Cidades
DMTT relaciona vias mais congestionadas de Maceió
Porém, órgão que gerencia trânsito não cita outras vias problemáticas que infernizam motoristas na capital
Para muitos – leia-se motoristas, motociclistas, ciclistas, pedestres – não há surpresas. As vias de grande e maior fluxo de veículos na capital alagoana são os corredores formados pelas avenidas Fernandes Lima, Durval de Góes Monteiro e Lourival de Melo Mota, maior elo direto entre as partes alta e baixa de Maceió. E também vias como a Avenida Menino Marcelo, que vai do Barro Duro à Cidade Universitária, além da Avenida Gustavo Paiva, que concentra o tráfego das cidades do litoral Norte com Maceió.
A informação é do Departamento Municipal de Transportes e Trânsito (DMTT) que, em nota enviada à Tribuna, diz manter estudos para melhorar o fluxo de veículos, que se intensificou em reflexo ao aumento da frota. Segundo a DMTT, Maceió alcançou nos últimos 10 anos a marca de capital do Nordeste com o maior crescimento no número de veículos, 44%, seguida de cidades como João Pessoa (43%), Teresina (38%), São Luís (34%), Fortaleza e Aracaju (27% cada).
Porém, vias que diariamente infernizam a vida de motoristas, motociclistas e pedestres, como Barão de Atalaia, que liga os bairros do Poço e Centro; Comendador Leão, no Poço; Tomás Espíndola, no Farol; Amélia Rosa, na Jatiúca; Avenida Governador Afrânio Lages (Leste/Oeste); e Governador Lamenha Filho, no Feitosa, não são citadas.
Mas o fato é que Maceió ganha, diariamente, uma média de 25 novos veículos nas ruas, de acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). E isso reflete a sensação de motoristas e pedestres de que o trânsito na capital está sempre sob sinal vermelho e com um congestionamento em cada esquina.
Por exemplo, dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023 revelam que o número de veículos quase dobrou em Alagoas nos últimos 10 anos. As cidades que possuem as maiores frotas são Maceió e Arapiraca, respectivamente. Esse mesmo estudo mostra que Maceió é o município onde se concentra a maior parte da frota de veículos em Alagoas. Segundo os dados, atualmente, a capital alagoana possui 408.561 veículos registrados. Há 10 anos, esse número era de 266.465 veículos.
Órgão diz que há estudos e investimentos em mobilidade
Em contrapartida ao que dizem especialistas do trânsito em relação a transporte público de qualidade, o DMTT afirma que o município também segue investindo na renovação da frota, com a aquisição de 105 novos ônibus, sendo 97 equipados com ar-condicionado, o “Geladão”. Ainda para o transporte público, o órgão informa que foram reformados os terminais do Eustáquio Gomes e do Village Campestre II, além de estar em andamento a reforma do terminal do Rosanne Collor e o projeto para a reestruturação de outros equipamentos, como o terminal do Benedito Bentes. No segmento do transporte público, a prefeitura anunciou o BRT de Maceió, que deve atender mais de 600 mil pessoas por dia.
Em contrapartida ao que supõem especialistas sobre um possível gargalo ou travamento futuro no trânsito, o órgão afirma que segue com estudos técnicos para melhorar o tráfego nas vias da cidade e garantir segurança viária e mobilidade urbana. O DMTT está entre as secretarias que integram o grupo para a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana de Maceió, junto ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Iplan), a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminfra) e a Secretaria Municipal de Ações Estratégicas e Integração Metropolitana (Semaemi). O projeto será executado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Outro aspecto que o poder público destaca é a mobilidade ativa, com a ampliação da malha cicloviária de 30 km para mais de 90 km, com trechos interligados como a ciclofaixa do Canaã e a ciclovia das avenidas Durval de Góes Monteiro e Fernandes Lima. Também estão inclusas as faixas verdes e os passeios compartilhados, já presentes na orla de Maceió e na Gruta de Lourdes, por exemplo. Há também investimento em tecnologia, com a instalação de semáforos inteligentes e 4G, que permitem ajustes remotos na rede semafórica, para melhorar a fluidez nas principais vias da capital.
Especialistas veem tráfego com preocupação e elencam problemas
Em reportagem do ano passado publicada pela Tribuna, na avaliação de Renan Silva, especialista em mobilidade e mestre em desenvolvimento local, as ruas não comportam o aumento do tráfego e, certamente, haverá, em pouco tempo, saturação com essa pressão espacial que os veículos geram no espaço público.
De acordo com Silva, uma pessoa que utiliza um automóvel ocupa 50 a 60 vezes mais espaço público do que uma pessoa que utiliza um ônibus.
“Esse aumento da frota pressiona demais a malha viária da capital. Para absorvermos a demanda de uma média diária de 25 novos carros que entram nas ruas todos os dias, teríamos que construir 10 quilômetros de novas vias com duas faixas por sentido para poder comportar. O que é insustentável tanto do ponto de vista espacial quanto do ponto de vista econômico. As cidades que conseguem manter minimamente um trânsito harmônico sem tanta saturação têm como estratégia criar um ambiente de desenvolvimento focando também na infraestrutura de transportes com a maior diversidade de meios de transporte possível. E olhe que 40% dos deslocamentos de Maceió são feitos a pé ou de bicicleta”, explicou Renan Silva
.
Já o engenheiro especialista em Segurança Viária, Antônio Monteiro, também em reportagem recente, lembrou que, na década de 90, Maceió tinha cerca de 60 mil veículos e hoje tem mais de 360 mil. O número de veículos foi multiplicado por 6 em 30 anos.
O grande gargalo no trânsito é, segundo o especialista, as falhas no transporte de massa. Não existem corredores de grande fluidez de ônibus. Na falta de transporte de massa adequado, a população busca sempre o transporte individualizado, como motos ou carros com, no máximo, duas pessoas. Há diversas famílias com um carro para cada membro adulto e para cada filho quando atinge a idade para tirar a habilitação.
“Isso sem falar nos problemas da falta de grandes projetos. A cidade cresceu e temos apenas como grandes corredores as avenidas Menino Marcelo, Fernandes Lima e Durval de Góes Monteiro. Perdemos a região do Bebedouro. Recentemente, ganhamos a Rota do Mar que não necessariamente liga a parte alta à parte baixa da cidade”, considerou Monteiro.
O processo de ciclovias recém-iniciado foi citado pelo engenheiro Antônio Monteiro como algo ainda insuficiente em quantidade e que não está seguindo, em sua totalidade, o manual do espaço cicloviário, que é uma lei federal.
“Precisávamos ter VLT [veículo leve sobre trilhos], BRT [ônibus de transporte rápido, em tradução livre], bondes para garantir o transporte de massa da população. Eu não falo nem em abrir novas vias, falo em investir muito em transporte de massa”, frisou. BRT é um corredor de ônibus de alta capacidade que pode proporcionar um serviço rápido, confortável e de alto custo-benefício, com capacidade equivalente aos sistemas de metrô.
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