Economia

Azeite tem alta de preço de 50% nos últimos dois anos

Condições climáticas adversas nos países produtores são sentidas nas prateleiras dos supermercados em Maceió

Por Valdete Calheiros - colaboradora com Tribuna Independente 26/08/2023 09h50
Azeite tem alta de preço de 50% nos últimos dois anos
Preço do azeite de oliva bate recordes nunca vistos no país e pesa no bolso do consumidor, que busca alternativas - Foto: Edilson Omena

O preço do azeite de oliva bateu recordes nunca vistos antes e a redução no valor do produto não deve acontecer tão cedo. Em alguns supermercados em Maceió, é possível encontrar o vidro, com meio litro de azeite, por R$ 30 ou até R$ 40.

A técnica de enfermagem Patrícia Cardoso da Silva, 35 anos, contou que comprava o azeite apenas para pincelar a finalização de um prato, em especial, os de origem na culinária italiana como lasanhas, pizzas e macarronadas. “Já era difícil consumir em uma salada. Com um preço desse, fica praticamente inviável. O azeite tá valendo ouro”, comparou.

Na avaliação do economista Renan Laurentino, o azeite de oliva sempre foi um condimento, um oleaginoso caro no Brasil pelo simples fato de ser importado. Ao preço final que chega no bolso do consumidor estão acrescidos alguns impostos, o próprio custo logístico do transporte do produto que vem da região do mediterrâneo Portugal, Espanha, Tunísia, Grécia. “O valor nunca foi acessível. Mas, nos últimos anos, está com um valor cada vez mais salgado”, resumiu.

Segundo levantamento da empresa de inteligência de mercado Horus, a partir do acompanhamento de mais de 40 milhões de notas fiscais por mês, o preço médio do azeite virgem nos supermercados brasileiros estava em R$ 20 em julho de 2021, subindo a R$ 25 em igual mês de 2022 e a R$ 30 este ano.

Trata-se de uma alta de 50% do preço médio do produto em dois anos, comparado a uma inflação acumulada de 15% neste período, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Essa alta é sentida pela corretora de imóveis Luana Carvalho, 25 anos. Ela nunca comia pizza sem azeite. Era o toque final, contou ela. “Agora no lugar do azeite, até ketchup cai bem”, brincou.

Com estoques globais nas mínimas históricas, projeções ruins para a próxima safra na Europa e a expectativa de avanço das mudanças climáticas, os preços altos devem ser o “novo normal”, avaliaram os economistas ouvidos pela Tribuna Independente.

Os principais países exportadores de azeite tiveram um período de crescimento [das azeitonas, os frutos das oliveiras] muito, muito seco. As árvores não tiveram umidade suficiente e muitas delas não produziram nenhum fruto.

“A olivicultura é sensível. E os fatores climáticos acabam encarecendo o produto. É a condição da lei da oferta e da procura”, frisou o economista Renan Laurentino.

A alta nos preços atinge não apenas o azeite de alta qualidade, mas todo o azeite que está nas mãos dos produtores. Então há uma preocupação de que, com o passar do ano e até que comece a próxima safra, em outubro, os estoques de azeite possam chegar a zero nos países europeus.

“A partir de 2019, a olivicultura começou a ser praticadas no Brasil. Coisa recente ainda. As oliveiras demoram muito a ficar no ponto. Tem a característica da acidez. O solo do mediterrâneo é um, o brasileiro é outro. Precisa de correção no solo no Brasil que tem um custo elevado. É uma alternativa, mas a longo prazo”, explicou Renan Laurentino.

A receita para driblar a alta no preço do produto? O economista Renan Laurentino tem na ponta da língua. “Como estamos no Nordeste e a maioria das nossas peixadas é feita com leite de coco, não sofremos tanto assim. Apenas em pratos muito específicos que agradam uma camada mais sofisticada da sociedade é que quase não há substituição, como um prato à base de bacalhau ou um molho pesto”, exemplificou.

Com os problemas climáticos nos principais países produtores da Europa, o mercado se voltou para produtores alternativos, como Tunísia, Turquia, Marrocos e Argélia.

No entanto, diante da escassez global, a Turquia anunciou a proibição da exportação de azeite de oliva até novembro, quando começa a próxima colheita, com objetivo de controlar a alta de preços no mercado interno.

Brasil é o 2º maior importador do produto, atrás apenas dos Estados Unidos


O Brasil é o segundo maior importador de azeite do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e à frente de Japão, Canadá, China e Austrália – os seis países e a União Europeia (um bloco de países) representam juntos quase 80% das importações globais do produto, segundo o Conselho Oleícola Internacional.

Conforme o conselho, os brasileiros consomem 0,4 kg de azeite por pessoa por ano, comparado a 11,5 kg na Grécia, 10,6 kg na Espanha e 7,5 kg na Itália, os maiores consumidores de azeite per capita do mundo.

O economista Jarpa Aramis Ventura de Andrade ensinou que a produção brasileira de azeite não chega a 1% do consumo local do produto, o que torna o mercado brasileiro bastante suscetível às variações de preços globais.

“Majoritariamente importamos esse produto. Sessenta e seis por cento do azeite produzido no mundo sai da Europa, que está sofrendo problemas climáticos, principalmente da seca. Sem chuva, sem água, afeta a produção. O cenário só vem piorando, então, as expectativas do retorno de uma produção estável não são nada favoráveis”, considerou Jarpa Aramis.

Ainda segundo o economista, restaurantes que servem pratos que têm o azeite como um dos ingredientes principais estão tentando dar conta do preço elevado para não repassar aos clientes. Por sua vez, as pessoas também consomem o azeite em suas residências.

“Numa tentativa de arrumar soluções, as empresas estão com posicionamento estratégico como ofertar o azeite em embalagens menores. O malabarismo que o consumidor faz ao fazer a feira pode passar pela substituição do produto. O óleo de soja é o que mais se aproxima do azeite. Vamos ter mais gente consumindo óleo de soja”, acredita o economista que lembrou que recentemente passamos pelo caso clássico da carne, do arroz, do feijão. Agora é a vez do azeite.

ÓLEO DE SOJA

Enquanto o azeite fica cada vez mais caro, o oposto acontece com o óleo de soja, que registra queda de preços de 37% no acumulado de 12 meses até julho, segundo o IBGE.

Com a safra recorde, o preço do óleo de soja no mercado local vem baixando e puxando os demais [óleos vegetais] para baixo. São várias as opções no mercado. Milho, girassol e canola, que são produtos mais premium, e mesmo eles têm acompanhado a variação do óleo de soja.

Essa variação tão grande [de preços do azeite e do óleo], num país de terceiro mundo com uma cultura de consumo de soja, vai fazer com que as pessoas segmentem mais o consumo de azeite entre as classes sociais.