Cidades

Morador quer audiência pública e transferir conjunto de Rio Largo para município de Satuba

Por Wellington Santos/Tribuna Independente 20/07/2024 08h32
Morador quer audiência pública e transferir conjunto de Rio Largo para município de Satuba
Conjunto Margarida Procópio, atualmente pertencente ao município de Rio Largo, sob prostesto de boa parte de moradores da localidade por causa dos precários serviços prestados à comunidade - Foto: Adailson Calheiros

O ex-presidente da Associação de Moradores do Conjunto Margarida Procópio, localizado no município de Rio Largo, Carlos Alberto Antunes, disse que vai convocar a população do conjunto residencial e adjacências a questionar os atuais limites territoriais da localidade através de um abaixo-assinado e convocar uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE). Ele e muitos moradores estão insatisfeitos com os serviços prestados pela Prefeitura de Rio Largo, questionam os impostos, limites e querem que o Margarida volte a ser do município de Satuba, como há 9 anos. Sua insatisfação é baseada na Lei 2.265 de 1970 que diz que o território pertence a Satuba e não a Rio Largo.

O imbróglio é mais um capítulo da confusão dos limites territoriais que envolve os municípios do chamado “Triângulo das Bermudas”, Rio Largo, Satuba e Maceió, que a Tribuna vem trazendo à tona em série de reportagens sobre as confusões de limites. Ele atribui grande parte da culpa ao ex-prefeito Toninho Lins, que geriu a cidade de Rio Largo em dois mandatos consecutivos (2009 e 2016). “O Toninho fez muito discurso bonito e promessas mas não cumpriu muita coisa quando prefeito”, diz Carlos. “O transporte por aqui toda vida foi terrível”, acrescenta. Na época, as tratativas foram feitas com o ex-prefeito de Satuba Paulo Aciloi. “Ele conseguiu tirar de Satuba três conjuntos residenciais, mais o Margarida Procópio, denominado de Brasil Novo, por ambição de aumentar o Censo do IBGE para levar a Rio Largo uma população maior e um Fundo de Participação dos Municípios (FPM) de receita maior”, disse Carlos.

“Fomos dormir em Satuba e acordamos em Rio Largo”

De acordo com Carlos, a tratativa que tirou o Margarida Procópio do município de Satuba foi feita pelo então prefeito de Rio Largo, Toninho Lins, com o então prefeito de Satuba, Paulo Acioli, para discutir a transferência de responsabilidades entre os municípios nos conjuntos habitacionais Margarida Procópio, Guriatã, Mário Mafra, Santa Apolônia, Chico Mendes e Cruzeiro do Sul, do Complexo Residencial Brasil Novo. “Dormimos em Satuba e acordamos em Rio Largo”, diz o morador e ex-presidente da associação.

Os conjuntos habitacionais, que pertenciam ao município de Satuba, passaram a partir do dia 1º de janeiro de 2015 a pertencer ao município de Rio Largo. A demarcação territorial dos conjuntos Margarida Procópio e Santa Apolônia se arrastava por vários anos e foi confirmada em decisão do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral). Segundo Carlos, à época, o prefeito Toninho Lins teria assegurado aos moradores que, apesar da mudança, o Margarida Procópio teria muitas melhorias. “Ele (Toninho) esperava que o Censo do IBGE aumentasse a população, mas não foi o resultado que ele esperava. Mas aí é que está. Ele conseguiu uma demarcação numa articulação política com o Iteral e uma medição com oportunismo político. Dormimos em Satuba e acordamos em Rio Largo”, acusa Carlos.

Lei 2265 de 1970

Sua justificativa para contestar os atuais limites do Margarida Procópio tem como base a Lei 2265 de 1970 que diz que o território pertence a Satuba e não a Rio Largo. “O IPTU de toda essa parte que Rio Largo se diz dono passou a ser deles. Mas eles não podem passar por cima da lei e por isso, baseada nessas reportagens da Tribuna, vamos convocar uma audiência pública na Assembleia Legislativa para questionar tudo isso. Vamos procurar lideranças políticas e a população com um abaixo-assinado”, conclui.

A Tribuna tentou entrar em contato com o ex-prefeito Toninho Lins, mas não conseguiu contato, bem como com o então prefeito de Satuba, Paulo Acioli, mas também não obteve êxito.

A cidade de Satuba, na Região Metropolitana de Maceió, teve a 8ª maior taxa de crescimento da população entre as cidades brasileiras, 95,11%, passando de 12.443 habitantes em 2010 para 24.278 em 2022. Os dados são do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a população da cidade de Rio Largo chegou a 93.927 pessoas no Censo de 2022, o que representa um aumento de 32,88% em comparação com o Censo de 2010.

Série

A Tribuna deu início à série de reportagens que dão conta que Alagoas, ao longo do tempo, tem histórias de conflitos de divisas, quer sejam estaduais, municipais e até interestaduais. Na primeira edição dos imbróglios por territórios, a Tribuna trouxe à baila a história de como se encontra o conflito por conta de divisas e, principalmente, dos impostos gerados por causa do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares, disputado pelas prefeituras de Maceió e Rio Largo. Atualizamos o leitor que este caso está nas barras dos tribunais e o último round na Justiça quem ganhou foi o município de Rio Largo. A Tribuna apurou que Maceió perdeu, em média, desde 2020, o equivalente a R$ 1,6 milhão por cada ano, ou seja, o município de Maceió deixou de arrecadar no acumulado em impostos somente do aeroporto, sem contar os estabelecimentos que fazem parte da estrutura, a exemplo das lojas, R$ 6,4 milhões no acumulado de três anos.

Na segunda reportagem, a Tribuna contou outros conflitos territoriais envolvendo o chamado “Triângulo das Bermudas”, que envolvem Maceió, Rio Largo e Satuba.