Interior

Nível do Rio São Francisco sobe e comunidades ficam alerta

Este é o segundo ano em que a vazão do Velho Chico chega a 4.000 m³/s e muda paisagem no seu percurso

Por Gabriely Castelo com Tribuna Independente 18/01/2023 06h29 - Atualizado em 18/01/2023 15h47
Nível do Rio São Francisco sobe e comunidades ficam alerta
Vazão do Rio São Francisco chegou a 4.000m³/s na última segunda-feira - Foto: Adailson Calheiros

No dia 9 de janeiro, a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (Chesf) anunciou que as chuvas do começo do ano, na nascente do rio (MG) aumentaram o nível do Rio São Francisco. Por consequência, os reservatórios das usinas da região também tiveram seu volume afetado, o que gerou a necessidade de aumentar a liberação de água pelos vertedouros.

Municípios alagoanos banhados pelo rio estão sendo impactados com o volume liberado, que chegou a 4.000m³/s na segunda-feira (16). Com o volume maior de água, a paisagem do Velho Chico também é modificada.

Segundo o pesquisador, doutor em Ciências Aquáticas e coordenador da expedição científica do Rio São Francisco, professor Emerson Soares, esse é o segundo ano consecutivo em que a vazão chega a 4.000m³/s e a previsão para a máxima depende da meteorologia.

À Tribuna Independente, Emerson disse que “o Rio São Francisco está em processo de aumento de vazão com as chuvas nas cabeceiras dos afluentes em Minas Gerais. A expectativa daqui para fevereiro e março é que fiquemos nessa média de 2.000 a 4.000m³/s”.

Na segunda-feira (16), o volume de água que é escoado das Usinas Hidrelétricas de Sobradinho, na Bahia, e em Xingó, em Alagoas, chegou à vazão máxima prevista de 4.000 m³/s, aproximadamente oito vezes maior que o considerado normal. Ainda de acordo com o pesquisador, a instabilidade nos valores acontecem também porque o aumento da vazão depende da demanda energética do país.

“Eles têm geração própria de energia, ou seja, quanto maior a demanda, mais eles jogam água, quanto menos o valor, eles baixam. Esse valor de 4.000m³/s é uma média. Eles têm uma certa autonomia que provoca essa instabilidade. Às vezes durante a semana o volume está na média de 4.000m³/s e durante o fim de semana baixa para 3.500m³/s, então sempre tem essa oscilação.”, esclareceu.

Pesquisador: “vazão precisa oscilar menos para não prejudicar população”

Quando perguntado sobre o que a Chesf poderia fazer para colaborar com as comunidades que habitam as margens do Rio, a resposta foi dura, porém esclarecedora. Emerson comentou que existe um repasse de verba da Companhia às prefeituras dos municípios atingidos, justamente pelos impactos ambientais ocorridos nas localidades, logo, o que há de ser feito para colaborar com as comunidades que ali vivem, depende do governo municipal. O que dificulta a ajuda aos que mais necessitam.

“A Chesf não colabora com nada. Cada prefeitura recebe um percentual, não sei dizer qual o valor, mas esses recursos pouco chegam àqueles que realmente precisam, ou seja, os pescadores e a população ribeirinha. A Chesf é um operador nacional de sistema elétrico, eles fazem o que a ONS [Operador Nacional de Sistema Elétrico] mandam”, afirmou o coordenador.

Emerson Soares reitera a omissão da Companhia em relação às comunidades locais. “Na minha opinião, eles não fazem nada para beneficiar o meio ambiente, o Baixo São Francisco e nem a população ribeirinha.”

Ele reforçou o acordo, selado entre prefeitura e Chesf, para que haja um ressarcimento pelos danos ambientais, causados pela hidrelétrica: “a não ser esse acordo que eles têm com as prefeituras de repassar um recurso como uma forma de colaborar com os danos que eles cometem nas regiões, mas fora isso não há nada.”

O coordenador da expedição científica do Rio São Francisco destaca que a variação dos números divulgados devem ser menos instáveis. “O que nós defendemos é que a informação tem que ser mais transparente, que oscile menos [vazão], para que não prejudique a população ribeirinha”, pontuou.

CHESF

Em nota, a Chesf alertou sobre o patamar de vazão das Usinas Elétricas e reforçou que as médias das atualizações são diárias.

“O aumento gradual da saída de água dos reservatórios ocorre devido à situação de cheia na Bacia do Rio do São Francisco. A operação segue as regras e diretrizes vigentes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

A companhia destaca que o volume de água passou para 4.000 m³/s na última segunda-feira (16).

“A Eletrobras Chesf destaca que os patamares informados são médias diárias. Reforça, ainda, que a Bacia do Rio São Francisco se encontra no período úmido, reafirmando, assim, a importância da não ocupação do leito do rio, considerando que a vazão de máxima (de restrição) do vale do São Francisco a partir da Usina Hidrelétrica de Sobradinho é de 8.000 m³/s.”