Cidades
Abalos sísmicos do agreste alagoano são debatidos em Natal
Pesquisa sobre tremores de terra na região é apresentada em simpósio realizado da capital do Rio Grande do Norte

O estudo elaborado pelos pesquisadores Willian Macksuel Almeida Melo e Sandro Maciel dos Santos, do campus da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), em Arapiraca, foi apresentado no evento para os geólogos e outros especialistas da área em todo o Brasil.
Com base em dados oficiais do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), que é referência nacional, a pesquisa alagoana acendeu o alerta sobre a crescente atividade sísmica no Agreste de Alagoas, mais precisamente nos municípios de Arapiraca e Craíbas.
Intitulada “Sismicidade no Agreste Alagoano: entre falhas e interferências antrópicas no relevo dos municípios de Arapiraca e Craíbas”, a investigação revela dados alarmantes.
Os dois municípios concentram 48,14% do total dos tremores de terra registrados em Alagoas entre os anos de 2020 e 2025.
A título de maior embasamento para a pesquisa, a análise histórica dos eventos sísmicos, entre os anos de 2015 e 2025, mostra que Arapiraca e Craíbas, juntos, já acumulam 30,35% de todos os tremores registrados em Alagoas nesse período. São com 87 e 82 eventos sísmicos, respectivamente.
A principal hipótese levantada pelos estudiosos alagoanos é a sismicidade induzida, quando a atividade sísmica é provocada ou intensificada por ações humanas, no caso de Craíbas, com a atividade de mineração desde o ano de 2021.
Willian Macksuel Almeida Melo e Sandro Maciel dos Santos chegaram à conclusão de que a superposição dos epicentros com áreas de falhas geológicas mapeadas e atividades mineradoras ativas nos dois municípios reforçam a leitura das ocorrências. As magnitudes dos tremores de terra variam entre 1.5 e 2.5 graus na escala Richter.
A pesquisa também apresenta mapas detalhados que evidenciam a coincidência espacial entre os tremores, zonas de falhas geológicas e áreas com intensa exploração mineral, principalmente nos limites entre Arapiraca e Craíbas, que estão distante apenas 21 km.
“As áreas que antes apresentavam baixo histórico sísmico, passaram a registrar tremores frequentes a partir de 2020, ano que marca o início das atividades mais intensas de extração mineral”, explica Willian Macksuel Almeida.
Além da correlação técnica, o estudo destaca a vulnerabilidade da população local, uma vez que ainda não existem estações sismográficas instaladas na região, para que haja o monitoramento em tempo real, o que, segundo os pesquisadores, compromete a prevenção e a resposta a possíveis riscos geológicos.
Pesquisadores levaram estudo ao Simpósio de Geomorfologia
Durante a apresentação da pesquisa, Willian Macksuel Almeida Melo e Sandro Maciel dos Santos, diante das evidências colhidas no estudo, eles propõem um conjunto de medidas urgentes, tais como o refinamento das ações de monitoramento sísmico, revisão de licenças ambientais concedidas para mineração, integração entre instituições estaduais e federais, bem como campanhas educativas junto à população e também a criação de um banco de dados público georreferenciado com informações sísmicas e geológicas de toda a Região Agreste de Alagoas.
“A interação entre estruturas geológicas pré-existentes e atividades humanas, como a mineração, está reconfigurando o comportamento sísmico do Agreste alagoano. Essa realidade exige, não apenas um olhar técnico, mas também políticas públicas voltadas à gestão do território e à segurança da população”, destacam os pesquisadores.
O trabalho dos estudiosos da Uneal reforça ainda a necessidade de uma abordagem interdisciplinar, que una os campos da geomorfologia estrutural, geografia física e gestão ambiental, para interpretar corretamente os riscos e evitar que os eventos sísmicos de baixa magnitude evoluam para problemas sociais e infraestruturais mais graves.
A Mineração Vale Verde (MVV) iniciou suas operações comerciais em Craíbas em 2021, com a exploração da Mina Serrote, destinada à produção de concentrado de cobre. Desde então, a empresa já exportou mais de 300 mil toneladas secas (dmt) do material para países como China, Finlândia, Tailândia, Índia e Polônia, consolidando Alagoas no mapa internacional das exportações minerais.
Ao lado da mina da MVV, 114 imóveis apresentam rachaduras
Com lavra da MVV a céu aberto, a mina tem reservas estimadas em 52,7 milhões de toneladas de minério de cobre, mas esse número pode aumentar significativamente nos próximos anos, de acordo com novas pesquisas na região.
A empresa trabalha em um projeto visando a expansão das reservas da mina, que estava com vida útil prevista para 14 anos. Agora, com a aquisição do grupo chinês Baiyin Nonferrous, a estimativa é de que seja ampliada a extração do minério para 20 anos.
No último mês de junho, a Defensoria Pública do Estado de Alagoas ajuizou uma Ação Civil Pública contra o município de Craíbas, cobrando transparência na aplicação das verbas recebidas em virtude das atividades de mineração, por meio da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e a adoção de medidas concretas para reparar os impactos e prevenir novos danos.
De acordo com o órgão, a ação visa assegurar que a população local tenha seus direitos respeitados, especialmente nos territórios mais atingidos por prejuízos ambientais e sociais decorrentes da atividade mineradora.
CRAÍBAS
Processo na Justiça cobra reparações
O processo tramita na Justiça desde junho deste ano, cobrando providências e reparações.
Entre os pedidos, a instituição requer que o município apresente com urgência a prestação de contas dos valores já recebidos via CFEM e elabore um plano de investimentos voltado à proteção de direitos fundamentais, como saúde, educação, segurança, moradia e lazer. O plano também deverá contemplar medidas preventivas, como a realocação de famílias em áreas de risco, quando necessário.
A ação ainda solicita que o município seja condenado ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, pela omissão na aplicação adequada dos recursos e pela ausência de ações efetivas para garantir compensações às comunidades afetadas.
Um relatório produzido pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil de Alagoas (Cepdec/AL) revela que 114 imóveis apresentam fissuras e rachaduras no chão, teto e nas paredes.
O documento foi divulgado após vistorias realizadas em março de 2024 nas comunidades rurais de Craíbas, município localizado no Agreste de Alagoas, com 26 mil habitantes e distante 154 km de Maceió.
Os danos estruturais em 114 moradias e armazéns agrícolas no Sítio Lagoa do Mel e nos povoados Riacho Fundo, Torrões, Pau Ferro, Lagoa do Félix, Capim, entre outras localidades da área rural do município de Craíbas, já provocam queda de 50% no preço dos imóveis.
Existe a forte possibilidade de que as rachaduras podem ser resultado das fortes explosões na mina de cobre, ferro e ouro, no Povoado Serrote da Laje, onde a Mineradora Vale Verde (MVV), que foi recentemente adquirida pelo grupo chinês Baiyn Nonferrous, pelo valor de R$ 2,3 bilhões de reais, para o envio dos minérios para o país asiático.
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