A recuperação dos manguezais alagoanos ganhou um reforço nessa quinta-feira (16): trata-se do Centro de Recuperação de Manguezais Analista Ambiental Paulo César Casado Auto (Cermangue Paulo Auto), um viveiro que irá produzir mudas de espécies típicas dos mangues alagoanos e que foi instalado no campus do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Marechal Deodoro.

A estrutura inaugurada ontem é resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre o Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) e a Usina Caeté, a qual aderiu ao projeto Pró-Manguezais e ao Pró-Espécies.

Coordenadora do Pró-Manguezais pelo MPAL, a promotora de Justiça Lavínia Fragoso enfatizou que o viveiro Cermangue Paulo Auto demonstra uma união de esforços entre a iniciativa privada, poder público e comunidade na preservação desse ecossistema associado ao bioma mata atlântica. “Ao preservar os manguezais, estamos cuidando do meio ambiente e, ao mesmo tempo, contribuindo para a geração de renda das famílias de pescadores e marisqueiras, de forma a garantir o equilíbrio entre o econômico, social e ambiental”, assinalou.

O professor Renato Romeiro, do Ifal, que atua nas áreas de gestão e educação ambiental, destacou que as espécies a serem produzidas no viveiro são mangue vermelho, mangue branco e mangue preto. “Nossa contribuição também será em educação ambiental para a comunidade, não somente dos alunos, mas de suas famílias que vivem no entorno, muitas delas em relação direta com os manguezais”, explicou.

O diretor administrativo da Usina Caeté, Paulo Ramalho, acrescentou que o viveiro de mudas trará resultados para outros projeto em parceria com o MPAL, que é o Plano de Ação Estadual (PAE) Papagaio-do-mangue. “Além da preservação das aves já em vida livre, recuperar os manguezais é importante para aquelas que serão reintroduzidas nessas áreas. Também entendemos que é totalmente possível a preservação ambiental com as atividades econômicas de forma sustentável”, afirmou.

Filha de pescadores e também pescadora desde a infância, Eliane Farias de Souza reforçou que, sem os manguezais preservados, não haveria peixes. “Os peixes só desovam onde tem a proteção, que é nos manguezais, que são os berçários. Se não cuidarmos, tudo isso vai se acabar e não teremos mais peixes”, declarou, ao lembrar que criou seus filhos com a renda que obteve de sua atividade nos manguezais.

Adesão

Durante a cerimônia, houve a adesão do município de Coruripe ao Pró-Manguezais, com assinatura do termo pela secretária municipal de Meio Ambiente, Luana Spotorno Gonzales. Agora, Coruripe se junta a Marechal Deodoro e Barra de São Miguel, municípios que também fazem parte da primeira fase do Pró-Manguezais.

Cermangue Paulo Auto

O viveiro inaugurado nessa quinta-feira (17) é uma homenagem ao servidor do Ibama Paulo César Casado Auto, já falecido, que dedicou boa parte de sua vida a pesquisar a dinâmica e formas de recuperar os manguezais alagoanos. Engenheiro agrônomo de formação, Paulo César chegou a lançar o livro “Recuperação de Manguezais em Alagoas”, que se tornou leitura obrigatória para quem estuda esse ecossistema. A esposa dele, filhos e netos acompanharam a solenidade de inauguração do viveiro.

Na oportunidade, o superintendente do Ibama em Alagoas, Rivaldo Couto, prestou uma homenagem, em nome dos demais colegas do órgão, a Paulo César. “Não haverá nome mais justo do que do analista ambiental Paulo César para esse Centro de Recuperação de Manguezais. Mangue é meio ambiente de transição ou de encontro. Deixa a vida aos sabores dos ciclos entre as marés”, declarou emocionado Rivaldo Couto, ao ler um texto carregado de emoção e poesia.

Depois da inauguração do viveiro, houve um plantio de mudas de manguezais à margem da Laguna Manguaba, ao lado do campus do Ifal, do qual participaram os representantes dos órgãos parceiros e os familiares de Paulo César. A Prefeitura de Marechal Deodoro, por meio das Secretarias de Meio Ambiente e de Turismo, pretende incluir o plantio de mudas de manguezal no roteiro dos turistas que visitam a cidade.