Economia
Alta dos combustíveis deve gerar efeito cascata no comércio, bens e serviços
Economista alerta que alto valor dos combustíveis irá gerar aumento no custo de vida até de pessoas que não possuem veículos
A livre regulação do preço dos combustíveis, com constantes mudanças, vem causando problemas para o bolso do brasileiro e não apenas aqueles que possuem veículos. O alto custo vem interferindo diretamente no custo de vida da população, pois acaba impactando nos preços de alimentos, transporte público, produtos e serviços em geral.
Isso é reflexo da decisão, décadas atrás, do investimento no transporte rodoviário de carga e passageiros no Brasil, em detrimento de outros mais eficientes, como trem e navio. Toda a logística para a maioria dos produtos brasileiro segue este modal, que precisa repassar seus custos - sendo o combustível é o principal - para o consumidor final.
“Como os preços de vendas das mercadorias levam em consideração seu custo de produção e transporte, qualquer aumento no combustível é diretamente repassado aos produtos e serviços que dele dependem. O aumento no combustível eleva o custo do transporte do próprio combustível, haja visto que é distribuído por caminhões. Estudos indicam que o aumento de 1% no combustível impacta em 0,08% no aumento da inflação”, assinala Alessandro Geraldo, economista e professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL).
Conforme a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), o anúncio na última sexta-feira (19) de um reajuste de 10,2% na gasolina e 15% no diesel por parte da Petrobras foi o oitavo aumento seguido dos combustíveis só em 2021, o que provocou uma alta acumulada de 34,7% na gasolina e de 27,7% no diesel. Em Alagoas, o preço médio do litro da gasolina está em R$ 5,50 e do diesel em R$ 2,58.
Como um derivado do petróleo, a gasolina tem alta correlação com o preço do barril deste insumo, que subiu depois da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e das perspectivas positivas de crescimento global, explica o economista.
“Além disso, temos um câmbio brasileiro que não cede, com o dólar próximo a R$ 5,40, bem maior com relação ao começo do ano, quando estava em R$ 5,20. Isso também contribui para que a defasagem de preços avance. A tendência (ou certeza) é que os donos de postos de combustíveis irão repassar a alta nos preços para as bombas, impactando no bolso do consumidor, mesmo que ele não tenha um veículo”, destaca.
Trocas na Petrobras
As reclamações sobre o preço dos combustíveis são apontadas como um dos motivos da decisão do presidente Jair Bolsonaro em nomear o general reformado Joaquim Silva e Luna para a presidência da Petrobras, no lugar do economista Roberto Castello Branco. Porém, a troca foi muito mal recebida pelo mercado, que enxergou nela uma intervenção indevida do governo na companhia. Apenas nesta segunda-feira (22), as ações da petrolífera caíram 20,74% na Bolsa de Valores de São Paulo, fazendo com que ela perdesse, em apenas um dia, mais de R$ 74,2 bilhões em valor de mercado.
Esta decisão, aponta Alessandro Geraldo, gerou uma variação muito grande no valor das ações, mas sem ainda ter impacto no preço dos combustíveis. No entanto, não é possível ao governo criar mecanismos para regular o valor que os combustíveis chegam às bombas. “O preço do petróleo respeita a dinâmica dos mercados, um ambiente externo à Petrobras, portanto uma variável incontrolável. O que pode ser feito é melhorar a eficiência operacional da Petrobras para reduzir seus custos de produção”, defende o economista.
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