Cidades
Vítimas da Braskem temem outro colapso
Moradores dos bairros atingidos denunciam que mineradora parou tamponamento da mina 27 e removeu trabalhadores
Moradores da região do Bom Parto, Bebedouro e Flexais estão preocupados com a possibilidade da mina 27 entrar em colapso a exemplo da mina 18 que colapsou no final do ano passado. Nas mídias sociais, eles disseram que não confiam na Defesa Civil Municipal, que descartou qualquer possibilidade de desastre na região, embora tenha retirado os operários que trabalhavam da área e suspendendo a operação de preenchimento da mina.
Segundo um morador de Bebedouro, na última segunda-feira, os sismógrafos instalados perto do antigo Colégio Bom Conselho registraram movimentação atípica do solo, o que fez disparar o alarme sonoro, emitindo pelo menos dois sinais de alerta. “Eu tenho uma fonte de dentro da própria Defesa Civil de Maceió, que confirmou essa ocorrência, garantindo que, na data de ontem [segunda-feira], dois sismógrafos alarmaram em dois pontos diferentes: um no Colégio Bom Conselho e o outro próximo ao Cemitério de Bebedouro”, revelou um morador de Bebedouro, nas mídias sociais.
“Assim que eu soube o que estava acontecendo entrei em contato com um amigo da Defesa Civil, ex-morador dos bairros atingidos pela mineração, que confirmou o acionamento das sirenes de alerta, dizendo que os sismógrafos estavam alarmando”, acrescentou o morador de Bebedouro, que se identificou apenas como Pablo Alves.
Questionado sobre a nota da Defesa Civil Municipal, dizendo que está tudo sob controle e descartando qualquer risco para a população, ele lembrou que “quando a mina 18 entrou em colapso, no dia 10 de dezembro de 2023, a Defesa Civil também havia dito, quatro dias antes, que nada de grave iria acontecer”. Deu no que deu: a população da vizinhança teve que ser retirada às pressas de suas casas, por conta de o risco iminente do solo ceder de vez.
No último dia 9 de outubro, uma movimentação atípica do solo provocou um desnível acentuado, levando a empresa a suspender as atividades de preenchimento da mina 27 e comunicar essa decisão à Agência Nacional de Mineração (ANM), que autorizou e monitora a operação de tamponamento das minas de sal-gema desativadas por decisão judicial, em Maceió.
Segundo o coordenador da Defesa Civil Municipal, Abelardo Nobre, o desnível do solo nas imediações da mina 27, às margens da Lagoa Mundaú e próximo à antiga Casa de Saúde José Lopes, foi registrado pela Braskem, dentro de uma inspeção de rotina. Imediatamente, a empresa paralisou os trabalhos e dispensou os operários. No entanto, a operação de preenchimento das minas continua em outras cavidades, a exemplo das minas 20 e 21 que continuam sendo preenchidas.
A Braskem confirmou a paralisação do tamponamento da mina 27, mas não disse quando os trabalhos serão retomados. A empresa até agora não explicou a movimentação atípica das águas da lagoa e o aparecimento de manchas, capitadas por imagens captadas pelo Observatório Ambiental, que monitora o comportamento das 35 minas de sal-gema desativadas pela Braskem, na região.
MUVB cobra interferência da Justiça Federal no caso
Para o servidor público Maurício Sarmento, integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), a falta de informações confiáveis acerca da situação da mina 27 é um verdadeiro absurdo. “Enquanto a Braskem suspende os trabalhos na mina 27 para proteger seus trabalhadores, as autoridades continuam ignorando o risco à vida dos moradores que ainda estão na área”, afirmou Sarmento.
“Um afundamento foi registrado, mas o perigo para as famílias segue sendo negligenciado. Afinal, se o solo está instável para os funcionários, como pode ser seguro para quem vive ali?”, questionou o integrante do MUVB. “A responsabilidade por essa tragédia anunciada cai diretamente sobre o juiz federal André Granja, que, até agora, perpetua a permanência dessas famílias em áreas de extremo risco”.
A reportagem da Tribuna Independente procurou ouvir o juiz André Granja, por meio da assessoria de comunicação do Tribunal Regional Federal da 5ª Região em Alagoas, mas ele não quis se manifestar, lembrando que “a Lei Orgânica da Magistratura Nacional impede que magistrados se manifestem a respeito de processos que tenha sob sua responsabilidade”.
A Braskem também foi procurada, por meio da sua assessoria de imprensa, para dizer se já tem o laudo do recalque do solo na mina 27, mas a empresa preferiu não se manifestar, pelo menos até o fechamento desta matéria.
O Ministério Público Federal (MPF) também foi acionado para falar sobre o assunto. Por meio das mídias sociais, a assessoria do MPF informou que continua acompanhando o monitoramento da mina com problema, mas descartou qualquer solicitação de medida de emergência.
Em nota, MPF alega que acompanha toda a situação
Em uma das postagens, em resposta a um morador da área, o MPF disse: “Agradecemos seu contato e entendemos a preocupação da população em relação às informações que circulam sobre paralisação dos serviços relacionados à mina 27”.
“Contamos com sua colaboração para tranquilizar a comunidade, uma vez que a Defesa Civil do Município esclarece que a paralisação foi uma medida preventiva, prevista no protocolo de segurança, adotada para garantir a integridade física dos trabalhadores. A área vulnerável ao afundamento está isolada e a segurança dos trabalhadores está sendo monitorada”.
Além disso, a Defesa Civil explicou que o desnível observado é uma situação esperada devido ao uso de máquinas pesadas na superfície. “No entanto, não houve qualquer tremor detectado, e os equipamentos de monitoramento não apontaram alertas. Mais um equipamento [DG] foi instalado na região para acompanhar a situação específica deste desnível do solo”, acrescentou.
“O MPF está acompanhando de perto a situação e já solicitou à Defesa Civil e à Braskem que continuem esclarecendo a população sobre os fatos e as providências em andamento.”, concluiu a assessoria do órgão ministerial.
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