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Um ano após tragédia na Serra da Barriga, União dos Palmares ainda sente o impacto do acidente que deixou 20 mortos

Em 24 de novembro de 2024, o veículo cedido pela prefeitura perdeu o controle e tombou em um trecho íngreme da estrada de acesso ao platô

Por Thayanne Magalhães 24/11/2025 07h41
Um ano após tragédia na Serra da Barriga, União dos Palmares ainda sente o impacto do acidente que deixou 20 mortos
Em 24 de novembro de 2024, o veículo cedido pela prefeitura perdeu o controle e tombou em um trecho íngreme da estrada de acesso ao platô - Foto: Reprodução

O cenário verde que conduz ao alto da Serra da Barriga continua recebendo visitantes em busca da memória de Zumbi e do Quilombo dos Palmares. Mas, um ano após o tombamento do ônibus que levava moradores para a celebração do Dia da Consciência Negra, o caminho também carrega marcas de um dos episódios mais trágicos da história recente do município.

Em 24 de novembro de 2024, o veículo cedido pela prefeitura perdeu o controle e tombou em um trecho íngreme da estrada de acesso ao platô, deixando 20 mortos e dezenas de feridos. A dimensão do desastre mobilizou equipes de resgate de toda a região e expôs fragilidades na operação do transporte utilizado no evento.

Investigações em trilhas paralelas


As apurações oficiais que seguiram ao acidente caminharam em direções diferentes. A Polícia Civil concluiu que o veículo não apresentou falha mecânica e atribuiu o tombamento a erro humano por parte do motorista.

O Ministério Público de Alagoas (MP-AL), no entanto, enxergou um conjunto de fatores que teriam contribuído para o desfecho: superlotação, uso do ônibus para atividade distinta da qual foi projetado — originalmente destinado ao transporte escolar — e ausência de capacitação adequada para condução em terreno acidentado. O órgão também registrou que o motorista havia comunicado problemas anteriores no veículo.

Com base nesses elementos, o MP ingressou com ações judiciais cobrando indenizações individuais e requerendo R$ 5 milhões por danos coletivos, a serem destinados ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

Decisão judicial impõe obrigações ao município


No fim de outubro, a 1ª Vara Cível de União dos Palmares estabeleceu que a prefeitura deve garantir assistência integral aos sobreviventes. A determinação inclui consultas especializadas, exames, cirurgias, medicamentos e, se necessário, atendimento domiciliar. Cada despesa deve ser paga ou reembolsada no prazo de 15 dias, sob pena de multa diária de R$ 5 mil por vítima. Segundo a decisão, não houve recurso por parte do município dentro do prazo.

Medidas após a tragédia


A administração municipal afirma ter adotado ações emergenciais logo após o acidente, incluindo assistência social, psicológica e médica. Também proibiu que ônibus subissem o trecho mais elevado da serra e instalou placas de advertência na área onde o veículo tombou.

A estrada, sob responsabilidade do DER, permanece sem intervenções estruturais. O órgão informou que o percurso integra área considerada patrimônio cultural, o que limita alterações físicas no local.

Memória que permanece


Para marcar o primeiro aniversário da tragédia, a prefeitura programou a inauguração de um memorial em homenagem às vítimas. O espaço pretende ser um ponto permanente de lembrança coletiva e um marco da busca por segurança e responsabilização.

Um ano depois, a Serra da Barriga continua sendo símbolo de resistência — agora, também de um luto que atravessa a história da cidade.