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Estudo da Ufal revela poluição alarmante na Lagoa Mundaú

Pesquisa revela contaminação por metais pesados e microrganismos, além dos efeitos da proliferação do sururu exótico na economia local

Por Thayanne Magalhães / Tribuna Independente 20/11/2024 08h48 - Atualizado em 20/11/2024 11h32
Estudo da Ufal revela poluição alarmante na Lagoa Mundaú
Edjane Batista destaca papel socioeconômico da lagoa para o Estado - Foto: Edilson Omena

A mestranda Edjane Batista, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), revelou ao TH Entrevista dados preocupantes sobre a situação ambiental da laguna Mundaú, em Maceió. A pesquisa apontou altos níveis de poluição, ameaça à biodiversidade local e sérios impactos sociais e econômicos para pescadores e marisqueiras que dependem do ecossistema para sobreviver.

A relevância da laguna para Maceió

A laguna Mundaú é um dos maiores e mais importantes ecossistemas brasileiros. Além de ser fundamental para a biodiversidade, ela desempenha um papel socioeconômico essencial, como destaca Edjane Batista.

"Biologicamente, a laguna é riquíssima. Mas, infelizmente, há anos vem sofrendo com poluição e assoreamento, principalmente causados pelas atividades humanas. Isso compromete tanto o equilíbrio ambiental quanto a sobrevivência de quem depende dela", afirmou.

Qualidade da água e riscos à saúde

O estudo avaliou parâmetros físico-químicos e microbiológicos da água da laguna, identificando substâncias químicas em níveis alarmantes, como cloreto, zinco, ferro, cobre e manganês. Além disso, foram encontrados coliformes totais e a bactéria Escherichia coli, conhecida por causar doenças graves.

"A presença desses poluentes e microrganismos é preocupante porque muitas famílias utilizam a laguna para pesca e mergulho na extração de peixes e moluscos. Isso representa um risco enorme à saúde pública", explicou Batista.

Impactos na biodiversidade: o caso do sururu nativo

Um dos principais impactos da poluição é a redução de oxigênio dissolvido na água, condição que contribui para o desaparecimento do sururu nativo, tradicionalmente explorado na região. A pesquisadora destacou ainda a proliferação do sururu exótico, que tem se tornado um problema ambiental e econômico.

Poluição provoca redução dos níveis de oxigênio nas águas da Lagoa Mundaú, causando mortandade do pescado, inclusive do sururu (Foto: Edilson Omena)

"O sururu exótico não apresenta as mesmas características do nativo. Ele é resistente à poluição e não tem o mesmo valor nutricional nem a aceitação para consumo humano. Além disso, compete por nutrientes e prejudica a fauna local", explicou.

Essa proliferação tem resultado na diminuição da renda das comunidades de pescadores e marisqueiras. Além do desaparecimento do sururu nativo, também foram relatadas a escassez de peixes, crustáceos e algas, agravando ainda mais a situação.

Os desafios enfrentados pelos trabalhadores

Segundo os relatos dos pescadores e marisqueiras, a proliferação do sururu exótico e a redução no tamanho do sururu nativo estão entre os principais problemas. "Hoje, já não encontramos o mesmo volume de peixes e mariscos que antes garantiam nossa sobrevivência. A situação está muito difícil", relatam.

Medidas para a preservação da laguna

O estudo sugere a adoção de medidas urgentes para combater a poluição e recuperar o equilíbrio ambiental da laguna. Entre as ações propostas estão:

Identificação e controle de efluentes poluidores: identificar os principais agentes que despejam poluentes na laguna e implementar medidas de controle.

Reflorestamento da vegetação auxiliar: ações de reflorestamento para minimizar o assoreamento e ajudar na recuperação da biodiversidade.

Conscientização da comunidade e políticas públicas: estimular a educação ambiental e implementar políticas voltadas para a conservação do ecossistema.

"São necessárias ações integradas, envolvendo o poder público, a sociedade e os pesquisadores. É preciso cuidar da laguna Mundaú, não apenas pela biodiversidade, mas também pelas milhares de famílias que dependem dela para sobreviver", concluiu Edjane Batista.

Um futuro em risco

A laguna Mundaú é mais do que um cartão-postal de Maceió. Ela é símbolo de cultura, biodiversidade e fonte de sustento para centenas de famílias. Contudo, a degradação ambiental avança de forma alarmante, pedindo ações urgentes para reverter os danos e garantir um futuro sustentável para o ecossistema e a comunidade que dele depende.

Para assistir a entrevista completa, o leitor pode acessar o portal Tribuna Hoje no YouTube:

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