Interior

População de 38 municípios consome água imprópria

Sem Operação Carro Pipa nos municípios do semiárido, famílias são forçadas a racionamento e até comprar água nos caminhões

Por Emanuelle Vanderlei – colaboradora com Tribuna Independente 08/02/2023 10h10
População de 38 municípios consome água imprópria
Operação Pipa em Alagoas foi interrompida no final do ano passado após o governo Bolsonaro não autorizar repasses - Foto: Ascom Casal

Com a Operação Carro Pipa (OCP) suspensa desde novembro do ano passado, a população de 38 municípios alagoanos está sofrendo em condições precárias. De acordo com coordenadores municipais da defesa civil, pessoas da zona rural estão passando por situações complicadas.
À Tribuna Independente, o coordenador da Defesa Civil do município de Santana do Ipanema, cidade localizada no Sertão alagoano, diz que a situação é preocupante e que há racionamento de água. “Vemos pessoas que tomam banho uma vez na semana, usam a mesma roupa para não lavar, racionam a água potável para consumo”, complementa.

Ele afirma que o município está abastecendo, porém a demanda é muito grande. “A Operação Carro Pipa abastecia comunidades cadastradas, onde água encanada não chegava. O município abastecia outras comunidades, que também não tem água encanada, mas que não eram abastecidas pela OCP. Com a paralisação, mais que o dobro de comunidades aumentaram”.

O empenho da gestão local não está sendo suficiente. “Estamos abastecendo da melhor forma possível, mas existem casos onde as pessoas não estão tomando banho para racionar a água. Quando vem chuvas, eles conseguem acumular água em suas cisternas para utilizar alguns dias. As pessoas racionam banho e afazeres domésticos, como lavar pratos e roupas, ou então pegam água em barragens”.

Essa alternativa preocupa porque trata-se de uma água imprópria para consumo. Valter Madeiro, coordenador regional da Defesa Civil no Sertão, explica que a chuva não foi suficiente para encher as cisternas, mas encheu o açude, e por isso não foi decretada a situação de emergência.

“Só pode decretar emergência quando no período de chuvas a chuva foi pouca. Nem que a gente queira decretar a gente está impedido porque lá na frente vai precisar de um relatório da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, e lá diz a quantidade que choveu no período. Só que esses milímetros que choveram no período não foram suficientes para juntar água para o povo”.

Segundo Madeiro, os animais e a produção agrícola estão assegurados, mas não o consumo humano está inviável. “Se eu disser que Jacaré dos Homens não choveu suficiente para abastecer eu estou mentindo. A fiscalização vai lá e constata que tem água no açude. Mas não está própria para o consumo humano”.

Prefeituras viabilizam esforços, mas as ações são insuficientes

A atual realidade nos municípios do semiárido alagoano é que a população está sendo forçada a comprar água no carro pipa, no entanto, a maioria não tem dinheiro para custear com esse gasto e muitas vezes, não há quem venda água nas regiões.

De acordo com o Valter Madeiro, que coordena a Defesa Civil na região do Sertão, para resolver o problema dos moradores, a Operação Carro Pipa, que bancada pelo Governo Federal, precisa voltar. Ele ressalta, ainda, que as gestões municipais têm viabilizado esforços para não deixar os moradores à mercê dessas condições.

“O que resolveria a situação é que a operação pipa voltasse, a operação é imprescindível. Uma cidade como a minha, Jacaré dos Homens, pequena, com 5 mil habitantes, muito menor que lugares como Poço das Trincheiras, Senador Rui Palmeira, Pão de Açúcar, São José da Tapera, vive condições preocupantes. Mas tem municípios grandes que nem colocando os carros da prefeitura é suficiente. Acredito que a solução é decretar emergência alegando imprópria para consumo, mas para isso tem que fazer exames, muito complexo e burocrático”, defendeu.

A situação se acumula com o problema de abastecimento da Casal, agravando ainda mais os problemas. “Além de não ter água armazenada da chuva, a gente está com um problema sério no sertão de falta de água. O abastecimento da Casal está ruim”. Mas ele reforça que mesmo se o abastecimento da Casal estivesse 100% funcionando também não teria água. “São raros os povoados que chega água pela tubulação”.

MAIS PROBLEMAS

Esta semana, a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA) reuniu prefeitos e representantes da Companhia de Abastecimento e Saneamento de Alagoas (Casal) para discutir soluções a curto prazo para diminuir o sofrimento da população.

“Esse é um problema crônico de décadas, a população sofre muito, principalmente nesse período de estiagem. Agora estamos com problemas nos equipamentos da captação e acredito muito que o governador Paulo Dantas, que é da região, vai conseguir regularizar a situação. Mas procuramos caminhos que minimizem a situação enquanto os investimentos não são realizados”, afirmou presidente Hugo Wanderley.

O presidente da AMA também explicou que as prefeituras estão se esforçando contratando carros pipas para abastecer prédios públicos e auxiliar o abastecimento das comunidades mais afetadas.