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Dia Nacional do Folclore: pesquisador destaca necessidade de valorização cultural em AL

Neste sábado (22), quando se comemora a data, o D&A conversou com o jornalista João Lemos sobre a necessidade de valorizar as manifestações culturais em Alagoas e o que é preciso fazer para que elas não caiam no esquecimento

Por Tribuna Independente 22/08/2020 14h12
Dia Nacional do Folclore: pesquisador destaca necessidade de valorização cultural em AL
Reprodução - Foto: Assessoria
Pesquisadores são unânimes em afirmar que Alagoas é o estado brasileiro com a maior diversificação de gêneros para manifestações populares: são 14 festejos natalinos, dois de festas religiosas, quatro carnavalescos  (inclusive o grupo chamado  Mané do Rosário, que é endêmico), dois torés e três danças. Além disso, é uma das poucas unidades da federação brasileira que possui uma lei específica que classifica os mestres detentores desses saberes como patrimônio vivo e lhes garante uma espécie de pensão para que essa sabedoria para os mais jovens. Entretanto, apesar dessas vantagens e de se um motivo para comemorar neste sábado (22), Dia Nacional do Folclore, os mestres dizem que  há pouco para festejar. Os grupos sofrem e alguns até correm o perigo de  acabarem. O motivo seria a falta de interesse dos mais jovens em pesquisar e praticar os festejos. “Fazer cultura popular em Alagoas é uma luta sem fim. Temos que correr muito até encontrar quem queira patrocinar um grupo, ou, os mais abnegados colocam dinheiro do próprio bolso. Ai veja bem, os jovens não vão querer essa luta e piorou com essa tão internet. O folclore nãos e modernizou e não acompanhou os jovens. Quando não deveria ser assim. Afinal, Folclore são os costumes do povo e caracteriza a história e identidade de um estado”, resume dona Ana, mestra de um grupo de pastoril ( um dos poucos ainda  atuando em Alagoas). Para discutir esse assunto no dia em que se comemora os saberes de um povo e suas manifestações culturais, o D&A entrevistou o jornalista,  pesquisador e brincante João Lemos. Dono de um riquíssimo acervo que catálogo vários mestres pelos municípios alagoanos, ele partiu para prática e se tornou um brincante ( nome dado para a pessoa que brinca nos grupos de folguedos. Além disso, na intenção de valorizar e  chamar atenção para  os mestres ele está lançando um cd com músicas de guerreiro alagoano e outros festejos. Com foi seu contato com a cultura popular e o que você sentiu quando viu a primeira manifestação? Eu nasci no Centro e toda a minha infância foi no bairro do Prado com uma grande confluência dos bairros de Ponta Grossa e Levada. Se na Levada eu tinha a experiência religiosa com as missas dominicais na Matriz das Graças, entre o Prado e a Ponta Grossa eu recebi a experiência das folias de rua dos períodos do carnaval, São João e os folguedos de Natal. Meu contato com a cultura popular iniciou por aí. Estamos no final de semana que se comemora o dia do Folclore, as pessoas ainda usam esse nome, que é um pouco antiquado, alguns pesquisadores já descartam esse nome. Não acha que tá na hora de da outras roupagens, da cultura popular mostrar que ela não é uma coisa estática, antiga e só os mais velhos praticam? Eu particularmente não costumo usar essa nomenclatura, prefiro chamar de, “brincadeiras populares”, porque é o que de fato nossos grupos realizam, eles brincam ao tempo que se apresentam, enquanto para o público é uma apresentação, para eles são diversões.  Eu acredito que é possível sim um novo olhar sob essas brincadeiras, um olhar que não mude sua essência ao tempo que as transforme em atração paras as novas gerações. Isso é possível, e eu tenho procurado caminhar nesse horizonte, levando as novas formas de interação social sem tirar a essência, nem o brilho dessas brincadeiras. E confesso, que tenho sentido um retorno bastante positivo dos nossos Mestres, eles caminham em um ritmo eu venho os conduzindo para esse nosso olhar no mesmo ritmo que os vejo trilhar. Não interrompo, nem me atrevo a adiantá-los, no compasso do Mestre eu sigo e sob as suas orientações nós vamos mudando o jeito da juventude ver essas brincadeiras. Por falar nisso, por que você acha que a cultura popular é tão desvalorizada? Será que esse é um dos motivos para que os mais jovens não queiram participar? A questão é que as brincadeiras foram sempre vistas como cultura de 2º plano, num país que importa 24 horas desde sempre outras culturas legou muitas vezes a cultura local o esquecimento. Os mais jovens não se sentem desejosos de participarem porque a educação que eles recebem sobre a cultura popular é escassa, e quando ouvem é na infância sobre o saci, o curupira, etc. A partir daqui esses mesmos jovens quando chegam no ensino fundamental e médio não ouve mais falar sobre o assunto. Não existe uma continuação sobre o assunto, e é aí que inicia o desinteresse pela cultura popular. Não se ama o que não se vive. Nossa história cultural mostra que, pontualmente, temos nomes de homens que valorizam e pesquisam  nossa cultura, Théo Brandão lá trás, professor Pedro Teixeira, Ranilson França  mas é pouco. Porque será que isso não conteve coletivamente, como por exemplo, um grupo se dedicando a pesquisar esse assunto? Essas personalidades contribuíram muito para que as brincadeiras populares chegassem até hoje. Théo Brandão registrou o nascituro dessas manifestações, paralelo a este o Prof. Pedro Teixeira levou para as escolas esse pertencimento, já o Prof. Ranilson deu nome, o endereço e redirecionou os Mestres para o seu devido posto, de artistas e protagonistas dessas brincadeiras. Cada um em seu tempo deu sua contribuição, mais próximos de nós o querido Ranilson que nos legou muitas coisas boas, se hoje nós identificamos essas figuras do povo é graças a ele, graças à persistência de elevar o povo para o deleite dos notáveis da cultura. Qual sua análise no papel de instituições como o Museu Théo Brandão e a Asfopal, você não acha que faltam mais atividades para valorização e o fomento dos grupos de cultura popular? Olha o MTB tem dado uma importante contribuição no sentido de pesquisa e salvaguarda dessas memórias, precisam ainda redescobrir os meios de como trazer novamente os Mestres para dentro do Museu como espaço de repasse do saber. Quanto à Asfopal infelizmente tenho notado um despreparo muito visível por parte dos seus condutores, muitos Mestres nessa pandemia sem qualquer assistência. Vejo a atual gestão preocupada com a autopromoção e não com a protagonização dos seus associados, os poucos Mestres que ainda frequentam. Por falar em desvalorização, você foi além de um jornalista que faz matérias sobre cultura popular, para um brincante. Como foi passar esse limite, como foi essa transformação? O brincante alimenta o jornalista ou o jornalista alimenta o brincante? O jornalismo me levou para um grande reencontro. Eu tive na infância a presença de bois, quadrilhas, do coco e do carnaval. Mais perdi um pouco dessa referência na adolescência. Foi justamente a profissão que me levou a conhecer um grupo de Guerreiro, o São Pedro Alagoano da Mestra Marlene, a partir de uma matéria realizada com eles, não resisti. Realmente me entreguei à folia dessas brincadeiras e hoje sou com muito orgulho brincante do São Pedro Alagoano. O jornalismo também me levou a trabalhar na salvaguarda dessas memórias ao tempo de dá visibilidade a esses detentores do saber popular.