Cidades
Obra embargada continua em andamento
Segundo moradores, trabalhos na via que ligará avenidas da parte alta não parou

Moradores do Antares II, em Maceió, mais precisamente da Rua Audálio Lopes da Silva, denunciaram que a Braskem e a Prefeitura de Maceió continuam realizando atividades na obra do Projeto Viário que deve interligar as avenidas Durval de Góes e Menino Marcelo, na capital. Conforme a população, a obra está embargada devido à falta de licença ambiental.
A construção da pista é contestada, há tempos, pelos moradores. O Projeto Viário faz parte das obras de mobilidade urbana previstas no acordo socioambiental firmado em 2020 entre o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público Estadual (MP/AL) e a Braskem.
A construção da pista que liga as duas avenidas chegou a ser suspensa para avaliar os impactos da abertura da nova via para moradores que serão obrigados a deixar suas casas no bairro do Antares.
A suspensão foi recomendada pelo MPF e pelo MP/AL após uma inspeção realizada no Loteamento Terra de Antares II, ocasião em que foram ouvidos moradores de 24 residências que devem ser desapropriadas para a construção.
Após uma análise técnica e discussões, concluiu-se que, embora seja uma decisão da administração pública, o projeto escolhido pelo município foi considerado o mais eficaz e benéfico para a população de Maceió, tanto no presente quanto no futuro, já que há a intenção de, futuramente, interligar a via à Rota do Mar.
A prefeitura de Maceió ficou responsável pela execução das obras e a Braskem, pela contratação das empresas. Para essas obras, a mineradora destinou R$ 360 milhões. As intervenções na mobilidade urbana da capital foram iniciadas em 2022, quando da adesão parcial do município ao acordo.
Os moradores – que pediram para não terem seus nomes identificados por temerem represálias – citaram como alternativa um estudo técnico de pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
O grupo alegou que a Ufal demonstrou uma alternativa para a construção da via, utilizando outras duas vias num percurso inicial, de modo que, ao invés de desocupar cerca de 20 a 30 casas seriam desocupados apenas dois galpões comerciais.
Morador vai ficar ilhado entre via e praça
“Nem prefeitura nem Braskem levaram em conta o que disse a Ufal. Preferiram cortar um bairro ao meio”, alegou um morador. De acordo com ele, tem morador cuja casa vai ficar ilhada entre a rodovia e a praça. “Com uma doença gravíssima nos ossos, ele chora diariamente”.
Conforme a população, apesar de a obra estar embargada, esperando a licença ambiental, as atividades seguem com as demolições dos imóveis. Os moradores explicaram que apenas uma avenida, a Avenida Maria Carolina Moreira Sampaio, separa o Antares I do Antares II.
“E era para a obra acontecer justamente nessa avenida ou na rua da caixa d’água, onde fica a Associação dos Deficientes. Mas, de uma hora para outra, determinaram que tem que ser no trajeto mais improvável. Qualquer estudante de Engenharia ou de Urbanismo que está cursando o primeiro período é capaz de afirmar que o trajeto escolhido é o menos apropriado. No entanto, quem manda e desmanda em Maceió é a Braskem, então, a preocupação com a população é zero”, denunciou um morador que ainda alegou desmatamento na região para a obra acontecer.
Rede Alagoana pelo Meio Ambiente
Na avalição da Rede Alagoana pelo Meio Ambiente, a obra representa um crime ambiental e gera impacto social na construção da Linha Verde em Maceió.

Denúncia diz que projeto representa crime ambiental
A Rede afirmou que coletivos e organizações da sociedade civil protocolaram uma representação no Ministério Público Federal denunciando a supressão irregular de vegetação nativa da Mata Atlântica para a construção da Linha Verde, projeto viário que liga os bairros Tabuleiro do Martins e Antares, em Maceió.
“O desmatamento, que já resultou na perda de aproximadamente 10 hectares do bioma, ocorreu sem as devidas autorizações ambientais e sem um plano adequado de mitigação de impactos”, alegou a Rede.
Além dos danos ambientais, a denúncia também questiona o traçado determinado pela prefeitura de Maceió, que na proposta inicial acarretaria a desapropriação e demolição de cerca de 40 imóveis no bairro Antares.
Ainda conforme a Rede Alagoana pelo Meio Ambiente, moradores diretamente impactados pelo projeto já haviam recorrido ao MPF apresentando uma alternativa de traçado que reduziria os impactos sociais e ambientais.
No entanto, até o momento, os questionamentos seguem sem resposta, e as famílias afetadas enfrentam incertezas sobre sua situação, pois até o momento não foram informados do projeto atual, para onde as obras irão avançar e se o número de desapropriações será maior que o estimado.
Segundo a denúncia, feita pela Rede Alagoana pelo Meio Ambiente, o desmatamento começou no primeiro semestre de 2024, afetando espécies ameaçadas de extinção e expulsando a fauna silvestre de seu habitat.
Desde então, moradores da parte alta da cidade relatam um aumento na presença de animais como saguís, bichos-preguiça, tamanduás-mirins e serpentes em áreas urbanas, gerando riscos tanto para a fauna quanto para a população. A ausência de um projeto de resgate e reabilitação da fauna agrava ainda mais a situação.
IMA suspendeu serviços por causa de desmatamento irregular
“No dia 26 de julho de 2024, o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) embargou a obra e multou a prefeitura de Maceió e a Braskem em R$ 450 mil por desmatamento irregular. A empreiteira S.A. Paulista, responsável pela execução do projeto, também foi autuada em R$ 150 mil.
A supressão da vegetação ocorreu sem autorização do IMA e do Ibama, sem registro no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) e sem um plano de compensação ambiental para garantir o replantio de espécies nativas”, salientou a Rede Alagoana pelo Meio Ambiente.
A denúncia ressalta ainda que a Mata Atlântica é protegida pela Lei nº 11.428/2006 e que qualquer intervenção no bioma exige autorização prévia dos órgãos ambientais. A presença de espécies ameaçadas, como o Pau-brasil, torna a infração ainda mais grave.
Diante das irregularidades, as instituições pedem que o MPF determine a suspensão imediata da obra até que sejam apresentados estudos e licenças ambientais obrigatórios, incluindo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), planos de manejo de fauna e flora, e autorizações para supressão de vegetação nativa.
Através da Rede Alagoana pelo Meio Ambiente, a sociedade civil reafirma a importância do desenvolvimento urbano alinhado à proteção ambiental e à responsabilidade social, cobrando transparência e compromisso das autoridades envolvidas no projeto.
“Exige-se, portanto, que o traçado da obra seja revisado, garantindo o direito da população à informação sobre as intervenções e assegurando sua participação no processo decisório em todas as etapas do projeto, concluiu a Rede.
Braskem
Por meio de nota, a Braskem informou que a via de ligação entre as avenidas Menino Marcelo e Durval de Góes Monteiro está em fase de construção e tem sua entrega prevista para 2026.
A mineradora detalhou que a via expressa terá 2,3 quilômetros de extensão e contará com duas faixas de tráfego em cada sentido, canteiro central, rotatória, duas pontes, além de ciclovias e calçadas acessíveis.
“Estudos prévios foram produzidos para minimizar impactos e otimizar resultados sociais e ambientais. A obra opera de forma regular e conta com as licenças, autorizações necessárias e acompanhamento dos órgãos competentes”, pontuou.
Ainda conforme a Braskem, a implementação de medidas para a melhoria da mobilidade urbana consta no Termo de Acordo Socioambiental assinado em dezembro de 2020 pelo Ministério Público Federal (MPF) e Braskem, com a participação do Ministério Público Estadual (MPE) e adesão do município de Maceió.
IMA
O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA/AL) informou que há um embargo em uma pequena área de aproximadamente um hectare em uma obra na Rua Audálio Lopes da Silva. O motivo é a necessidade de anuência do órgão estadual devido ao estágio de vegetação presente no local.
O restante da obra segue liberado, com a execução autorizada pelo município, que também é responsável pela licença de instalação.
Seminfra
A Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) informou que a obra da Linha Verde, que fará a ligação entre as avenidas Durval de Góes Monteiro e Menino Marcelo, não se encontra embargada pela Justiça e que todas as licenças ambientais foram emitidas, conforme a lei.
O órgão esclareceu, ainda, que em julho de 2024, o IMA pediu o embargo da obra porque uma parte dela, sendo 3,5 hectares, estava em área de Mata Atlântica.
“O município solicitou a liberação da obra, o que ocorreu no mês seguinte, permanecendo embargada apenas a referida área de vegetação, localizada na ponte 2, que necessita de anuência do IMA. Dessa forma, os trabalhos na via acontecem normalmente, exceto na parte embargada”.
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