Educação
Abrigo dos 'invisíveis': projeto trata dependentes em casas da Arquidiocese
'Notamos que essas pessoas não são enxergadas pela sociedade', diz professora
O uso de drogas lícitas e ilícitas é um problema crescente na sociedade brasileira. De acordo com o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II Lenad), realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2012, metade da população brasileira adulta – maior de 18 anos – consome alguma bebida alcoólica com frequência. Quando se trata de drogas ilícitas, os números são alarmantes. Segundo a pesquisa, mais de cinco milhões de adultos brasileiros já tiveram contato com cocaína. Mais de um milhão e meio já usaram crack. Entre adolescentes entrevistados com idades entre 14 e 17 anos, mais de 300 mil já usaram cocaína e mais de 100 mil fizeram uso do crack.
Em Maceió, com o objetivo de acolher dependentes químicos que utilizam drogas lícitas ou ilícitas, surgiram a Casa Betânia, voltada para o acolhimento de mulheres, no bairro do Benedito Bentes, e a Casa do Servo Sofredor, para o acolhimento de homens, localizada no bairro de Bebedouro. As duas casas foram criadas pela Arquidiocese de Maceió. Em 2010, surgiu o projeto de extensão Promoção de Saúde de Dependentes Químicos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que chegaria às casas para complementar o trabalho da Arquidiocese.
A professora da Faculdade de Medicina (Famed) da Ufal Tereza Angélica Lopes de Assis é coordenadora do projeto desde o início e explica que a extensão universitária é aberta também para estudantes de outras universidades. “Aceitamos alunos de todas as áreas”, afirma a docente.
Segundo Tereza Angélica, o projeto estimula os alunos a perceberem que existe uma população que não é enxergada no cotidiano e entenderem que a vulnerabilidade de ficar dependente de uma substância pode acontecer com qualquer pessoa, independente de nível de estudo, de salário, da cor ou do sexo. “A gente percebe que essas pessoas [que possuem algum tipo de dependência química] são invisíveis. Elas não existem para a sociedade. Essas pessoas só aparecem aos olhos do público em dois casos: ou quando morrem, ou quando matam”, avalia.
A docente afirma que Maceió não tem uma rede de saúde estruturada para receber adequadamente pacientes com dependência química e que, por isso, essas pessoas optam por internarem-se nas casas de acolhimento. “Aqui na capital não temos uma rede especializada com psiquiatras e psicólogos que acompanhem esses pacientes. O perfil dos internos nas duas casas é diversificado. A maioria é composta por pessoas mais carentes, mas não são todas. Tem pessoas que são de rua e tem pessoas que têm empregos”, diz.
A professora relata que o projeto acaba sendo uma troca de experiências entre os que participam da extensão e os internos. “Essas pessoas estão lá, mas também estão na casa de todo mundo. Dependência química não é exclusividade de casas de acolhimento. A sociedade ainda oculta muito esses casos e os alunos veem que não é só o morador de rua que é dependente”, afirma.
Tereza Angélica faz questão de ressaltar que o foco do projeto 'não é tratar a doença, mas sim focar na pessoa que está sendo tratada e perceber o que ela precisa'. “Trabalhamos com o ser humano, com um cidadão”, diz. Ela fala que docentes e alunos trabalham desde a prevenção do uso de drogas até palestras sobre cuidados com o corpo.
Cada interno da Casa Betânia e da Casa do Servo Sofredor, segundo a docente, passa por um tratamento de seis meses dentro das instituições, mas o tempo da estadia pode ser ampliado. A professora comenta também que apenas maiores de 18 anos podem ingressar nas duas casas. “Há pessoas de todas as faixas etárias, de 18 até 50 e poucos anos. Muitos desistem antes de completar os seis meses. Como é algo aberto, eles saem quando querem. É uma decisão pessoal”, afirma.
O álcool é a droga que predomina entre os internos das casas. De acordo com Tereza Angélica, ele é a 'porta de entrada' para outras substâncias. “Segundo estudos, o uso do álcool inicia-se na adolescência para muitos. Na Betânia e no Servo Sofredor, alguns usam só álcool. Depois do álcool, vemos uma incidência grande de dependentes de crack. Geralmente, as pessoas que são dependentes de uma droga ilícita, como o crack, também têm o vício do álcool”, diz.
A responsável pela Casa Betânia e pela Casa do Servo Sofredor, irmã Vera, afirma que a droga, para a ciência, causa uma doença progressiva no indivíduo que pode levar à morte, porém, para a fé, é possível vencer o vício desde que se aceite uma proposta de mudança de vida. “A parceria com a universidade é muito boa. O projeto da professora Tereza Angélica não é apenas levar informação científica, mas também trabalhar a humanização nos locais. Eles conhecem todas as histórias e, sem preconceito nenhum, trabalham com cada interno de maneira individual e coletiva”, diz a irmã.
A assistente social Lilian Almeida trabalha há quatro anos na Casa Betânia. No vídeo abaixo, Lilian fala sobre sua experiência no local:
“Perdi amigos por causa das drogas”
Nise Maria [nome fictício para preservar a identidade da entrevistada] tem 19 anos de idade e foi uma das pacientes da Casa Betânia. Ela completou o tratamento de seis meses recentemente e, hoje, se diz livre de qualquer vício. “Minha mãe faleceu quando eu tinha 11 anos. O meu pai é alcoólatra e eu passei a morar com ele. Aos 13, por causa de amizades erradas, eu comecei a tragar cigarro”, relembra.
A jovem diz que, depois do vício no cigarro, amigos a influenciaram a experimentar a maconha, droga que a fez ficar viciada. “Eles não sabiam que eu não fumava maconha. Fumei a primeira vez e gostei. Toda vez que eles iam fumar, eu ia fumar também”, relata.
Nise relata que, além do cigarro e da maconha, também ficou dependente de cocaína e de comprimidos. “Quando eu tinha 15 anos, eu conheci a cocaína. Foi em curtições. Quando eu saía com amigas, sempre havia pessoas erradas que faziam o uso de cocaína, aí eu comecei a cheirar e também não parei mais. Gostei e não parei mais”, conta a jovem.
Quanto a comprimidos, a ex-dependente afirma que fez uso de Clonazepam (também conhecido como Rivotril) e Diazepam (também conhecido como Valium). “Comecei a tomar esses comprimidos já recentemente, quando eu tinha 17 anos. Fiquei realmente viciada, a ponto de chorar bastante quando eu não tinha esses remédios”, diz.
Por conta das drogas, Nise relata que perdeu algumas amizades. “Quando acabou o tratamento e eu saí da casa, poucos restaram dos meus amigos. Uns morreram, outros foram presos. Eu, graças a Deus, saí das drogas sem ter nenhum problema com a Justiça”, afirma.
A jovem diz que conheceu a Casa Betânia quando já não suportava mais o uso de drogas. Ela conta que conversou com uma amiga sobre o desejo de parar com os entorpecentes e essa amiga falou sobre a casa de acolhimento.
“Foi muito difícil. No começo, eu não quis ficar, porque pensei que era um local de doidos. Tinha muitas pessoas mais velhas do que eu. Eu quis desistir duas vezes”, relembra. Nise conta que morava com uma madrinha na época da internação, porém a parente da jovem teve problemas de saúde e faleceu. “Antes de falecer, minha madrinha pediu para eu ficar na Casa Betânia. Foi por isso que eu fiquei”, diz. Ela também afirma que a assistente social Lilian Almeida foi uma das pessoas que a convenceu a ficar nos momentos em que pensou em sair.
“Eu queria ir embora não era nem por causa da falta da droga. Era por causa da convivência com algumas pessoas também internas lá. Houve algumas brigas. Eu nunca tinha convivido com um monte de mulher antes”, relata.
A jovem conta que sempre teve problemas respiratórios, como asma e sinusite, e, por causa do uso da cocaína, os problemas agravaram-se na época. “A ressaca da cocaína, quando o efeito da droga acabava, sempre me deixava com muita falta de ar e eu ficava com os pulmões doendo”, relembra.
Atualmente, a jovem está gestante e estuda para provas de concursos públicos. “Todo mundo tem seu tempo. A pessoa só muda se realmente tiver força de vontade para isso”, declara.
Por uma formação mais humanizada
Tiene de Mello Lopes cursa o 12º período do curso de Medicina da Ufal. Ela está há mais de dois anos no projeto Promoção de Saúde de Dependentes Químicos. A discente diz que a visão que tinha sobre usuários de entorpecentes mudou por causa da extensão universitária. “A gente fala hoje – e tem essa demanda – de uma formação mais humanizada para profissionais da saúde. Eu acredito que comecei a sentir essa formação humanizada quando comecei a trabalhar com a dependência química”, afirma.
A aluna de Medicina relata que, logo quando entrou no projeto, a primeira coisa que mudou na sua forma de pensar foi o medo. “Não tem jeito. Existe um preconceito que nos deixa esquivos com essa situação. Mas quando você começa a frequentar as casas e vê que os dependentes não são aquilo que a TV retrata muitas vezes, de pessoas agressivas e com aspecto de descuido total, você começa a enxergá-los sob outra ótica”, declara a universitária, que frequenta as duas casas, mas ressalta que vai mais à Casa Betânia.
A futura médica conta que promove palestras nas casas e que, através dessas apresentações, procura levar informação e possibilidade de prevenção ao uso de substâncias aos internos, além de alertar sobre necessidades de tratamentos. “Além disso, falamos sobre hipertensão, diabetes e sempre que possível fazemos a aferição de pressão arterial. Também fazemos testes de glicemia capilar para identificar possíveis diabéticos”, conta a aluna.
O autoexame de mama, de acordo com Tiene, também é ensinado para as mulheres. “Quando identificamos que um interno precisa passar por um determinado tratamento, fazemos o encaminhamento dele para uma unidade de saúde”, afirma.
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são encontradas nas duas casas. A estudante relata que o índice de sífilis é alto entre homens e mulheres. Segundo a jovem, quando a pessoa ingressa em uma das casas, o futuro interno já é submetido, pelas secretarias das próprias instituições, a um teste rápido para detectar HIV e hepatite dos tipos B e C.
Tiene de Mello destaca que, muitas vezes, as questões socioeconômicas e psicossociais que o indivíduo está inserido são fatores observados no projeto que levam à dependência química. “Você começa a perceber que a questão vai muito além do 'ah, ele é viciado em uma substância'. Às vezes isso é um detalhe de uma questão muito maior”, diz.
Segundo a universitária, reiterando o que afirmou a professora Tereza Angélica, o número de pessoas dependentes do álcool é extenso nas casas. “Quanto aos homens, observamos que existem fatores deflagradores que levam ao alcoolismo. Em um momento de dificuldade, como uma situação de desemprego ou divórcio, por exemplo, os indivíduos acabam partindo para um consumo exagerado”, afirma. A estudante completa dizendo que o momento de fraqueza do indivíduo pode iniciar o vício, mas a permanência no vício depende de questões bioquímicas e sociais.
A universitária faz estágio em um posto do Programa de Saúde da Família (PSF) do município de Marechal Deodoro e afirma que, depois que o projeto entrou na sua vida, um dos benefícios que ganhou foi aprender a identificar os usuários de entorpecentes. “É notável como você começa a atender mais usuários. Eles não estavam ali antes ou você não os reconhecia? Eu tenho certeza que eles não eram reconhecidos. A gente tenta ter ciência da forma da doença para que possamos reconhecê-la quando estivermos diante dela, e com um dependente químico não é diferente. Se você não tem contato ou informação sobre aquilo, você não vai reconhecer quando estiver diante de um”, declara a estudante.
“Já tinha perdido a noção da vida”
“Cheguei na Casa Betânia em situação de rua, muito debilitada. Tinha descoberto pouco tempo antes que era soropositiva”, afirma Marie Madalena [nome fictício para preservar a identidade da entrevistada].
Marie, de 26 anos de idade, é ex-interna da instituição, porém ainda vive na casa. “Ganhei uma residência de um programa do governo e ela só vai sair em novembro deste ano ainda”, diz. Ela relata que, ao descobrir que era portadora do vírus HIV, antes de fazer parte da Betânia, pensou que a vida dela não teria mais solução. Ela tentou entrar na casa no início de 2016, porém conta que o local estava lotado, então foi a Arapiraca para tentar conseguir tratamento para o HIV.
“No dia 22 de fevereiro do ano passado, apareceu a vaga na Betânia. Desde então, o pessoal aqui da casa me encaminhou para fazer o tratamento e tomo as minhas medicações”, diz. Marie afirma que chegou à casa sem documentação alguma e que foram as pessoas da instituição que a ajudaram a tirar seus documentos. “Cheguei aqui uma pessoa desconhecida pela sociedade”, conta.
Segundo a ex-interna, a adaptação para viver dentro da Casa Betânia foi difícil, pois, ‘para uma pessoa que vive na rua, viver dentro de um muro é complicado’. “Quando a gente vê que é para uma necessidade, a gente aprende a lidar com isso”, declara.
Marie conta que já pensou em desistir da internação algumas vezes, porém sempre lembrava que tinha HIV e precisava do tratamento encaminhado pela Betânia. “Já usei crack, cigarro, maconha, cola, loló e cocaína. Tinha de tudo um pouco. Eu já tinha perdido a noção da vida”, relembra. Ela conta que costumava usar os entorpecentes em frente a um restaurante em Maceió. Segundo Marie, o dono do estabelecimento conversou com ela e falou que existia um lugar chamado Betânia, onde ela poderia tratar-se.
Por causa do uso de entorpecentes, hoje, Marie responde pelo crime de tráfico de drogas na Justiça. “Minha audiência é no ano que vem. Mas, graças ao bom Deus, estou correndo para mostrar que era usuária e não traficante como constataram. Quero provar minha inocência”, diz.
A ex-dependente afirma que os planos para o futuro são ter a casa própria e fazer trabalhos voluntários para ajudar a tirar pessoas do mundo das drogas. “A Casa Betânia me fez ver a vida com outros olhos”, afirma.
Meditação no combate à abstinência
Graduado em psicologia pelo Centro Universitário Cesmac, Josaias Soares participa do projeto Promoção de Saúde de Dependentes Químicos há três anos. Soares conta que começou no projeto na Casa do Servo Sofredor, e agora frequenta mais a Casa Betânia. Ele explica que já há profissionais de psicologia que são funcionários das próprias casas. “No projeto, o que eu faço é aplicar uma prática de meditação, que visa uma melhora para a autoestima e abre um espaço para a espiritualidade”, afirma. O psicólogo diz também que a meditação é um remédio certo para um mal que atinge muitos internos: a ansiedade causada pela abstinência.
O psicólogo é funcionário da Ufal, mas, segundo ele, pode-se dizer que o trabalho que faz nas casas de acolhimento é voluntário, pois, no projeto, 'exerce a profissão para um bem maior'. “Tive conhecimento do projeto no Núcleo de Saúde Pública (Nusp) da Ufal. Fui convidado pela professora Tereza Angélica e acabei me ajustando bem a esse público especificamente. Acontece uma troca entre eu e os internos”, conta o profissional, que participa do projeto uma vez por semana.
De acordo com Soares, um dos principais benefícios que a meditação traz aos internos das casas é a valorização da pessoa. “A sociedade exclui essas pessoas, e, com este trabalho, passamos a valorizá-las, ou seja, ver a pessoa como pessoa. Essa visão, dentro de um trabalho de introspecção, melhora a autoestima e a autoimagem”, relata. O psicólogo diz que, antes da prática meditativa, é feita uma roda de conversa de temas variados. “Não é proibido falar sobre drogas, mas é bom que não se fale nesse assunto. Eu prefiro conduzir a roda de conversa para outros temas, como relações familiares, por exemplo”, diz. Porém o profissional afirma que, na maioria das vezes, é inevitável que o assunto apareça.
Soares diz que, na roda de conversa, existe uma dinâmica de apresentações e, depois disso, os internos falam livremente. O psicólogo explica como acontece, atualmente, a prática meditativa na Casa Betânia. “Após a roda de conversa, inicia-se a meditação com um relaxamento, onde a interna entra em contato com o corpo. Ela vai sentir cada parte do corpo para perceber o corpo como um todo. E a partir daí se dá início à meditação com visualização criativa. Eu vou falando e a pessoa tenta imaginar aquilo”, diz.
Segundo Soares, um dos resultados da prática da meditação é a melhora no sono. “Muitas internas relatam que passaram a dormir melhor sem a necessidade de medicamentos, como o Rivotril, por exemplo”, afirma. O psicólogo diz que, com a retirada da droga, a tendência é o ex-dependente químico ter um aumento do nível de ansiedade. “A meditação ajuda, justamente, a diminuir essa ansiedade. A prática também diminui os efeitos nocivos do estresse. Como consequência, a pessoa relaxa e dorme bem melhor”, relata.
Por causa da falta da droga, Soares diz que muitos internos desenvolvem distúrbios respiratórios. “Na meditação, trabalhamos muito também a questão da respiração. A ansiedade, no caso dos internos, é provocada por medo ou raiva. Estas duas emoções impedem o processo respiratório de fluir com naturalidade. Na verdade, se reaprende a respirar. Se desaprende com o uso de drogas. A ansiedade em excesso faz a pessoa respirar só para se manter viva, mas a função da respiração não é apenas manter a pessoa viva. É manter viva e bem”, conclui.
Apesar de todo o benefício da meditação, Soares diz que a única contraindicação da prática é para pessoas que possuam esquizofrenia. “Elas não têm como entrar em um quadro de relaxamento, porém, nas duas casas de acolhimento, ainda não vi nenhuma pessoa com esse tipo de distúrbio. O que tem são algumas pessoas com transtornos por causa da ausência da droga, mas são quadros de abstinência”, afirma.
A enfermeira Layanne Crystina Bandeira está há um ano no projeto Promoção de Saúde de Dependentes Químicos. No vídeo abaixo, ela fala um pouco sobre sua experiência na extensão universitária, focando o discurso também nas rodas de conversa:
Além dos muros da universidade
A estudante do 3º período do curso de Serviço Social da Ufal Aylla Iana Omena entrou no projeto Promoção de Saúde de Dependentes Químicos com o objetivo de explorar outros âmbitos além da sala de aula. “Eu me interessei em entrar para o projeto para vivenciar o cotidiano dessas pessoas que necessitam de apoio. Estou na extensão há quase dois anos e trabalho junto com os outros membros na elaboração das ações que são feitas na casa do Servo Sofredor, no Bebedouro”, afirma.
Aylla Iana diz que confecciona materiais que auxiliam na intervenção do projeto e também ajuda como intermediária, além de participar da produção teórica feita a partir da análise e dos resultados colhidos pela equipe de estudantes e profissionais que atuam na casa do Servo Sofredor.
A universitária afirma que a experiência como integrante do projeto proporciona a ela benefícios pessoais e profissionais que vão ajudá-la quando entrar no mercado de trabalho. “A prática e o contato direto com o público que irei trabalhar futuramente fez meu olhar ficar sensível para o aspecto humano, superando o estigma do dependente químico. Muitas vezes, a sociedade trata a dependência química, assim como outros problemas sociais, de maneira recortada e fragmentada, sem analisar, holisticamente, aspectos sociais, culturais e, principalmente, humanos que envolvem os dependentes”, diz.
A estudante da área das ciências humanas diz que todos os envolvidos no projeto ganham por estar em contato com os internos da casa do Servo Sofredor e conhecer 'suas lutas e necessidades'. “Essa vivência desenvolve no futuro profissional um olhar mais atento às especificidades dos públicos que necessitam dos seus cuidados”, avalia.
Aylla explica que o trabalho feito na casa do Servo Sofredor é repleto de obstáculos, pois, segundo a estudante, não existe uma fórmula certa para lidar com seres humanos, além do que não há certeza da superação do vício. “Trabalhamos através de estratégias, como a de redução de danos, tendo como finalidade a melhoria da qualidade de vida individual dos internos. Nas intervenções, trabalhamos os aspectos do bem-estar e do autocuidado, por exemplo”, ressalta.
No início, Aylla relembra que teve um pouco de preconceito e receio de entrar no projeto. “Duvidava da minha capacidade para lidar com esse público, assim também como temia, erroneamente, os internos, graças ao estigma que acompanha o dependente químico”, diz. Porém a estudante conta que, após a primeira visita na instituição, a sua forma de pensar foi modificada. “Logo no começo, já pude ter contato com diversos depoimentos, dos mais tristes até os mais otimistas”, recorda.
A futura assistente social confessa que, hoje, se sente parte do projeto e se emociona com as histórias de cada ‘paciente’. “Há, nesses indivíduos, além da dependência, sonhos, opiniões, curiosidades, vontade de vencer e uma história de vida que não cabe a ninguém julgar. Esse olhar para as particularidades de cada um e a abordagem mais humanizada na prevenção e na promoção de saúde transformaram a minha pessoa para sempre e, consequentemente, irá transformar minha prática profissional no futuro”, finaliza.
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