Entretenimento
Atrizes de 'Vazante' falam sobre violência contra mulher no filme
'Neste exato momento, tem uma mulher sendo morta, tem uma mulher sendo espancada', diz Sandra Corveloni
Em "Vazante", Sandra Corveloni interpreta uma mulher que "negocia" o casamento da filha de 12 anos com um homem de 40.
Ao comentar esta história que se passa em 1821, em Minas Gerais, a atriz chega rápido a 2017: "Quando as mulheres vão na delegacia dar queixa do marido que bateu, a primeira pergunta do delegado é: 'Mas o que você fez [antes de apanhar]?".
Também o elenco do longa, Jai Baptista completa: "Mesmo depois de ter denunciado, de o marido ter que manter a distância, ela ainda é agredida, invadida. E quando você diz 'não'? Mesmo sendo casada, ainda existe um estupro dentro de casa. E a agressão não é só de apanhar. Ela é verbal, sabe?"
"Vazante" marca o reencontro entre a diretora Daniela Thomas e Sandra Corveloni, no ar em "O outro lado do paraíso", nova novela da faixa das 21h da Globo. A parceria anterior das duas, "Linha de passe" (2008), codirigido por Walter Salles, rendeu à atriz um prêmio no Festival de Cannes.
RacismoOutro tema do filme é a escravidão – e o papel de Jai Baptista é o de uma escrava. No Festival de Brasília, ela ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante. Sobre o racismo da sociedade atual, diz:
"O tempo todo a pessoa quer te lembrar que você é negro. Parece que você não é humano (risos). E isso é sempre lembrado: 'Ah, você é uma mulher negra'. Não, eu sou mulher. Isso me desperta algo muito chato".Afirmando nunca ter sofrido racismo ("pelo menos não diretamente"), Jai cita que "tem muita gente ferida, muita gente machucada". "Vejo muitas pessoas que sofrem, sabe? E também sinto por elas".
Depois de críticas por parte da plateia em um debate no Festival de Brasília, em setembro, Daniela Thomas passou a conviver com vários comentários negativos acusando o filme de retratar superficialmente a escravidão e os personagens negros. Ao G1, ela disse que "não foi a intenção".
Sandra Corveloni afirma entender "que as pessoas não queiram se ver de novo nessa situação [negros retratados como escravos]".
"Compreendo a fúria de algumas pessoas. Porque, no primeiro momento, quando fico muito revoltada com uma coisa, fico furiosa também. Se eu vir um homem maltratando uma mulher no meio da rua, mesmo que eu não conheça, vou partir para cima dele."Ela defende que "Vazante" é "uma obra de arte para fazer esse retrato do nosso passado, da situação do nosso país, da diferença de classes ainda". "Essa coisa escrota, que é até hoje, a diferença social, a situação da mulher, a situação de quem não tem recursos para conseguir estudar e chegar a uma posição melhor."
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