Economia

Reajuste dos planos de saúde deve sobrecarregar o SUS

Economista destaca a queda na qualidade de vida do brasileiro com mais um aumento

Por Thayanne Magalhães 31/05/2022 10h29 - Atualizado em 31/05/2022 15h39
Reajuste dos planos de saúde deve sobrecarregar o SUS
Economista Renan Laurentino - Foto: Arquivo pessoal

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou na quinta-feira (26) um aumento de 15,5% nos planos de saúde individuais e familiares — o maior aumento desde o início da série histórica em 2000. Antes, o maior registrado havia sido de 13,57% em 2016, segundo dados da agência. 

O reajuste será aplicado aos planos com aniversário no período de maio de 2022 a abril de 2022 e é válido para os planos médico-hospitalares contratados a partir de janeiro de 1999 ou que foram adaptados à nova legislação (Lei nº 9.656/98).

"Como no ano passado houve uma diminuição do uso dos planos de saúde por conta da pandemia, as cirurgias foram remarcadas, então agora houve esse aumento para os clientes individuais. Os planos coletivos não devem sofrer com o reajuste porque existem contratos vigentes. O que se teme é que com esse aumento, que se agrega à alta da energia elétrica, da água, da cesta básico, dos combustíveis e agora mais esse aumento, as pessoas devem começar a abandonar os planos e mergulhar no Sistema Único de Saúde, o que trará uma sobrecarga", opina o economista Renan Laurentino. 

A ANS diz que o reajuste foi motivado pelo aumento nos gastos assistenciais dos planos individuais no ano passado, com comparação ao ano de 2020, principalmente nos custos dos serviços. Em contrapartida, a frequência no uso dos serviços de saúde não cresceu no mesmo ritmo, com uma retomada gradual em relação a consultas e internações.

"Para quem é comerciário, o Sesc Saúde é uma opção. Não é um plano de saúde, mas quem faz a carteirinha tem acesso a clínicas e médicos com valor mais acessível. Outra opção é o Sesi Saúde para quem é da indústria e funciona da mesma forma, oferecendo atendimento médico a preços menores. Outro mercado que tem acontecido é o das associações e cooperativas, onde os associados e cooperados também têm acesso a atendimento médico com valores acessíveis. A sociedade vem buscando outras alternativas porque, por mais que a gente goste do SUS, a gente sabe que existe uma certa letargia no atendimento por conta do grande número de pessoas que usa o Sistema", explicou Laurentino. 

"Mais uma vez a qualidade de vida do brasileiro vai caindo. São perdas de conquistas que nós tivemos no passado, de acessibilidade, que vão ficando inacessíveis em detrimento à todo esse cenário econômico que não facilita, não ajuda, porque não existe um plano de governo de contenção", concluiu o economista. 

Ao todo, 49,1 milhões de pessoas têm planos de saúde no país de acordo com os dados da ANS referentes a março.

A ANS oferece os seguintes canais para reclamações sobre irregularidades e dificuldades de atendimento:

Disque ANS: 0800 701 9656
Fale Conosco: www.gov.br/ans
Central de Atendimento a Deficientes Auditivos: 0800 021 2105

Críticas

Em nota, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) criticou o reajuste aprovado pela ANS. Segundo a entidade, a decisão "vem em um momento de intensa dificuldade econômica, com o aumento dos preços de alimentos, serviços e do custo de vida em geral da população. Com o bolso mais vazio, as pessoas se veem em um cenário preocupante de endividamento e, sobretudo, de vulnerabilidade".

“Causa espanto um percentual tão elevado, considerando que nos últimos anos os lucros aumentaram, com entrada de consumidores no mercado durante a pandemia. A questão é que essa metodologia foi pensada para situações de normalidade sanitária. O comportamento dos custos na pandemia foi extremamente atípico, o que demandaria uma reavaliação do reajuste deste ano”, afirma em nota Ana Carolina Navarrete, coordenadora do Programa de Saúde do Idec.