Economia
Mães solo conciliam empreendedorismo e maternidade
Sozinhas elas enfrentam o desafio de criar seus filhos com dignidade; bancos e projetos de instituições foram essenciais para sucesso dos negócios
Desde janeiro deste ano, 1.245 crianças foram registradas sem o nome do pai em Alagoas. A maior quantidade em Maceió, onde 349 crianças foram registradas apenas com o nome da mãe. Os desafios das mães solo são muitos e várias delas conseguem suprir as necessidades dos filhos através do empreendedorismo.
Fátima da Silva decidiu ter o próprio negócio antes da maternidade, mas conta que foi fundamental para criar a filha Fernanda, que tem 27 anos e também resolveu empreender. Hoje, mãe e filha têm lojas na Feira de Artesanato da Pajuçara.
“Coloquei uma pessoa para cuidar dela até os 4 anos, enquanto estava na loja. Depois, trouxe ela para cá, se criou aqui. Foi uma vida difícil, não é fácil você educar, não deixar cair na rua, não entrar nas drogas, mas sempre me virei com o dinheiro que entrava na loja. Coloquei ela no colégio que dava para pagar e, graças a Deus, cresceu, fez faculdade de psicologia, mas quando terminou disse que queria assumir uma loja como eu e apoiei. Ela já tem a loja há 3 anos. Hoje, somos microempreendedoras individuais”, diz.
Silva começou a empreender por necessidade. “Quando tive minha filha, registrei sozinha. O pai dela nunca ajudou com nada, saiu até de Maceió. Eu trabalhava no comércio, fui despedida, fui trabalhar em um hotel na orla, passei um mês e depois meu irmão me ofereceu uma barraca na feira. Comecei vendendo bijuteria, eu mesma fazia, mas na época a Prefeitura desmontou a feira, as bijuterias se estragaram e fui obrigada a mudar de material. Hoje, vendo peças de filé que eu faço e também revendo bolsas e chapéus”, afirma.
A empresária Andrezza Brandão é mãe do Pedro, de 4 anos. Ela também começou a empreender antes da maternidade, cria o filho sozinha desde a gestação e conta que ter uma rede de apoio ajuda a conciliar carreira e maternidade.
“Sempre planejei ser mãe, acho que como a grande maioria das mulheres, geralmente, a gente espera ter um companheiro, um suporte, e não tive, mas sempre tive apoio do pessoal do trabalho, de amigos, vizinhos, pessoas que sempre trabalharam lá em casa e isso é fundamental. A maternidade fez uma diferença na minha vida porque às vezes a gente olha e diz que filho é um empecilho, mas comigo não foi assim. Pelo contrário, o Pedro traz a calmaria na hora da necessidade. Para mim, a maternidade veio na hora certa, mesmo não sendo como planejado. Com ele as coisas começaram a dar mais certo”, conta Andrezza Brandão.
A empresária é filha de uma empreendedora e acredita que empreender está no sangue. Formada em estética, começou com uma clínica de 25 m², está em um espaço de 50 m² e, daqui a dois meses, vai para um espaço próprio com 450 m². Ela iniciou como microempreendedora individual (MEI) e hoje tem uma Sociedade de Responsabilidade Limitada (LTDA). “Sou filha de empreendedora, então já vim de uma barriga empreendedora. Com seis anos já ia para a loja da minha mãe, que vende descartáveis, e recebia os clientes. Acredito que já trago no sangue. A clínica tem oito anos, começou com um sonho de infância, logo em seguida foi salão. Em julho, vamos para um prédio próprio, onde também teremos salas para outras empreendedoras que queiram ter seus pequenos negócios. Vamos empreendendo e conciliando com a maternidade, aproveitando quando o filho está na escola, administrando e dando conta de tudo”, conta.
Já a empreendedora Rebeca Alves foi mãe aos 18 anos e começou a empreender após se tornar mãe para conseguir suprir as necessidades da filha Lívia, que hoje tem 18 anos, está cursando Odontologia e também auxilia na empresa da mãe.
“Eu trabalhava como vendedora, aí recebi a proposta de uma turma de escola para atuar como coreógrafa e aceitei porque precisava de dinheiro, fui recebendo outros convites e hoje tenho uma empresa, que presta serviços de coreografia, maquiagem social e artística, além de figurinos e adereços cênicos. Tenho oito funcionários. Foi através do empreendedorismo que eu a sustentei e a mantive. Acredito que a maior realização de uma mãe solo é conseguir criar o filho bem e vê-lo encaminhado em uma profissão”, afirma Rebeca Alves.
A empresária conta que o pai da Lívia sempre ajudou financeiramente, mas nunca foi o suficiente. “Tivemos um relacionamento até os três anos da Lívia. Após o término, ele sempre ajudou com a parte alimentícia, mas todo o resto foi comigo, parte afetiva, questão de estudo, toda a pressão e obrigação ficou para mim e tive que suprir a ausência afetiva”, diz.
Desde 2016, quando a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) passou a recolher dados de crianças registradas só em nome da mãe, já foram 20.818 crianças apresentadas em cartórios por mães solos em Alagoas.
Programa do Sebrae atende mais de 20 mil empreendedoras em três meses
O empreendedorismo feminino pode ser entendido como os negócios idealizados ou administrados por mulheres. Esse movimento envolve tanto os empreendimentos fundados por elas como também a liderança feminina nas empresas, quando as mulheres ocupam cargos mais altos na hierarquia das organizações.
Em Alagoas, dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apontam que, só nos três primeiros meses de 2023, o Programa Sebrae Delas (Desenvolvendo Empreendedoras Líderes Apaixonadas pelo Sucesso) atendeu mais de 20 mil empreendedoras. Ou seja, quase o dobro dos atendimentos realizados em todo o ano de 2022, quando foram contabilizadas 9.759 consultas.
A coordenadora estadual do Sebrae Delas em Alagoas, Érica Pereira, explica que é um programa de aceleração com o objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por mulheres. “O programa busca valorizar as competências, comportamentos e habilidades das mulheres, difundindo o empreendedorismo feminino”.
Pereira diz que os atendimentos são feitos de várias formas. “Os atendimentos são realizados tanto remotamente como presencialmente, com orientações, palestras, cursos, oficinas e consultorias na área de gestão e inovação nos pequenos negócios”, pontua.
No Brasil, nos últimos cinco anos, o programa Sebrae Delas já atendeu 14.230.507 mulheres empreendedoras. E nesse mesmo período, 3.811.892 CNPJs com mulheres sócias ou proprietárias ativas também foram registrados.
ECONOMISTA
O economista Lucas Barros pontua que no país cerca de 48% dos lares são chefiados por mulheres. “Porém, apesar de ser maioria na sociedade brasileira, apenas 44% da força de trabalho é formada por mulheres, e elas encontram diversas dificuldades como menor salário, carga horária de trabalho reduzido e têm que enfrentar tripla jornada de trabalho, considerando as atividades domésticas e cuidados com os filhos. Muitas mulheres acabam tendo dificuldades para conseguir se estabelecer no mercado de trabalho formal e acabam empreendendo na busca de conseguir organizar a vida como um todo”.
Barros cita como exemplo dessas mulheres empreendedoras em Maceió as catadoras de materiais recicláveis e marisqueiras, “que buscam no cooperativismo e solidariedade uma forma de construírem seus trabalhos e obter renda, em jornadas de trabalho que conseguem conciliar com o cuidado do lar e da família”.
Ter mais tempo com os filhos é motivação para independência financeira
Ser mãe muda a vida de qualquer mulher, seja no âmbito pessoal ou no profissional. E com a chegada de um bebê, elas costumam se dividir entre dois cenários: buscar renda extra para sustentar a criança ou adaptar sua rotina para conciliar o trabalho com os cuidados da maternidade. Um estudo recente da Rede Mulher Empreendedora (RME) mostra que para 87% das mulheres empresárias, a motivação para empreender e buscar independência financeira é justamente ter mais tempo no cuidado com os filhos e a família. E essa tendência tem crescido nos últimos anos.
Dados do Sebrae mostram que mais de 10,1 milhões de negócios no Brasil são comandados por mulheres, sendo que 52% delas são mães. Ainda de acordo com a pesquisa, durante a pandemia, 54% dos negócios comandados por mães empreendedoras foram impactados pelo fechamento das escolas, enquanto 51% dos pais empreendedores não sofreram nenhuma implicação. E isso também refletiu na organização do tempo entre trabalho e família, que afetou 17% das mulheres empreendedoras, contra 8% dos homens. Ou seja, o que já era difícil, ficou ainda mais desafiador.
PROJETOS DE APOIO
Quando o assunto envolve maternidade, os números são ainda mais significativos: de acordo com a pesquisa feita pela RME, 75% das donas de negócio do Brasil começaram a empreender depois de terem filhos. E para auxiliar, alguns projetos foram criados para que elas consigam conciliar a maternidade com os negócios. São empresas que capacitam as empreendedoras e as conectam com outras empresárias e também com clientes.
Consulte estas iniciativas de apoio no https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/projetos-apoiam-e-incentivam-as-maes-empreendedoras.
SOCIÓLOGA
A socióloga Danubia Barbosa avalia que, no Brasil, muitas mulheres são as chefes de família e muitas vezes renegam sua própria existência em nome dos filhos. “No país, a maioria das mulheres mais pobres chefia seus lares, em grande parte mulheres pretas. Sem nenhuma obrigação, alguns homens não sentem a necessidade de contribuir com a manutenção da família. Além da solidão, essas mulheres têm o peso na manutenção do lar e do bem-estar de seus filhos, muitas vezes renegando a sua existência em nome deles, sem rede de apoio familiar ou da figura paterna”, comenta Barbosa.
Banco do Nordeste tem linhas de crédito para mulheres empreendedoras
Para fortalecer as micro e pequenas empresas, o Banco do Nordeste (BNB) financia todas as etapas de produção, desde a instalação até a expansão, de empreendimentos dos setores de indústria, comércio e serviços. Os prazos de pagamento são calculados de acordo com as atividades desenvolvidas.
De acordo com o gerente de Microfinanças Alagoas do Banco do Nordeste, Heberth Caires, o financiamento do BNB acontece através do Crediamigo, que é o maior programa de microcrédito orientado da América do Sul, e tem linhas de crédito voltadas para os empreendedores e empreendedoras, formalizados ou não.
"Temos linhas de crédito de R$ 100,00 a R$ 21.000,00, podendo ser para capital de giro ou para investimento. E com prazos de 4 a 12 meses. Inclusive é um dos diferenciais do programa, que é o acompanhamento diretamente no local do empreendimento, a orientação financeira, avaliação patrimonial, entre outros", explica Caires.
Para solicitar o crédito, os interessados devem ter em mãos toda a documentação: documento de identificação (RG, CNH etc.), CPF válido, comprovante de endereço e de renda. ''No caso do comprovante de renda, pode ser construído através da avaliação financeira que é realizada na visita do agente de crédito", pontua Hebert Caires.
O gerente de Microfinanças Alagoas também ressalta que há uma linha de crédito para os produtores e produtoras rurais. ''O banco tem o Agroamigo, programa de microcrédito voltado às atividades rurais''.
Hebert lembra que existe ainda uma linha de crédito exclusiva para as mulheres. ''Em tempo: temos linha de crédito voltado exclusivamente para mulheres, o Crediamigo Delas, com condições (prazo e taxas) diferenciadas, além do Pronaf Mulher, no caso das produtoras rurais''.
CREDIAMIGO DELAS
Tem como objetivo financiar atividades produtivas de empreendedoras formais e informais de acordo com a capacidade de pagamento das tomadoras do crédito e o desenvolvimento da atividade com valor máximo pré-definido, mediante a concessão de empréstimos, cujo montante poderá ser utilizado para operações de investimento fixo e capital de giro e financiar investimento fixo: aquisição de móveis, utensílios, máquinas e equipamentos; reforma de móveis, máquinas e equipamentos, reformas e assistência técnica de instalações físicas; aquisição de veículos automotores e motocicletas; custos com pagamento de cursos de capacitação, educação formal e/ou consultoria gerencial para o titular da empresa ou seus empregados e capital de giro, destinado a suprir as necessidades de aquisição de matéria-prima ou mercadorias.
PRONAF MULHER
Já o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Mulher (Pronaf Mulher) tem como objetivo propiciar o apoio financeiro a projeto específico de interesse da mulher agricultora integrante de unidade familiar, consoante o projeto técnico ou proposta de crédito, destinadas ao financiamento de investimento para a implantação, ampliação e modernização da infraestrutura de produção e serviços agropecuários e não agropecuários no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais próximas, de acordo com o projeto específico e financiar a aquisição isolada de matrizes, reprodutores, animais de serviço, sêmen, óvulos e embriões, devendo ser comprovado no projeto ou proposta de crédito que os demais fatores necessários ao bom desempenho da exploração, especialmente, alimentação e fornecimento de água, instalações, mão de obra e equipamentos são suficientes para o pleno alcance da produção e adequado manejo do rebanho.
INVESTIMENTOS
Vale ressaltar que o BNB financia até 100% do projeto para empresas que faturam até R$ 4,8 milhões. O banco apoia a aquisição de bens de capital e implantação, modernização, reforma, relocalização ou ampliação de empreendimentos; gastos com construção; aquisição de veículos, máquinas e equipamentos; e oferece capital de giro associado ao investimento.
As linhas de crédito utilizam recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e foram criadas para desenvolver as microempresas, empresas de pequeno porte e de microempreendedores individuais dos setores industrial, agroindustrial, mineração, turismo, comércio, prestação de serviços e empreendimentos culturais da área de atuação do BNB.
Para maiores informações o usuário pode acessar www.bnb.gov.br ou ligar para SAC: 0800 728 3030 e a ouvidoria: 0800 033 3033.
Empreendedoras alagoanas recebem prêmio do Banco do Nordeste
Oito alagoanas que lideram negócios com características de inovação, tecnologia, sustentabilidade e engajamento, em Alagoas, foram reconhecidas no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – com o II Prêmio Banco do Nordeste de Empreendedorismo Feminino.
As empreendedoras homenageadas se destacaram nas categorias Microempresa, Crediamigo, Agroamigo e Agricultura Familiar. O superintendente estadual do Banco do Nordeste em exercício, Eduardo Fraga, ressaltou a importância de as mulheres estarem empreendendo em Alagoas.
“Aqui no estado, aproximadamente 60% do contratado no Crediamigo é formado por mulheres. Possuímos financiamento específico para mulher, com condições diferenciadas, o Crediamigo Delas, e nos anos de 2021 e 2022, contratamos mais de R$ 55 milhões com essas empreendedoras. No âmbito do rural, as agricultoras familiares são atendidas pelo Agroamigo, que é o nosso Programa de Microfinança Rural, como também pelo Pronaf, que é o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar, e também possuímos o Pronaf Mulher que, em 2022 aqui em Alagoas, nós contratamos mais de R$ 5 milhões, que correspondeu mais que o dobro do contratado em 2021, mostrando que estamos sempre avançando nessa frente”, afirmou.
Em 2022, as micro e pequenas empresas (MPEs) alagoanas financiaram mais de R$ 190 milhões com o Banco do Nordeste, em operações de crédito 97% adimplentes. O valor representa incremento de 7% em relação ao ano anterior e foi acessado por cerca de 900 empresários do segmento no estado. Fraga destacou ainda que tem aumentado o número de empresas dirigidas por mulheres no segmento de microempresas, em diferentes ramos, à procura de crédito no Banco do Nordeste.
“Em 2022, nesse segmento de microempresas, o nível de adimplência em Alagoas superou a meta estipulada pela direção do Banco do Nordeste, que foi de 97%. Percebemos que há uma responsabilidade das mulheres nisso, que estão mais envolvidas na gestão, representando essas empresas”, disse.
Na categoria Microempresa, foi homenageada a Janaíne Barbosa, de Jaramataia, que é atendida pela unidade do Banco do Nordeste de Batalha. A empreendedora já abriu duas filiais que funcionam em Batalha e São José da Tapera.
“Comecei um sonho há 17 anos, sonho que o Banco do Nordeste me ajudou muito. O apoio do Banco do Nordeste para mim foi muito importante. Nunca foi fácil, comecei de baixo, na feira com meu esposo e o Banco do Nordeste me incentivou quando tive o sonho de colocar minha primeira loja”, afirmou Janaíne Barbosa.
Na categoria Crediamigo, foram homenageadas Carleane Marques dos Santos, de Maceió; e Taiara Arlinda Santos, que iniciou sua atividade na cidade de Penedo e depois se mudou para Maceió. Já na categoria Agroamigo, foram premiadas Rosinete dos Santos Silva, de Junqueiro; Adriana de Santana Alcântara, de Igaci; e Alicia Kaline Monteiro de Oliveira, de Santana do Mundaú. Na categoria Agricultura Familiar, foram homenageadas Maria Angélica Santos, de Belo Monte; e Franciely de Melo Barboza, de Major Izidoro.
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