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César: o ex-goleiro abandonado pelo CRB

Ídolo regatiano dos anos 70 e 80, hoje vive na informalidade; sofre com doença cardíaca e espera uma ajuda do clube

Por Júnior de Melo com Tribuna Independente 03/07/2021 12h43
César: o ex-goleiro abandonado pelo CRB
Reprodução - Foto: Assessoria
Uma das grandes alegrias dos ídolos do futebol é ser reconhecido pelo seu clube de coração. O torcedor faz sua parte, mas o ex-atleta possui necessidades fundamentais para sobreviver quando pendura as chuteiras. E o clube precisa apoiar esta situação. O CRB teve um grande goleiro nos anos 70 e 80. César foi um talento que poderia ir até a Seleção Brasileira. Hoje pede ajuda. O alagoano, de 67 anos, lembra com carinho quando foi sondado para convocação nacional, após grandes atuações no Corinthians. Hoje ele vive em situação difícil no município de Marechal Deodoro, onde possui uma barraca de lanches, e recentemente descobriu uma doença cardíaca. O maior desejo de César é ser reconhecido pelo CRB e receber alguma ajuda do clube regatiano. A reportagem da Tribuna Independente conversou com o ex-goleiro. César chegou no Galo em 1971 na base, foi destaque e integrou os profissionais já em 1973. Ficou no clube até 1981 quando foi negociado para o Corinthians. E nesses dez anos de Pajuçara, ele só teve o registro oficializado nos anos de 77 até 79. Os demais, o CRB não documentou o atleta. “Acho que o time tinha um fantasma. Eram dez jogando e um fantasma que era eu. Só hoje descobri que não era fichado no clube”, revelou. Carlos César de Oliveira, amigo de muitos ex-jogadores, virou tema de uma campanha de ajuda promovida pelo Coronel Walter Do Valle, da Polícia Militar. “Fiquei sabendo da situação dele e resolvi ajudar. São muitos ex-atletas e torcedores que podem colaborar para melhorar as condições de vida deste grande regatiano”, revelou o militar. “Eu hoje gostaria de conversar com o presidente do CRB (Mário Marroquim). Gostaria de ter a chance de me aposentar, com os documentos que joguei no CRB. Fui pego de surpresa com essa coisa no meu coração, e estou fazendo exames ainda. Com a Pandemia, minha atividade de lanches diminuiu muito e aumentou minha situação difícil”, lamentou César. CARREIRA César chegou ao Corinthians em 1981, após deixar o CRB. Com 1,75 de altura quando chegou ao clube, o arqueiro foi motivo de piada nas primeiras partidas em que vestiu a camisa alvinegra, mas deu a volta por cima com boas atuações durante a campanha vitoriosa na Taça de Prata de 1982. Deixou o time do Parque São Jorge uma temporada depois, com 58 jogos pelo time. “Antes do Corinthians eu tive sondagens do Flamengo e do Atlético-MG. Mas não fui por conta do treinador Jorge Vasconcelos que pediu ao presidente do CRB na época que me deixasse mais tempo no clube. Lembro que o Corinthians na época contratou mais de 30 jogadores. E eu fiz meu papel lá”. César fez parte da equipe corintina que tinha Sócrates, Zenon e Casagrande. Segundo os jornalista da época, o que mais pesou para que ele deixasse o Parque São Jorge foi a baixa estatura. Outros falam que foi uma falha. Aconteceu na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, contra o Grêmio. César se atrapalhou em uma defesa e o bandeirinha marcou um dos dois gols do rival no jogo decisivo (2x1 Grêmio). A bola não teria passado a linha do gol. A partir do lance duvidoso, o goleiro nunca mais atuou pelo Corinthians. Hoje ele vê os atletas profissionais ganhando bastante dinheiro. Mas na época dele não era assim. Segundo César, um grande marco na vida dos jogadores brasileiros foi a conquis- ta do tetracampeonato do mundo em 1994. “Depois daquela Copa tudo mudou. O mundo passou a valorizar mais os jogadores brasileiros. Os salários dispararam. Eu tinha um carro e vendi, preciso fazer cirurgia no dente. Mas eu me desliguei do futebol não porque não queria mais, mas porque o restaurante foi o mais próximo que eu fui chegando. Depois dos clubes em São Paulo, eu estive no ASA, depois no Flamengo do Piauí, voltei para o CRB. No CRB eu recebia um mês e o outro mês passava 45 dias para conseguir receber. Aí fui me desinteressando, me desencantando, e fui para outra coisa, e estou até hoje”, lembrou. O goleiro César foi titular do Corinthians na campanha da Taça de Prata de 1982, que levou o clube de volta à disputa da primeira divisão do nacional no mesmo ano, sendo titular durante o campeonato Brasileiro até a eliminação corintiana contra o Grêmio. A imprensa da época falava em César para a seleção. “Tive uma carreira bonita no futebol. Mas hoje vejo até a CBF ajudar os heróis do passado que honraram a camisa da seleção brasileira, mas não tiveram os prêmios e o dinheiro que os jogadores de hoje ganham. É muito difícil ser um ex-atleta e continuar bem sua vida. Mas eu estou caminhando. Ainda sofro muito com o CRB como torcedor (risos). É melhor estar em campo do que ficar na torcida. Em campo eu podia ajudar. Em casa na televisão só sofrimento”, exaltou César. CAMPANHA As ajudas para o ex-goleiro podem ser feita através de doações na conta bancária da esposa dele. Poupança na Caixa Econômica Federal, número 846360779-7, Maria dos Santos Lima. O QUE DIZ O CRB Nossa reportagem entrou em contato com assessoria de imprensa do CRB, que se prontificou a buscar uma reunião do presidente com César. Mas até o fechamento desta edição não tivemos resposta.