Cidades
Moradores celebram a retomada do Mirante Ambrósio Lira como espaço de arte e convivência
Produtores culturais mobilizam forças para ocupar um dos mirantes mais simbólicos de Maceió, em um movimento que une memória, pertencimento e valorização do patrimônio público

Um dos cenários mais belos e históricos de Maceió, o Mirante Ambrósio Lira, voltará a respirar cultura e coletividade. A movimentação para a realização do 9º aniversário do Samba da Periferia, no próximo dia 25 de outubro, se transformou em um gesto simbólico de ocupação e pertencimento. Moradores, artistas e produtores culturais se uniram para devolver vida a um espaço que carrega séculos de memória e abriga, entre suas relíquias, a antiga residência do artista plástico Pierre Chalita.
A mobilização começou com o diálogo direto entre a produção do evento e os moradores das ruas que cercam o mirante, no bairro do Farol. A comunidade abraçou a ideia de transformar o espaço em um palco de celebração e resistência. Antes deixado à margem das programações culturais da cidade, o Mirante Ambrósio Lira volta a ser reconhecido como símbolo de um movimento maior: o resgate dos espaços públicos como territórios coletivos de convivência e arte.
Segundo o vice-prefeito de Maceió e secretário municipal de Infraestrutura, Rodrigo Cunha, a escolha dos mirantes e praças como palco de atividades culturais é um passo importante para reconectar a população com o patrimônio urbano.
“A preservação de espaços públicos, como o Mirante Ambrósio Lira, é fundamental para resguardar a memória e o patrimônio histórico-cultural de Maceió. Quando conectamos memória, patrimônio e paisagem, reforçamos nossa identidade cultural e valorizamos nossos espaços públicos”, afirmou.
Para o vice-prefeito, iniciativas como o Samba da Periferia ajudam a aproximar o poder público da população e a despertar a consciência de que a cidade é um bem comum. “Essas ocupações dão vida aos mirantes e praças, mostrando que eles podem ser opções acessíveis de lazer e convivência para moradores e turistas.”
No último dia 6 de outubro, o prefeito JHC lançou o projeto Rota dos Mirantes, que prevê a revitalização e recuperação de sete mirantes da capital. A iniciativa reforça o potencial turístico, histórico e ambiental desses locais, que voltam a ser olhados com atenção pelo poder público e pela sociedade.
A voz de quem vive o Mirante
O procurador de justiça Cláudio Acioli, morador do Mirante Ambrósio Lira há dez anos, tem acompanhado de perto a movimentação dos últimos meses. Dono de um sobrado de três andares, de fachada totalmente preservada à época de sua construção e com uma das vistas mais privilegiadas do mirante, ele comemora o novo olhar que o bairro está recebendo.
“Aqui é um pedaço de tranquilidade, com uma vista que mostra a cidade antiga, a Lagoa Mundaú e o mar. Mas é também um bairro que, por muito tempo, ficou fora do circuito das ações culturais e urbanas da cidade. O samba pode ser o caminho para mudar isso’, contou.
Acioli lembra que o Mirante Ambrósio Lira guarda um acervo valioso da arte alagoana, já que abriga obras do antigo Museu Pierre Chalita, preservadas na casa onde o artista viveu e que hoje permanece fechada. O espaço, que por décadas recebeu artistas e intelectuais, volta a ganhar visibilidade. ‘É um mirante de memória riquíssima, frequentado por grandes nomes da arte, que agora retoma seu papel como lugar de encontro e criação’, completou.
A força do Samba e da ocupação cultural
Desde 2024, o Samba da Periferia vem transformando mirantes em palcos de expressão popular. No 8º aniversário, o grupo levou 1.700 pessoas ao Mirante Santa Terezinha, em uma celebração que provou o poder do samba como agente de mobilização social. Agora, o desafio é repetir o sucesso no Ambrósio Lira, com apoio da comunidade e do poder público.
“Após o sucesso do Samba da Periferia, no Mirante Santa Terezinha, um morador me perguntou quando faríamos um evento no Mirante Ambrósio Lira, que precisava desse olhar, dessa atenção da sociedade e do cuidado do poder público. Na mesma hora pensei ‘que boa ideia!’ vamos fazer o próximo evento lá”, relembrou o produtor Fábio Palmeira.
“Desde então, a gente vem dialogando com os moradores, com a prefeitura e com os órgãos responsáveis, para garantir que tudo aconteça de forma organizada e que o espaço seja cuidado como merece", explicou.
A produtora Karina Liberal destaca o caráter simbólico da escolha do Mirante Ambrósio Lira. ‘Estar aqui é muito mais do que escolher um espaço que comporte o público. É criar uma conexão com a história do Samba da Periferia, que neste mirante tão central vai reunir gente de todos os cantos — da periferia, da parte alta e da orla. Do alto do mirante, o samba vai abraçar Maceió inteira. Quando a batucada começa, a energia que se espalha une todo mundo em um só compasso. É um movimento de fé, de pertencimento e de amor à cultura’, afirmou.
Um pôr do sol de resistência
O evento será realizado no dia 25 de outubro, às 16h, no Mirante Ambrósio Lira, com participações especiais da banda Som de Vinil e de Almirzinho, filho do consagrado sambista carioca Almir Guineto. O tema deste ano, ‘Nosso Samba é uma janela que resiste ao tempo’, resume o espírito de um projeto que faz da arte um instrumento de união entre passado e futuro.
Mais do que um show, a celebração promete marcar o início de uma nova fase para os mirantes de Maceió, espaços que voltam a ser ocupados pela música, pela comunidade e pela esperança de uma cidade que reconhece, na cultura, seu maior patrimônio.
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