Educação
Noventa e dois casos de indisciplina escolar são registrados em Alagoas
Número de ameaças e agressões notificado pelo BPEsc neste 1º semestre caiu 59% comparado ao mesmo período de 2016
Ameaças, agressões e bullying são algumas das características de um comportamento violento em crianças e adolescentes no ambiente escolar. Segundo especialista, os sinais de indisciplina têm começado cada vez mais cedo, ainda na primeira infância. Segundo o Batalhão de Policiamento Escolar (BPEsc) foram 92 ocorrências registradas nos primeiros meses deste ano em escolas de Alagoas.
O número representa um avanço, garante o Tenente Coronel Silvestre Soares, comandante do BPEsc. No mesmo período do ano passado, as ocorrências escolares somaram 227 registros. Uma queda de 59%. Para o comandante ainda não é possível identificar as causas da redução no número de ocorrências atendidas.
Ele garante que o trabalho precisa ser constante. A prevenção é uma ferramenta empregada para ajudar no combate à violência escolar.
“Temos um Núcleo de Articulação com a Comunidade Escolar (Nace), através do qual programa visitas, realiza palestras de ações contra as drogas e contra o bullying, pela boa convivência nas escolas. Mantemos interação permanente com o Ministério Público e os órgãos ligados a infância e a juventude, incluindo gestores de educação em nível municipal e estadual, através das ações do Fórum de Prevenção, a fim de melhorar as ações de cada órgão. Pretende-se ampliar as ações do Nace com medidas de orientação quanto ao controle do ambiente escolar, a fim de minimizar os conflitos nas escolas.
O comandante do BPEsc, tenente-coronel Silvestre Soares, destaca que a guarnição policial é acionada na ocorrência de crimes.
“O atendimento é feito pela presença policial, com abordagens nos espaços suspeitos das escolas e revistas sobre os pertences dos pessoas suspeitas, a fim de evitar o agravamento da situação, e orientação aos ofendido a registrarem a ocorrência na delegacia, além de ser feito o boletim de ocorrência. Há presença de crimes contra o patrimônio público e privado e ameaças entre alunos e destes contra trabalhadores das escolas”, ressalta.
Faltam estatísticas sobre o assunto nas Secretarias de Educação do Estado e do Município de Maceió e no Sindicato dos Professores do Estado de Alagoas (Sinpro). Segundo o presidente do sindicato, Eduardo Vasconcelos há muita subnotificação.
“Ocorre agressão verbal, em tom de ameaça mesmo. Há agressões físicas. Agressões e ameaças pelas internet. Quando ensinava num colégio, um aluno chegou a levantar para me agredir fisicamente. Um caso recente numa escola particular no Graciliano Ramos ocorreu um caso onde um aluno com histórico de violência ameaçou todos os professores pelo Facebook, houve até registro de Boletim de Ocorrência (B.O.)”, afirma.
Vasconcelos acredita que a indisciplina dos alunos começa com a falta de comprometimento dos pais na educação dos filhos. E aponta o que considera as causas do problema.
“Falta de valores, desintegração familiar, o professor hoje tem que ser pai, mãe, psicólogo, policial, em último caso ele ensina.”
Problemas são pontuais e resolvidos no ambiente escolar, diz Semed
Segundo a Secretaria Municipal de Educação (Semed), nas escolas da capital não há registros de demandas. O órgão afirma que os problemas são pontuais e resolvidos no ambiente escolar.
“Pelo fato de ter em sua maioria alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, do 1º ao 5º ano, não há registro de demanda deste tipo na Secretaria Municipal de Educação (Semed). Quando ocorrem casos de indisciplina, a própria escola resolve diretamente com os pais ou com o Conselho Tutelar da região. Quando necessário, o caso é informado ao Batalhão de Policiamento Escolar”, afirma a Semed por meio de assessoria de comunicação.
Apesar de não possuir números, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) afirma que ocorrem episódios envolvendo furtos, bullying, “cyberbullying” e depredação do patrimônio público, por parte de alunos. Principalmente nas escolas da rede situadas em Maceió.
A Seduc esclarece que tem trabalhado para ‘reduzir ou minimizar esses casos’ combatendo a violência por meio de projetos que envolvam os estudantes.
“É realizado um trabalho de prevenção constantemente, tais como palestras que discutem diversos temas como: direitos e deveres dos alunos, justiça e meio ambiente, cidadania, combate ao uso de drogas. Também acontecem oficinas e passeatas de mobilizações pela paz sempre em parcerias com diversas instituições, entre elas: Conselho Tutelar, Batalhão Escolar, Ministério Público, Família, Esmal [Escola Superior da Magistratura de Alagoas], dentre outros. As ações também envolvem a comunidade em geral.”
“Criança precisa aprender a conhecer suas dores para saber lidar com elas”
A psicopedagoga Patrícia Santos explica que diversos motivos desencadeiam o comportamento violento em crianças e adolescentes. Pode ser devido a traumas não superados, como separação dos pais ou luto, e ainda pela falta de habilidade em expressar as emoções.
“A criança precisa ser ensinada a conhecer suas dores, suas emoções para saber lidar com elas. Às vezes ele se torna um agressor porque não conhece seus sentimentos. Toda emoção está ligada a uma nuance na primeira infância. Quando você para e analisa caso a caso sempre tem algum indício que tem algo na família que desencadeou o comportamento”, reforça
Outro fator apontado por Patrícia como motivo para a indisciplina é a predisposição genética a transtornos comportamentais. Uma espécie de herança familiar.
“São fatores biológicos herdados geneticamente. Quando explicamos o comportamento, os pais dizem que eram assim também e minimizam o problema. Algumas possuem Transtorno Opositivo Defensivo, que é aquela criança desafiadora que não respeita hierarquia, que bate de frente com tudo e todos. Mas é preciso lidar com as dificuldades da criança ou adolescente”, destaca.
Segundo a especialista, é preciso um trabalho conjunto entre pais, professores e escola. Quando há apoio psicológico na própria unidade de ensino o direcionamento é feito de forma mais rápida. “Sempre explico aos pais: vamos ajudar seu filho para ele não passar por isso.”
Já para os casos em que a escola não oferece esse serviço é possível que a família solicite apoio no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), serviço ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Alagoas, são 55 unidades de referência espalhadas pela capital e interior.
“É preciso um acompanhamento para conseguir identificar se a causa é no ambiente familiar, escolar, doméstico. É interessante a família sempre estar em parceria com o professor. Pautado na relevância do fato, os professores devem solicitar aos pais e os pais procurar um Caps próximo, que tem equipe multidisciplinar para fazer as intervenções. Caso a família não tenha condições ou não compareça, é necessário acionar o Conselho Tutelar”, explica Patrícia.
Patrícia reforça o alerta para os sinais, que começam cada vez mais cedo, ainda na primeira infância, período de 0 a 6 anos de idade.
“Infelizmente cada vez mais na primeira infância vem ocorrendo esse fato [comportamento violento]. As crianças estão chegando com um comportamento atípico, sem seguir regras, sem seguir comandos, com resistência para pedir desculpas. A gente percebe que aparece na educação infantil e vai evoluindo, se tornando uma patologia.”
A especialista diz que é comum atualmente um conflito na criação dos filhos, o que influencia consideravelmente no comportamento deles. Além disso, a falta de referência familiar prejudica o desenvolvimento infantil.
“A geração Y é muito criativa. Então, cada vez mais os pais dessa geração acreditam no diálogo. Mas muitas vezes a criança não é criada pelos pais. Muitas vezes a criança é terceirizada para os avós, babá, creche. Termina ficando sem referência familiar, sem ter um exemplo a seguir, sem noções de rotina, valores. Se não tem um exemplo, a criança vai ter vários parâmetros de comportamento”, pontua.
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