Educação

Aos 62 anos, idosa crê no ensino para ter um futuro melhor

Ela pede mais atenção para sua escola, pois ainda chega a faltar material

Por Valdete Calheiros - Colaboradora / Tribuna Independente 04/11/2023 08h20 - Atualizado em 05/11/2023 10h04
Aos 62 anos, idosa crê no ensino para ter um futuro melhor
Maria Cícera frequenta escola há 2 anos e espera um futuro melhor - Foto: Divulgação

A estudante Maria Cícera dos Santos, 62 anos, mora no Ouro Preto, frequenta a Escola Municipal Luiza Suruagy e deposita no Ejai (Educação para Jovens, Adultos e Idosos) todas as suas esperanças para ter um futuro melhor.

Há dois anos na escola, está se familiarizando agora com os estudos.

Com a memória ainda fresca do tempo em que não sabia ler é uma das mais entusiasmadas e assíduas alunas do 3° ano do ensino fundamental.

“Percebo o quanto eu mudei. Meu jeito de conversar de me socializar com as pessoas. Hoje tenho mais conhecimento, esclarecimento. Só peço mais atenção para a minha escola. Vez ou outra falta algum material na escola”, detalhou, destacando o compromisso da maioria dos professores e dos funcionários da Luiza Suruagy e o zelo com a limpeza do local.

Segundo Maria Cícera, uma das falhas da unidade é não ter computador. Mas ela acredita que é uma situação temporária. “Dá prazer

estudar lá. Se algum aluno faltar, a escola já vai atrás saber o motivo, saber se pode ajudar. Indo às aulas, estou com meu futuro garantido. É uma escola grande, cheia de amor, com portas abertas a todos os alunos. A gente nem se considera aluno e professor. A gente é uma família”, relatou, emocionada.

Maria Cícera dá uma lição de vida ao afirmar que a idade nunca a impediu de sonhar. “Quando eu não sabia ler, eu achava que não tinha futuro. Hoje eu sei que tenho e ainda vou realizar o meu sonho de viver através da arte, das minhas pinturas e desenhos”, acrescentou.

Com menos idade e as mesmas perspectivas em relação aos estudos, a Tribuna também encontrou a aluna do Eja (Educação para Jovens e Adultos) Rita de Cássia Soares de Oliveira, 31 anos. Aluna da Escola Estadual Mirian Marroquim, ela deixou os estudos aos 14 anos, quando cursava a oitava série.

“Fiz a prova do Vem que dá tempo, conclui o ensino fundamental. Em seguida iniciei o Eja Módulo para fazer o ensino médio e concluir os estudos”, contou.

Rita de Cássia afirmou que é bastante cansativo frequentar as aulas no período noturno – das 19h às 22h – depois da jornada de trabalho. No entanto, faz com satisfação. “A conclusão dos estudos é a chave para abrir outras portas”, acredita a aluna.

Em Maceió, 2.800 estudantes são atendidos

Em Maceió, o Ejai atende a um total de 5.211 alunos. Sendo 2.801 no primeiro segmento (anos iniciais do Ensino Fundamental 1º ao 5º ano) e 2.410 no segundo segmento (anos finais do Ensino Fundamental 6º ao 9º ano).

O Ejai representa uma das sete modalidades educacionais definidas pelo Ministério da Educação com o intuito de garantir aos cidadãos brasileiros o direito a educação, mesmo que fora do período regular, acima de 15 anos completos.

A Secretaria Municipal de Educação de Maceió (Semed) garantiu que não existe número máximo de alunos a serem atendidos na capital. “Se houver demanda, a Secretaria irá atenderá nas 42 escolas distribuídas na região metropolitana”, afirmou a assessoria de comunicação da pasta.

A Secretaria de Educação de Maceió admitiu que a dificuldade é a permanência dos alunos para os 200 dias letivos. Para minimizar a evasão escolar, a rede municipal de ensino adota algumas ações como aplicação da proposta metodológica alinhada à Base Nacional Comum Curricular, com foco na metodologia de projeto que proponha problemas reais às necessidades dos estudantes e entrega de livros didáticos que apoiem o desenvolvimento escolar do estudante.

O responsável pela Coordenação Técnica de Jovens, Adultos e Idosos de Maceió da Semed, Ricardo Maciel, acrescentou que a pasta também prioriza a formação do professor para apoiá-lo no seu dia a dia em sala de aula, realiza atividades extraclasses, faz uso de componentes curriculares inovadores, como projeto de Vida e Educação, Mercado e Trabalho, que trabalham o empreendedorismo, educação fiscal e financeira.

Para se matricular, aluno precisa comparecer à escola

As pessoas interessadas em voltar a estudar e ingressar no Ejai devem procurar presencialmente as escolas municipais com documentos pessoais RG, CPF e certidão de nascimento ou casamento e comprovante de residência e três fotos 3x4.

Os alunos especiais devem apresentar laudo médico. Os interessados devem entregar também comprovante de escolaridade, caso não tenha esse comprovante, a Semed fará uma avaliação diagnóstica para equivalência de estudo. As matrículas para o ano letivo de 2024 já estão abertas.

A Secretaria de Estado da Educação conta com 29.680 alunos matriculados na Eja distribuídos em 293 unidades de ensino.

Segundo a educação estadual, uma das principais ferramentas para atrair alunos para a EJA é o programa Vem que dá Tempo que consiste na realização de uma prova para a certificação do ensino fundamental onde, se aprovado, o candidato ganha um benefício de R$ 500,00.

“Ao conseguir a certificação no ensino fundamental, o aluno é convidado a dar continuidade aos estudos na EJA Modular Ensino Médio.

Entre 2021 e 2022, o Vem que dá Tempo contemplou 42.566 pessoas com a certificação de conclusão do ensino fundamental.

Atualmente, temos 131 polos e, até julho deste ano, já certificamos quase 10 mil pessoas somente no ano de 2023”, afirmou a assessoria de comunicação da Secretaria Estadual de Educação.