Cidades

Riacho Doce: obras provocam danos ambientais

Moradores afirmam que trabalho beneficia propriedade privada e que pode provocar morte de tartarugas no local

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 30/05/2024 16h45 - Atualizado em 31/05/2024 09h18
Riacho Doce: obras provocam danos ambientais
Serviços vêm causando diversos danos na praia de Riacho Doce - Foto: Sandro Lima

Moradores de Riacho Doce, bairro situado no Litoral Norte de Maceió, denunciaram o intenso trabalho de máquinas retroescavadeiras na praia. Os equipamentos, segundo a população local, estão à serviço de uma propriedade privada que tenta, a todo custo, conter o avanço do mar na construção.

O trecho alvo das máquinas fica atrás da Associação da Caixa Econômica Federal, cuja fachada está localizada à Avenida General França de Albuquerque, s/n.

Desde que o serviço foi iniciado, a comunidade disse que perdeu o sossego e que não desgruda os olhos no que chamam de crime ambiental.

“Literalmente perdemos o sono desde que as máquinas retroescavadeiras passaram a cavar buracos enormes na extensão de areia. O meio ambiente não precisa passar por mais essa ação maléfica do homem”, contou o morador local que pediu para não ter seu nome revelado, sob o argumento de que “a perseguição dos interessados em acabar com a natureza é grande”.

Segundo os moradores, as retroescavadeiras estão operando na região desde o último dia 23. Incrédula, os “vizinhos” da obra avistaram uma placa do Instituto do Meio Ambiente licenciando a ação “predatória”, como está sendo chamada a escavação.

“A edificação já invade e muito a faixa de areia. Como pode querer pegar ainda mais o espaço da natureza”, indagou uma moradora que também preferiu não dizer seu nome. Ela questionou quando as empreiteiras vão deixar de explorar a região. “Já não basta estarem conseguindo verticalizar todo o litoral norte? Ainda querem mexer no que resta de areia do mar”, reclamou.

Um terceiro morador afirmou que não será surpresa quando, um dia, as casas mais antigas que não se adequam aos padrões luxuosos dos prédios modernos sejam todas derrubadas por essas mesmas máquinas que, hoje, não respeitam o que resta de praia no local.

“Só o fato de a retroescavadeira passar pela praia já causa um grande impacto ambiental. Imagina uma máquina pesadíssima como essa, de várias toneladas. Como as tartarugas conseguem sobreviver com esse peso acima delas? Riacho Doce é praticamente uma praia virgem ainda, se comparamos às demais praias da capital. Qualquer biólogo sabe que estamos diante de mais um crime”, disse.

IMA confirma que o serviço recebeu licença para execução

O Instituto do Meio Ambiente (IMA) confirmou que a obra recebeu licença do órgão. “É uma obra de instalação de sandbags (sacos de areia), está autorizada pelo IMA mediante cumprimento de condicionantes”.

O trecho foi extraído das informações enviadas à Tribuna Independente pelo IMA. O órgão ambiental não apresentou detalhes do que chamou de condicionantes.

Ainda conforme, o IMA a instalação dos sacos de areia objetiva evitar o avanço do mar e proteger a estrutura do imóvel. Na placa sinalizadora do IMA que autoriza a obra, a definição é de “implantação de obra de contenção de erosão marinha”.

Instituto Biota

O Instituto Biota explicou que assim que teve conhecimento da obra, reportou o problema aos órgãos ambientais. Tanto municipal, quanto estadual.

Na avaliação do Bruno Stefanis, representante do Biota, a obra precisa ser melhor acompanhada. “Ter licença é uma coisa. Cumprir exatamente o que a licença permite é outra coisa. Os órgãos ambientais precisam acompanhar o trabalho depois que emitem uma licença”, ponderou.