Economia

Dados do IBGE apontam que brancos ganham 55% a mais que negros em Alagoas

Diferença de rendimentos está em desigualdade no acesso ao mercado de trabalho

Por Valdete Calheiros / Tribuna Independente 20/11/2025 09h05 - Atualizado em 20/11/2025 09h10
Dados do IBGE apontam que brancos ganham 55% a mais que negros em Alagoas
Pretos e pardos ainda lutam para terem salários equiparados aos dos brancos no Brasil e em Alagoas - Foto: Freepik

A diferença média de rendimento mensal entre brancos, negros e pardos é enorme em Alagoas. De uma forma geral, sem levar em conta a raça, os rendimentos mensais de um alagoano giram em torno de R$ 2.493,00.

Tendo como base a diferenciação entre raças, a população branca chega a receber uma estimativa de R$ 3.406,00 por mês. Enquanto a população parda recebe por volta de R$ 2.174,00 e a população preta recebe em torno de R$ 2.052,00.

Desta forma, em Alagoas, uma pessoa branca ganha 57% a mais que uma pessoa parda e 66% a mais que uma pessoa preta.

Os dados são referentes ao 3º trimestre deste ano e foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Continua, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em Maceió, a diferença é ainda maior. Para a população em geral, a média de rendimentos mensal é de R$ 3.258,00. Fazendo o recorte por raças, uma pessoa branca recebe cerca de R$ 4.775,00. Uma pessoa parda recebe R$ 2.713,00 e uma pessoa preta recebe R$ 2.326,00.

Assim, em Maceió, uma pessoa branca ganha 76% a mais que uma pessoa parda e 105% a mais que uma pessoa preta.

O supervisor de Disseminação de Informações da Superintendência Estadual de Alagoas do IBGE, Neison Cabral Ferreira Freire explicou que neste recorte estão todas as pessoas maiores de 14 anos que trabalham e recebem rendimentos, sejam trabalhadores autônomos, registrados em CLT ou qualquer forma de rendimento.

Na avaliação do sociólogo Alla Carlos, a diferença de rendimentos está na desigualdade do acesso ao mercado de trabalho. Segundo ele, o Brasil é um país, ainda hoje, excludente com a população negra.

“Séculos de escravidão resultaram em relações sociais de racismo. Esse racismo se traduz na exclusão social dos negros a uma educação mais qualificada e, consequentemente, aos postos mais qualificados no mercado de trabalho”, explicou.

Os números em Alagoas traduzem o mesmo cenário que o encontrado no restante do país. Conforme o IBGE, negros e pardos são maioria no mercado de trabalho, mas rendimentos de brancos são 61,4% maiores.

Apesar de corresponderem a maioria da população ocupada em 2022, com 54,2% do total, pretos e pardos tiveram rendimentos menores em comparação aos trabalhadores brancos, que ocupam a fatia de 44,7% do mercado de trabalho.

O rendimento-hora da população ocupada branca (R$ 20,10) foi 61,4% maior que a de pretos ou pardos (R$ 11,80), de acordo com dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2023, publicada pelo IBGE.

Ao observar o rendimento médio real, a disparidade é ainda maior. Os brancos (R$ 3.273) ganharam 64,2% a mais que os pretos ou pardos (R$ 1.994) no período avaliado.

Por nível de instrução, a maior disparidade do rendimento-hora estava no nível superior completo: R$ 35,30 para brancos e R$ 25,70 para pretos ou pardos, diferença de 37,6%.

Quando analisado o recorte da população ocupada por atividade econômica, é perceptível uma diferença racial entre os segmentos de menor rendimento.

Negros e pardos têm maior proporção em áreas como serviços domésticos (66,4%), construção (65,1%), agropecuária (62%) e transporte, armazenagem e correio (57%).

Já a proporção de trabalhadores brancos é maior nas categorias de administração pública, educação, saúde e serviços sociais (50,23%) e informação, financeira e outras atividades profissionais (56,6%).

A proporção de trabalhadores informais também ilustra a diferença no mercado de trabalho entre os grupos. Segundo dados do IBGE, 40,9% da população ocupada esteva na informalidade em 2022.

Neste universo, a proporção de mulheres pretas ou pardas (46,8%) e homens pretos ou pardos (46,6%) superava a média nacional, enquanto a de mulheres brancas (34,5%) e homens brancos (33,3%) se mantinha abaixo.