Economia

Preço da carne em alta muda hábitos de consumo do alagoano

Busca por promoções e substituição por alimentos processados são algumas das estratégias para colocar comida na mesa

Por Tribuna Independente 12/10/2022 17h00
Preço da carne em alta muda hábitos de consumo do alagoano
Michele Alves reduziu drasticamente a compra de carnes e tem feito substituições por alimentos processados - Foto: Edilson Omena

Os elevados preços das carnes vermelhas têm provocado uma mudança nos hábitos de consumo das famílias. Além disso, aves e ovos também têm sofrido com a inflação que já acumula alta de 8,73% nos últimos 12 meses no país. O cenário tem impactado diretamente na mesa e no bolso do alagoano que busca alternativas para garantir o mínimo de alimentos.

Uma pesquisa da Kantar diz que o número de vezes que os brasileiros consomem frango no almoço e no jantar caiu 11% nos últimos 12 meses acumulados até junho deste ano em comparação com o mesmo período um ano antes. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço da carne vermelha aumentou, em média, 9,98%, durante o ano passado. No caso dos ovos, o aumento passa dos 24%.

A Tribuna Independente ouviu consumidores que relataram a busca por ofertas e a substituição de itens. É o caso de Paula Quitéria, ela afirma que tem feito um verdadeiro malabarismo para comprar a chamada “mistura”.

“Está muito caro e a cada dia que passa a gente está sofrendo mais. Carne de primeira eu já retirei da lista, não compro mais. Agora é carne de segunda, carne de primeira é só uma vez no mês. Então a gente fica sempre tentando colocar o fruto do mar, às vezes um marisco. Estou num jogo de cintura, comprando carne semanalmente, que era algo que eu não fazia, mas devido aos preços, semanalmente, eu venho no supermercado, no dia das promoções para pegar e assim a gente vai levando, pegando as promoções. E antes a gente ainda tinha a opção do ovo, mas agora ele passou a ser coadjuvante devido ao preço também”, detalha a consumidora.

Quem também tem buscado alternativas é Michele Alves. A consumidora conta que reduziu drasticamente a compra de carnes e tem feito substituições com alimentos processados que têm um valor menor.

“Os ovos também estão bem caros. Né? Aí o que eu faço é aproveitar promoção, vir sempre no supermercado para pegar uma oferta, aproveitar a promoção e poder comprar um pouco mais. Eu comprava sempre carne para semana, e agora carne vermelha só uma vez. E também substitui, compra salsicha, calabresa, faz aquela misturinha para melhorar, compra frango também, vai dando um jeito”, diz.

Garantindo a carne para a sopa, Raiane Lima afirma que, com os preços altos, a saída é comprar menos.

“Eu sempre procuro comprar nas promoções, mas hoje eu vim porque estou precisando. Como o frango também aumentou, o peixe está saindo mais vantajoso”, avalia.

Supermercado investe em promoções para elevar vendas

Um supermercado da parte alta da capital tem investido em ofertas para garantir as vendas. José Janildo, gerente da unidade localizada no bairro do Salvador Lyra, explica que as carnes entram em promoção toda quinta-feira para dar saída nos itens. Além disso, outros produtos que também sofreram alta nos preços têm um dia dedicado às promoções.

“Percebemos sim uma queda nas vendas e como alternativa a gente busca colocar promoção para atrair os clientes. Outra coisa que temos observado é que as pessoas têm comprado mais hambúrguer, salsicha, empanados, esses alimentos processados que acabam sendo mais baratos. É o tipo de alimento que não deixa de ter procura, mas há impacto”, ressalta o Janildo.

O gerente de supermercado analisa ainda que o “vilão” na alta de preços é o combustível. “Tivemos uma redução no preço da gasolina, mas na prática isso não influencia nos preços dos alimentos, porque tudo vem por estradas, depende do preço do diesel e esse não sofreu alteração. Ou seja, continuamos com preços elevados porque o transporte depende da malha rodoviária”, aponta.

O economista Jarpa Aramis considera que a alta nos preços produz outro efeito nocivo: a queda na qualidade de vida.

“As pessoas passam a comprar alimentos mais baratos, de baixa qualidade, ou ultraprocessados. Na prática a gente tem visto um processo de substituição daquilo que as famílias consomem por menores quantidades e tudo isso termina gerando uma qualidade de vida menor para a sociedade como um todo. As famílias que vivem com pouco, tem passado perrengue. Né? É tão verdade que a gente tem observado aí os números mostrando o aumento de famílias retornando às condições de miserabilidade”, pontua.