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Athletico, Coritiba e Palmeiras repudiam auditor do TJD-PR por suposta xenofobia contra o técnico António Oliveira

Clubes divulgam notas lamentando atitude de Rubens Dobranski, que afirma que treinadores portugueses 'querem marcar território' no Brasil

Por globoesporte 02/03/2023 17h06
Athletico, Coritiba e Palmeiras repudiam auditor do TJD-PR por suposta xenofobia contra o técnico António Oliveira
Técnico António Oliveira, do Coritiba - Foto: Coritiba

Athletico, Coritiba e Palmeiras divulgaram uma nota oficial nesta quinta-feira contra o auditor Rubens Dobranski, do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR). Ele é acusado de xenofobia contra o técnico português António Oliveira, do Coxa.

Dobranski, no julgamento pela briga entre jogadores no clássico, afirmou que "os técnicos portugueses, que estão trabalhando atualmente no Brasil, parece que estão querendo marcar território" e ainda citou Abel Ferreira, técnico do Palmeiras.

António Oliveira, que foi expulso no clássico e absolvido pela terceira comissão do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR), não gostou e pontuou que "não olha as culturas, as raças e as nacionalidades". (Veja o diálogo completo abaixo)

- Os clubes salientam que este ato preconceituoso direcionado ao profissional é inadmissível em qualquer situação ou contra qualquer pessoa. O Coritiba e o Athletico reiteram que atitudes racistas ou de qualquer outra natureza discriminatória são absolutamente inaceitáveis. Os clubes têm profundo respeito por todos os estrangeiros que atuam no futebol brasileiro, que foi construído por pessoas e profissionais das mais diversas etnias e nacionalidades, engrandecendo e trazendo diversidade ao esporte - afirmou a dupla Atletiba.

- O Palmeiras lamenta ter de vir novamente a público para repudiar mais um ataque de caráter xenófobo contra o técnico Abel Ferreira e os demais treinadores portugueses que trabalham no Brasil. Não podemos aceitar manifestações preconceituosas como a promovida na noite de ontem pelo presidente da 3ª Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná, Rubens Dobranski. De uma pessoa incumbida de zelar pela ética e avaliar condutas de esportistas, espera-se equilíbrio e isenção, em vez de intolerância - diz o Verdão paulista.

A Cáritas Brasileira Regional Paraná, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), denunciou o suposto caso de xenofobia ao Ministério Público (MP-PR), que vai analisar se abre uma investigação.

Em contato com o ge, o auditor Rubens Dobranski não quis se aprofundar e disse que "não houve a intenção de ofender nenhuma nacionalidade".

Xenofobia é crime, previsto na Lei nº 9.459 de 1997, que define "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". Em 2022, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ainda decidiu que a xenofobia passou a ser considerado crime de racismo. Quem comete xenofobia é passível a reclusão de um a três anos e multa.

Diálogo

Rubens Dobranski: Já tive a oportunidade de assistir jogos em Portugal, no estádio da Luz. Fui ver jogos do Benfica lá em Portugal algumas vezes e estou preocupado porque os técnicos portugueses, que estão trabalhando atualmente no Brasil, parece que estão querendo marcar território. É o caso do técnico do Palmeiras, que chuta ‘balde d’água’, chuta microfone, sempre é advertido com cartão amarelo. E se não me engano, o senhor aqui quando chegou ao Coritiba, não sei se foi na quarta ou quinta rodada, já cumpriu suspensão por três cartões amarelos. Confere? Confere isso? O senhor foi suspenso por três cartões amarelos?

António Oliveira: Sim, senhor.

Rubens Dobranski: Não sei se foi na quarta ou quinta rodada, o senhor já cumpriu essa pena, correto?

António Oliveira: Correto.

Rubens Dobranski: Então, o senhor veja, um técnico de futebol, na quarta ou quinta rodada, já cumpre uma suspensão de uma partida por três cartões amarelos. O senhor não acha que está sendo, assim, muito reclamão com os árbitros aqui do país?

António Oliveira: Podemos expor o contrário. Eu, na vida, não olho as culturas, as raças as nacionalidades.

Rubens Dobranski: Nós também não. Só estou vendo que tem vários casos.

António Oliveira: O doutor acabou de dizer que os portugueses estão a tentar marcar território.

Rubens Dobranski: Porque está sendo comum isso acontecer.

António Oliveira: Mas isso é uma opinião do doutor. Não é a minha, respeito muito. Cada um é como cada qual. Não olho nacionalidade, não olho religiões, não olho cores. Para mim as pessoas, cada uma tem sua índole, sua educação e sua formação. Eu tenho a minha, a minha forma de viver o jogo.

O julgamento

Presididos por Leandro Gonçalves da Silva, os auditores Guilherme Munhoz Burgel Ramidoff, Rubens Dobranski, Mikael Alexandre Mocelin Guajardo Cuevas, Amyr Assaf de Macedo e Paulo Guilherme Giffhon participaram da sessão. Já a Procuradoria do TJD-PR foi representada por Marcelo Oliveira.

O julgamento durou cerca de oito horas. Em um primeiro momento, a Procuradoria apresentou as denúncias. Em seguida, a defesa dos clubes se posicionaram e mostraram provas.

Na sequência, os denunciados foram ouvidos pelos auditores. Só depois disso a votação foi iniciada. Todos os atletas denunciados foram ouvidos pelos auditores e advogados.

Jogadores do Athletico punidos

Thiago Heleno: quatro jogos.

Pedro Henrique: quatro jogos.

Christian: quatro jogos.

Pedrinho: seis jogos.

David Terans: dois jogos.

Jogadores do Coritiba punidos

Marcio Silva: advertência

Victor Luis: absolvido.

Fabrício Daniel: seis jogos.

Alef Manga: cinco jogos.

Dirigentes, técnico e árbitro

António Oliveira: absolvido.

Lucas Drubscky: absolvido.

Glenn Stenger: absolvido.

Jair José de Souza: absolvido.

Árbitro: absolvido.

Athletico

Invasão de campo: absolvido.

Deixar de prevenir desordem: absolvido.

Objetos arremessados: multa de R$ 2 mil.

Suspensão da partida: absolvido.

Coritiba

Participar de tumulto ou rixa: absolvido.


A denúncia

A Procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) denunciou Athletico e Coritiba, jogadores, dirigentes e o árbitro do jogo.

A denúncia manteve os nove expulsos, sendo cinco do Furacão e quatro do Coxa, e ainda adicionou o lateral-esquerdo Victor Luís, do Alviverde, que não foi expulso pela arbitragem.

A novidade no documento protocolado foi a denúncia duplicada de parte dos atletas envolvidos e a citação ao Furacão. O clube rubro-negro corria o risco de perder de um até 10 mandos de campo, pontos no torneio e levar uma multa que pode chegar até R$ 100 mil reais.

O técnico António Oliveira, do Coritiba, também fez parte da denúncia do tribunal. Ainda estão denunciados quatro dirigentes, o árbitro do Atletiba e o Coxa.

Veja quem são: o presidente atleticano, Mario Celso Petraglia, o presidente interino do Coritiba, Glenn Stenger, o vice Jair José de Souza e o head esportivo Lucas Drubscky, e o juiz Jose Mendonça da Silva Junior.

Além deles, foram denunciados os zagueiros Pedro Henrique e Thiago Heleno, o lateral Pedrinho, o volante Christian e o meia-atacante David Terans, do Furacão, e o técnico António Oliveira, o zagueiro Marcio Silva e os atacantes Alef Manga e Fabrício Daniel, do time Alviverde. Esses já estavam relatados na súmula.

Relembre

Na reta final do Atletiba, aos 51 minutos, Marcio Silva (Coxa) e David Terans (Furacão) começaram a se estranhar perto da área. Logo depois, o alviverde Alef Manga entrou na confusão com Terans e provocou uma reação de jogadores atleticanos, como Pedro Henrique e Thiago Heleno.

A partir daí, atletas das duas equipes se envolveram em discussões e empurrões espalhadas pelo gramado. O rubro-negro Pedrinho chegou a acertar um chute em Manga e depois foi perseguido por atletas coxa-brancas. Pedro Henrique e Fabrício Daniel também trocaram socos.

Um torcedor do Athletico ainda invadiu o campo e, depois de agredir o goleiro Marcão, do Coritiba, foi contido pelos seguranças particulares. De acordo com a Demafe, ele será punido por um ano de frequentar os estádios. Outros dois torcedores chegaram a entrar no gramado e foram encaminhados a Demafe.

Após 14 minutos, a arbitragem se reuniu com dirigentes e os capitães dos dois clubes. As partes deliberaram, e o árbitro suspendeu o jogo - tinham apenas mais dois minutos para jogar do acréscimo dado.

Vale destacar que o Atletiba 391 foi o quinto seguido de torcida única. Os clubes optaram por essa decisão após a confusão nas arquibancadas no clássico do ano passado, pelo estadual.

O primeiro clássico Atletiba terminou empatado em 1 a 1. O Coxa saiu na frente, com Kaio César, mas o Furacão empatou com Pablo.