Cidades
Vítimas esperam que relatório da CPI enquadre Braskem por tragédia
Relatório tem previsão de apresentação para hoje, mas somente será votado no dia 22 deste mês

As vítimas da mineração em Maceió esperam que o relatório da CPI da Braskem enquadre e empresa, para que ela possa pagar pela tragédia que provocou, do ponto de vista social, ambiental e criminal. O relatório final do colegiado está previsto para ser entregue hoje, mas só deve ser votado no dia 22 de maio, quando encerra a CPI. A Comissão foi criada, no final do ano passado, por meio de requerimento apresentado pelo senador Renan Calheiros (MDB), para investigar a responsabilidade jurídica e socioambiental da mineradora no afundamento do solo de pelo menos cinco bairros de Maceió: Pinheiro, Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Farol.
Os trabalhos da Comissão começaram em março deste ano, com previsão para ser encerrados em maio. Em pouco três meses de atuação, o colegiado realizou 16 reuniões, sendo 12 audiências públicas para oitiva de 26 depoentes, entre eles dirigentes da Braskem, executivos da empresa, técnicos, geólogos e representantes de vítimas. A CPI também realizou diligências externas na capital alagoana e ouviu agentes públicos de Maceió.
A comissão, que conta com 11 membros titulares e 7 suplentes, é presidida pelo senador Omar Aziz (PSD-AM). O senador Rogério Carvalho (PT-SE) é o relator do colegiado, que tem como vice-presidente o senador Dr. Hiran (PP-RR). Quando esteve em Maceió e foi ciceroneada pelo senador alagoano Rodrigo Cunha (Podemos), a CPI evitou contato com as vítimas, priorizando um roteiro burocrático, de visita à Defesa Civil Municipal, à Braskem e ao Ministério Púbico Federal.
“A CPI só esteve nos Flexais, cuja visita fazia parte do roteiro, no final da tarde, início da noite, mesmo assim depois de muita pressão e porque eu fiz essa sugestão, durante a reunião no auditório do MPF”, afirmou Maurício Sarmento, integrante do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).
Moradores querem a anulação de todos os contratos
Segundo Maurício Sarmento, a grande expectativa é que a CPI faça Justiça e inclua no seu relatório a realocação dos moradores dos Flexais, que sofrem com o isolamento e as rachaduras em suas casas. Por isso, precisam sair da área de risco, com indenizações justas.
“Minha esperança é que a CPI da Braskem possa focar no fato determinante que a originou: a situação das vítimas da Braskem. Isso precisa estar no centro da discussão, caso contrário, a CPI corre o risco de se tornar um documento sem solução para o caso. Por exemplo, querem resolver a situação da mineração no Brasil, algo que não será resolvido a curto prazo, enquanto as vítimas têm pressa na resolução de seus problemas. O princípio da centralidade do sofrimento das vítimas deve ser o norte desse relatório, caso contrário será um documento sem solução para as vítimas da Braskem”, acrescentou Maurício Sarmento.
Anulação dos contratos
Para o empresário Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores Vítimas da Mineração em Maceió, o relatório da CPI precisa conter quatro decisões: “A primeira é a anulação de todos os acordos e a renegociação das indenizações, com base na Constituição e organismos internacionais; segundo ponto, que aponte um diagnóstico completo sobre os danos causados, já que esse que foi apresentado, por empresas contratadas pela Braskem, é fraudulento; terceiro ponto é a anulação do acordo com a Prefeitura de Maceió; o quarto ponto é a punição da empresa e de seus cúmplices, para que crimes como esse não se repitam”.
Sampaio disse ainda que o acordo da Braskem com a Prefeitura, que rendeu à gestão do prefeito JHC (PL) uma indenização de R$ 1,7 bilhão, seja anulado, porque esse valor está muito aquém dos prejuízos causados pela mineração em Maceió. “A gente sabe que os danos totais à cidade de Maceió por parte da Braskem passam dos R$ 8 bilhões.
Só os terrenos vendidos valem mais de R$ 2 bilhões. Portanto, R$ 1,7 bilhão não dar conta sequer ao território vendido, quanto mais os equipamentos públicos destruídos, os danos aos serviços de saúde, danos sociais e à mobilidade urbana”, destacou.
O empresário afirmou também que o relatório da CPI da Braskem tem que punir os responsáveis pelo crime praticado pela mineração predatória em Maceió, que afetou mais de 15 mil imóveis e retirou de suas casas. cerca de 60 mil pessoas.
Senadores da CPI podem incluir Flexais entre as áreas destruídas
“A criminalização é importante, para que o crime seja punido. Tudo isso só aconteceu porque os órgãos de fiscalização ambiental, entre eles o IMA e a Agência Nacional de Mineração, foram coniventes. Nós não pudemos deixar que esse modelo de mineração perpetue no País”, afirmou Sampaio, acrescentando é preciso mudar na legislação e no modelo de mineração no Brasil.
Quando a CPI realizou diligências em Maceió, na semana passada, representantes de associações de vítimas do desastre ambiental pediram aos senadores a inclusão dos Flexais, da Rua Marquês de Abrantes e da Vila Saem no mapeamento dos danos feito pelas autoridades constituídas, para a realocação e indenização dessas comunidades. Aos senadores da CPI da Braskem, Alexandre Sampaio e Cássio de Araújo Silva, coordenador-geral do MURV, afirmaram que o diagnóstico ambiental foi manipulado, pois foi feito pelas empresas Tetra Tech e Diagonal, ligadas à mineradora.
Os senadores Omar Aziz e Rogério Carvalho ficaram de verificar essa possiblidade, mas ponderaram quanto à falta de interesse da empresa e à judicialização desse direito. “O relatório pode até sugerir essa reivindicação justa dos moradores dos Flexais, mas essa conquista vai depender da Justiça, já que os acordos foram feitos, com o aval dos órgãos de fiscalização e controle”, afirmou Carvalho. Segundo ele, o relatório da CPI pode recomendar uma série de medidas, mas tudo vai depender no Ministério Público Federal e da Justiça.
Petrobras não tem interesses na compra total
Só em caso de risco extremo a Petrobras vai adquirir 100% da Braskem, para não deixar os ativos da empresa no mundo se deteriorarem, disse ontem o diretor Financeiro e de Relações com o Mercado da Petrobras, Sergio Caetano Leite, referindo-se ao risco da possibilidade de perda do ativo. Segundo ele, este não seria o cenário ideal para a estatal.
“Tem se falado na compra de 100% da Braskem, mas não é o cenário ideal”, afirmou a analistas durante videoconferência para comentar o resultado da companhia no primeiro trimestre de 2024.
Segundo ele, o “cenário desejado” é que apareça um parceiro com “proposta firme”. Ele disse que a Petrobras segue aguardando as conversas do Novonor (ex-Odebrecht) com eventuais parceiros, mas informou que a estatal já finalizou suas análises (due diligence) sobre a empresa petroquímica.
“O cenário desejado é que apareça um parceiro que coloque proposta firme para a Novonor, que seja do setor petroquímico e de óleo e gás, e que possa acompanhar investimentos futuros para o crescimento da Braskem”, afirmou.
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