um Boletim de Ocorrência, e também procurar a OAB Alagoas para que as comissões responsáveis pudessem acompanhar o caso.

De acordo com o presidente da Comissão Especial de Direito e Liberdade Religiosa, Isaque Lins, por se tratar de um caso ocorrido no interior do estado, demandou mais atenção pelo fato de somente Maceió ter delegacia especializada para tratar de casos de intolerância religiosa.

“Os casos de intolerância religiosa praticados no interior demandam uma atenção maior da Comissão, isso porque os interiores não possuem delegacia especializada, como possui a capital. Com isso em mente, além da orientação telepresencial que fizemos, enviamos um membro da Comissão até Arapiraca para acompanhar pessoalmente a vítima, de modo a fornecer o suporte necessário nesse momento de acolhimento. Agora, resta-nos aguardar o transcorrer do inquérito, de modo a esperar que o agressor responda na forma da lei. O nosso trabalho segue incansável”, afirmou Isaque Lins.

A vítima, que é psicóloga, relata que o fato lhe causou muitos danos psicológicos e que, desde o ocorrido, não consegue mais dormir, chora com frequência e não se sente mais à vontade para entoar os cânticos religiosos dentro da própria casa, sem que seu companheiro esteja presente. Ela conta, ainda, que precisou recusar uma oportunidade de emprego e que vem sendo pressionada pela família para mudar de casa e procurar um local mais seguro, o que ela se recusa a fazer em virtude do vínculo emocional que tem com a casa.

“O caso em tela reflete um racismo estrutural e religioso que infelizmente ainda permeia a nossa sociedade. As religiões de matriz africana, de modo geral, são perseguidas e recorrentemente vítimas de intolerância religiosa. É de extrema importância o combate à esse tipo de intolerância e nós seguiremos, junto aos órgãos responsáveis, acompanhando o caso para a efetiva punição do suposto autor do crime”, explicou Ana Clara Alves, presidente da Comissão de Promoção de Igualdade Racial.