Cidades
Defensoria Pública e vítimas da Braskem acionam Justiça e pedem revisão urgente do mapa de risco em Maceió
Ação Civil Pública requer inclusão dos Flexais de Cima e de Baixo como áreas de risco geológico ativo e realocação imediata das famílias
A Defensoria Pública do Estado de Alagoas e o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) ingressaram com uma Ação Civil Pública contra a Braskem S.A. e o Município de Maceió, pedindo à Justiça Estadual a revisão urgente do Mapa de Ações Prioritárias e o reconhecimento das comunidades dos Flexais de Cima e de Baixo como áreas de risco geológico ativo.
O documento, protocolado na capital alagoana, aponta omissão da Defesa Civil Municipal, que teria mantido um mapa de risco desatualizado e arbitrário, ignorando estudos recentes que comprovam o afundamento e deslocamentos horizontais do solo acima do limite considerado seguro. A ação também solicita a realocação imediata das famílias e o pagamento de indenização integral pela Braskem, conforme o Código de Mineração e a Lei nº 6.938/1981, que trata da responsabilidade ambiental.
Como prova principal, a Defensoria e o MUVB apresentaram um relatório técnico-científico internacional publicado em agosto de 2025, elaborado por pesquisadores de instituições brasileiras e alemãs, entre elas o GFZ Helmholtz Centre Potsdam, a Leibniz University Hannover, a University of Leipzig, o INPE, a UFES e a UFAL.
Utilizando tecnologia de sensoriamento remoto por radar orbital (InSAR), o estudo mostra que os Flexais sofrem movimentos verticais e horizontais superiores a 10 milímetros por ano — o dobro do limite oficial adotado pela Defesa Civil de Maceió.
Segundo o relatório, a metodologia municipal é “cientificamente incorreta e sem respaldo técnico”, pois ignora deslocamentos cumulativos e utiliza um critério arbitrário de 5 mm/ano como referência para risco.
“A metodologia utilizada pela Prefeitura não está alinhada à literatura internacional e contradiz as evidências de campo”, afirmou o professor Marcos Eduardo Hartwig, da Universidade Federal do Espírito Santo, um dos autores do estudo.
Os especialistas confirmam ainda que as deformações do solo nos Flexais estão diretamente ligadas à mineração de sal-gema nas margens da Lagoa Mundaú, reforçando o nexo causal entre a atividade da Braskem e o colapso geotécnico que devastou bairros inteiros de Maceió desde 2018.
Omissão pública e responsabilidade da Braskem
Na ação, a Defensoria Pública afirma que o Município de Maceió é legalmente responsável pelo mapeamento e proteção das populações em risco, conforme a Lei nº 12.608/2012 (Política Nacional de Proteção e Defesa Civil). A manutenção de um mapa “desatualizado e cientificamente inválido” configuraria omissão administrativa grave.
O pedido também reforça a responsabilidade objetiva da Braskem pelos danos ambientais, sociais e morais decorrentes da mineração de sal-gema. O texto cita o depoimento de representantes da empresa à CPI do Senado Federal, em 2024, quando a própria Braskem reconheceu sua culpa pelo afundamento do solo.
“A Braskem deve responder integralmente pelos danos que causou — não apenas materiais, mas humanos, ambientais e simbólicos. O que se pede é o cumprimento do princípio da precaução e da reparação integral”, afirma trecho da petição.
A Defensoria e o MUVB ressaltam que a exclusão dos Flexais do mapa de risco viola direitos fundamentais como o acesso à informação, a moradia digna e a segurança ambiental. Além disso, destacam o descumprimento da Lei nº 14.750/2023, que garante a centralidade das vítimas em desastres ambientais e humanitários.
De acordo com o movimento, os moradores convivem com instabilidade no solo e com o isolamento social e econômico imposto pelo desastre, sem acesso pleno à reparação.
A ação pede que a Justiça determine:
A revisão imediata do Mapa de Ações Prioritárias;
A inclusão dos Flexais de Cima e de Baixo como área de risco geológico ativo;
A realocação urgente das famílias, com indenização integral custeada pela Braskem;
A supervisão judicial e o acompanhamento técnico independente;
O reconhecimento do direito das vítimas ao território e à memória coletiva.
Um novo capítulo na luta das vítimas
Para a Defensoria e o MUVB, a ação representa um novo capítulo na luta por justiça e reparação em Maceió. Mais de seis anos após o início do afundamento do solo, as comunidades dos Flexais ainda aguardam respostas concretas.
“O espaço destruído deve ser reconstruído, não reapropriado. A verdadeira reparação começa pelo reconhecimento de quem continua sendo dono — não apenas do solo, mas da história e da memória daquele território”, conclui o documento.
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