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A "cidade-resort" e o polêmico legado: Sochi atrai turistas e atenção da CBF

Apesar de críticas, autoridades garantem uso de todas as instalações das Olimpíadas de Inverno de 2014. Rede hoteleira tem grande crescimento e ajuda a trazer mais gente para o local

Por GloboEsporte.com 17/06/2017 09h55
A 'cidade-resort' e o polêmico legado: Sochi atrai turistas e atenção da CBF
Reprodução - Foto: Assessoria

Muita gente associa Sochi ao frio porque a cidade russa sediou as Olimpíadas de Inverno de 2014. Mas a realidade é ao contrário. Foi justamente por ter temperaturas mais amenas durante todo o ano, inclusive na estação mais fria, que ela foi escolhida para o evento - no inverno, raramente fica abaixo de 0°C, o que facilita a prática de esportes, e no verão varia entre 15°C e quase 30°C. Além disso, como o local é marcado por seu belo visual, misturando praias e montanhas com neve, ficou conhecido como a "cidade-resort". Atrai turistas de vários lugares, principalmente da própria Rússia.

Com cerca de 340 mil habitantes, Sochi é uma das quatro sedes da Copa das Confederações e também será palco da Copa do Mundo em 2018. O Estádio Olímpico de Sochi vai receber quatro jogos da competição que começa neste sábado: Alemanha x Austrália na próxima segunda-feira (Grupo B), México x Nova Zelândia no dia 21 (Grupo A), Alemanha x Camarões no dia 25 (Grupo B), e por último a semifinal entre o primeiro colocado do Grupo B e o segundo do A. Ou seja, se os alemães passarem em primeiro lugar, Sochi terá a honra de receber os atuais campeões mundiais três vezes - a grande maioria dos principais jogadores não foi chamada para o torneio, mas ainda assim trata-se de um time forte.

O que pesou para Sochi ser escolhida como sede tanto da Copa das Confederações como do Mundial foi o legado olímpico deixado pelos Jogos de Inverno de três anos atrás. Houve um altíssimo investimento para a construção do Parque Olímpico com todas as suas arenas, da pista automobilística que passou a abrigar o GP da Rússia de Fórmula 1, e do estádio - só ele custou cerca de R$2,5 bilhões aos cofres públicos. Mas esse legado é alvo de polêmica e discordâncias. A imprensa europeia tem criticado nos últimos anos a utilidade de várias das construções, poupando somente o autódromo por conta da força que ele ganhou com a F1.

A principal crítica é em relação ao estádio, que tem capacidade para quase 48 mil pessoas e foi construído para ser palco das cerimônias de abertura e de encerramento dos Jogos de Inverno. Depois, foi fechado para reformas, e mais outros muitos milhões foram gastos. Mas, após a Copa do Mundo, o que será dele? O único time da cidade, o Sochi, está apenas na terceira divisão da Rússia e não tem condição alguma de arcar com os custos para tê-lo como casa. Ainda assim, as autoridades locais descartam qualquer hipótese de "elefante branco".

- Após a Copa, o estádio e os campos de treinamento poderão ser utilizados como ponto de concentração da seleção russa. Também estão em andamento negociações com outros times. A Copa das Confederações e a Copa do Mundo vão servir como propaganda da nossa infraestrutura, e vamos convidar seleções estrangeiras para se concentrarem aqui - disse o secretário de Esportes de Sochi, Sergey Pilosyan.

- Planejamos que no estádio aconteçam jogos da primeira divisão russa durante o inverno, porque sabemos que nessa época não dá para fazer jogos em toda a Rússia. Em cidades como Novosibirsk e Ekaterinburgo frequentemente as partidas são canceladas devido às condições climáticas. E nós podemos dar o lugar para realizar jogos no ano inteiro. Achamos que alguns jogos do Campeonato Russo serão realizadas aqui - prosseguiu Pilosyan.

Brasil em Sochi na Copa do Mundo?

A seleção brasileira é uma das mais interessadas em ter Sochi como sede durante o Mundial de 2018. O técnico Tite e a CBF estão atentos às possibilidades, e São Petersburgo e Moscou também estão no páreo. O comandante viajará à Rússia para assistir às semifinais e final da Copa das Confederações e aproveitará para visitar as três possíveis sedes. Além de boas condições de treino, ele tem uma prioridade absoluta: estrutura para manter as famílias por perto. E isso Sochi tem.

Vale citar que o complexo esportivo fica no distrito de Adler, distante do centro de Sochi, e é um local bastante tranquilo, aparentemente com mais hotéis do que moradias. O Parque Olímpico é bastante visitado. E conta com uma ajudinha: bem ao lado dele, existe um parque de diversões.

O secretário de Esportes garantiu ainda que todas as outras arenas estão sendo utilizadas com frequência. Segundo ele, a Bolshoi Sports Palace, por exemplo, recebe jogos do time local de hóquei no gelo com público de até 10 mil pessoas; a Iceberg Sports Palace segue recebendo shows de patinação artística; e o Ice Cube Curling Centre é casa das seleções masculina e feminina da Rússia no esporte.

Turismo cresce após Jogos de Inverno

De acordo com a sub-secretária de turismo de Sochi, Yulia Malorodnova, sua pasta é um ponto forte local, especialmente no verão, desde os anos 1980. Nessa época, cerca de 5 milhões de pessoas visitavam a cidade por ano. Mas esse número diminiu após a queda da União Soviética, ocorrida em 1991. Entre 2007 e 2010, quando estavam sendo construídas as arenas olímpicas, eram cerca de 3,5 a 4 milhões de turistas por ano. E os Jogos de 2014 ajudaram a elevar os dados.

- Claro que após os Jogos aumentou o fluxo, principalmente graças ao fato de que em Sochi o setor hoteleiro se desenvolveu muito. O número de hotéis cresceu, surgiram mais 42. E muitos eventos acontecem aqui, como o Festinal de Cinema de Kinotavr, o encontro de líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático, o GP de F1... É um legado que recebemos da Olimpíada e que nos permite atrair mais visitantes do mundo inteiro. No ano passado recebemos em torno de 6,5 milhões de turistas - afirmou Malorodnova.

E o maior exemplo de sucesso do legado é o autódromo de Sochi, elaborado pelo famoso designer de circuitos Herman Tilke e construído literalmente entre as vias do Parque Olímpico. Não só pelo GP de F1. A pista também recebe outras corridas de carro, como o Ferrari Challenge, além de workshops e passeios turísticos.

- O parque é muito compacto, por isso foi uma tarefa difícil desenhar o circuito. Mas o resultado superou as expectativas. A pista é única, não tem nada igual no mundo. Foi feito um uso muito oportuno do espaço. É uma das nossas construções olímpicas mais utilizadas e o complexo automobilístico mais moderno da Rússia, talvez da Europa - disse a vice-diretora do autódromo, Maria Kustina.