Ciência e Tecnologia

Pesquisa usa equipamento para monitorar litoral com participação da população

Parceria da Ufal com o IMA garantiu instalação da base-piloto em Maceió, na Praia de Jatiúca

Por Graça Carvalho / Ascom Ufal 17/05/2025 00h58 - Atualizado em 17/05/2025 01h34
Pesquisa usa equipamento para monitorar litoral com participação da população
Professor Ravi, coordenador do projeto, demonstrou como é feita a captura das imagens - Foto: Renner Boldrino / Ascom Ufal

Quem passar pelo calçadão da orla de Jatiúca, em Maceió, bem em frente ao Maceió Atlantic Suítes [antigo Hotel Meliá], vai se deparar com uma estrutura, semelhante a um tripé, onde é possível acoplar o celular e registrar a movimentação da maré. O equipamento integra o Projeto Ciência Cidadã, o Coastsnap-AL, criado na Austrália, que vai monitorar a região costeira de Alagoas, e a população pode ajudar nessa iniciativa fotografando o mar. Essa é uma iniciativa do Grupo de Estudos Integrados ao Gerenciamento Costeiro (Geigerco), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e conta com o apoio do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL).

O projeto está atraindo a atenção não apenas dos turistas, mas também dos moradores da capital. Cada imagem enviada marca a posição da linha de costa no momento da fotografia. No Brasil, além de Alagoas, há bases do Coastsnap nos estados litorâneos Amapá, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraíba, o mais recente a se integrar a essa iniciativa.

A base de Maceió, primeira do projeto em Alagoas, foi instalada em maio de 2024, inspirada na iniciativa do Ceará. A escolha do local atendeu a critérios técnicos e logísticos exigidos pelos idealizadores do Projeto Coastsnap Australia, vinculados à University of New South Wales – UNSW Sydney, onde a iniciativa nasceu em 2017. Em âmbito mundial, esse monitoramento costeiro participativo e de baixo custo conta com mais de 200 bases distribuídas em 21 países.

Equipamento Coastsnap-AL, onde as pessoas podem fazer a captura das imagens usando o próprio celular, está instalado na orla de Maceió, na Praia de Jatiúca, em frente ao hotel Atlantic Suítes (Foto: Renner Boldrino / Ascom Ufal)

Entre esses critérios estão a altitude da linha de costa, desenvolvimento longitudinal da praia, existência de pontos de controle, exposição ao público e capacidade técnica para levantamento de dados oceanográficos e morfodinâmicos do litoral. “A ideia é transformar imagens em dados científicos que vão refletir a dinâmica da costa”, resumiu o professor Henrique Ravi Almeida, do curso de Engenharia de Agrimensura e Cartografia, do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal, e coordenador do projeto.

A equipe do projeto conta com a participação da professora Luciana Lima, coordenadora adjunta; o estudante Gabriel Carneiro, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), pelo Programa de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) da Ufal; o estudante Alberto Almeida, monitor bolsista da disciplina Levantamento Geodésico; Sandi Carneiro, como voluntário; e a professora Rosilente Jiménez, colaboradora do projeto. Todos do Geigerco, aprovado pelo CNPq e vinculados ao curso de Engenharia de Agrimensura e Cartográfica.

No projeto alagoano, há previsão para instalação de outras bases, quando será possível inter-relacionar os dados e os resultados de diferentes locais para compreender o comportamento dinâmico da linha de costa ao longo do tempo. No entanto, de acordo com o coordenador, isso depende da aprovação dos projetos de pesquisa submetidos em editais do CNPQ e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Professor Ravi disse que o Coastsnap de Alagoas é um exemplo de projeto de ciência cidadã (Foto: Renner Boldrino / Ascom Ufal)

“Atualmente não temos tantos incentivos ou editais de chamada para projetos de pesquisa relacionados a mudanças climáticas. Isso é um desafio a transpor. Fala-se muito em mudanças climáticas, mas não aparecem recursos, principalmente aqui no estado, para projetos com esse tipo de viés para mudanças climáticas”, lamentou Almeida.

Ele ressalta que o Coastsnap-AL é um exemplo de “projeto de ciência cidadã”, no qual a participação da comunidade é um dos pontos mais importantes. Nas próximas etapas de execução, a ideia é também visitar algumas escolas da Jatiúca, sobretudo as públicas, para realizar palestras educacionais e visitas de campo com os estudantes, para que eles disseminem a existência da base-piloto entre os amigos, os parentes e também na própria escola.

“Esse tipo de ciência que a gente faz, de pesquisa, estimula a participação e a responsabilização da comunidade. Não é uma ciência abstrata, com matemática pura, física pura. Não. É uma ciência que a gente aplica conceitos matemáticos, conceitos de computação, mas de uma forma em que a comunidade possa participar por meio da contribuição com suas imagens. Portanto, é um projeto educativo, participativo e de baixo custo”, enfatizou o coordenador do Coastsnap-AL.

Como participar

Você quer saber como participar? Qualquer pessoa pode se integrar ao Projeto Ciência Cidadã Coastsnap-AL, basta se dirigir à base do projeto, que fica em frente ao Maceió Atlantic Suítes, na Jatiúca, e posicionar o seu smarthphone no topo do suporte de metal. Depois, é só capturar a imagem. Por fim, no tronco da base, existem duas placas fixadas, sendo uma informativa e outra orientativa. Nesta última há um QR code, então, é só escanear para ser direcionado ao WhatsApp do projeto, onde poderá enviar a foto capturada.

Ao receber as imagens, os pesquisadores da Ufal vão armazená-las em um banco de dados para análise qualitativa e processamento computacional, por meio de algoritmos próprios para avaliação temporal da dinâmica posicional da linha de costa. Com o conjunto das imagens, será possível inferir sobre a tendência posicional do litoral, bem como confeccionar produtos, tais como: vídeos timelapse do período avaliado, gráficos e mapas cartográficos relacionados.

Além de contribuir para esse mapeamento costeiro, quem passar pela base, com apenas um clique, também vai contribuir com a análise sobre o nível de poluição na praia, visto que é possível identificar elementos depositados, como por exemplo, plásticos e objetos não pertencentes ao litoral.

Quem envia fotos, recebe uma mensagem de agradecimento e indicação das redes sociais do projeto, onde são postados vídeos educativos, vídeos explicativos do projeto e fotos desde o momento de instalação da base na praia. Para acompanhar as ações do projeto, é só acessar os links do Instagram do @‌Coastsnap-AL e a página eletrônica do Coastsnap australiano.

Avanço do mar

A linha de costa é uma feição naturalmente móvel. Seus principais modeladores são ondas, marés, agentes climáticos e variações no nível do mar. Por isso, em Alagoas, os pesquisadores do Projeto Coastsnap ressaltam que o monitoramento da linha de costa é uma atividade primordial para a compreensão acerca dos processos costeiros. “As praias geralmente são um dos primeiros ambientes a sofrer as consequências das mudanças climáticas, especialmente quando há a combinação da elevação do nível do mar com eventos climáticos extremos mais frequentes e rigorosos, podendo levar à erosão costeira, um dos principais problemas das regiões litorâneas”, destacou o coordenador do Coastsnap em Alagoas.

Estudo do Climate Central, grupo independente de cientistas e comunicadores que pesquisam e relatam os fatos sobre as mudanças climáticas em todo o mundo, revelou, recentemente, que 50 cidades podem ficar submersas, caso a temperatura global aumente 3ºC. Ainda segundo o estudo, o Brasil é o 17º país mais vulnerável ao avanço do nível do mar, e as cidades Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Recife, Porto Alegre, São Luís e Santos podem ser inundadas, futuramente.