Cidades

Julgamento de genro que matou sogra e escondeu corpo em geladeira expõe detalhes chocantes

Réu alega legítima defesa e laudo aponta participação da filha da vítima no crime e esfaqueamentos pelas costas

Por Lucas França com Tribuna Hoje com agências 20/10/2025 15h48 - Atualizado em 20/10/2025 16h08
Julgamento de genro que matou sogra e escondeu corpo em geladeira expõe detalhes chocantes
Geladeira com o corpo foi jogado em uma área de mata - Foto: Arquivo pessoal

O julgamento de Leandro dos Santos Araújo, de 23 anos, acusado de assassinar brutalmente a ex-sogra, Flávia dos Santos Carneiro, teve sequência na tarde desta segunda-feira (20), no Fórum do Barro Duro, em Maceió. O crime, que chocou o estado de Alagoas, aconteceu em 1º de março de 2024, e o corpo da vítima foi encontrado dias depois, em 5 de março, escondido dentro de uma geladeira em uma área de mata, no bairro de Cruz das Almas.

Durante o júri popular, detalhes do laudo pericial foram apresentados pelo Ministério Público, revelando o grau de violência do crime. Flávia foi atingida por 20 golpes profundos de faca, além de ferimentos mais superficiais, atribuídos, segundo o laudo, a outra pessoa com menor força física. A perícia aponta que a filha da vítima, uma adolescente, também desferiu golpes contra a mãe.

Imagens do corpo de Flávia foram exibidas no tribunal, causando comoção. Segundo o promotor do caso, o cadáver foi encontrado com os pulsos amarrados com tanta força que quase se partiram, e o corpo foi embrulhado como carne, antes de ser colocado na geladeira. “Esse tipo de amarração é feita quando se quer garantir que o alvo não fuja”, destacou o promotor.

❝Mate, mate, mate ela❞


A adolescente, filha da vítima, chegou a ser apreendida por participação na ocultação de cadáver, mas com os novos elementos do laudo, a tipificação do ato infracional pode ser alterada. O promotor também questionou como seria possível alegar legítima defesa quando golpes fatais foram aplicados pelas costas da vítima.

Em depoimento, Leandro assumiu novamente a autoria do crime, mas alegou que agiu por impulso e "em estado de frenesi". Em sua versão, a discussão começou dias antes, durante o carnaval, após uma briga em um bar. No dia do crime, ele afirma que a sogra o recebeu com ofensas e que a situação saiu do controle.

“Eu ouvi o barulho do faqueiro e só deu tempo de me defender. [...] Eu me arrependo muito. Eu sou uma boa pessoa. Eu errei e assumo o meu erro. Se eu ouvisse mais a minha mãe, talvez nada disso tivesse acontecido”, declarou o réu diante do juiz.

Segundo ele, a adolescente teria gritado “mate, mate, mate ela”, e isso teria influenciado sua reação. Ainda conforme o relato do réu, ele estava indo embora quando foi atacado com uma faca. A arma teria caído no chão e, nesse momento, Milena (a filha da vítima) a pegou e começou a gritar, instigando a violência. Leandro disse que entrou em "modo automático" e desferiu os golpes fatais.

"Eu não queria brigar. [...] Quando vi, ela meteu uma facada no meu pé. [...] Eu perdi a cabeça", afirmou no tribunal.

Defesa tenta justificar brutalidade


O advogado de Leandro defendeu a tese de que o réu agiu sob pressão psicológica e influência da adolescente. Segundo ele, o crime foi o desfecho de uma sucessão de desentendimentos familiares. O defensor classificou o episódio como uma “frenesi pela sobrevivência”, afirmando que "há coisas que a gente faz sem perceber".

“Ele amava Flávia e Flávia o amava também. Mas naquele momento, ela era uma pessoa armada com um instrumento perfurocortante”, afirmou o advogado.

O defensor ainda argumentou que Leandro não teria ocultado o corpo por vontade própria, mas teria apenas seguido as instruções da menor de idade. “Foi ela quem decidiu tudo, inclusive colocar o corpo na geladeira”, disse.

No entanto, há contradições entre as falas do réu e de seu advogado. Em determinado momento, Leandro nega ter dito que não entregaria a geladeira ao fretista por conter "macumba", enquanto seu defensor confirmou essa versão em plenário.

Crime brutal e julgamento comovente


O juiz Geraldo Amorim, titular da 9ª Vara Criminal da Capital, exibiu fotos do estado em que o corpo foi encontrado, causando lágrimas entre os familiares presentes. A mãe de Flávia, que fazia visitas frequentes à neta, declarou no tribunal: "A partir de hoje, ela nem existe mais para mim", referindo-se à própria neta, agora apontada como cúmplice do assassinato.

O julgamento segue com a apresentação das alegações finais e o veredito deve ser anunciado ainda nesta semana.