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Vídeo: descuido familiar e ausência de guarda-vidas causaram afogamento de menores na Ilha da Crôa

Viviane Cordeiro dos Santos tinha 13 anos e sua prima Melinda Pyetra dos Santos, de seis, morreram afogadas na Barra de Santo Antônio no dia 27 de dezembro

Por Claudio Bulgarelli - Sucursal Região Norte 04/01/2024 22h29 - Atualizado em 05/01/2024 15h08
Vídeo: descuido familiar e ausência de guarda-vidas causaram afogamento de menores na Ilha da Crôa
Local do afogamento, onde ocorre o encontro do Rio Santo Antônio com o mar gera correnteza e é considerado muito perigoso - Foto: Edilson Omena

Viviane Cordeiro dos Santos tinha 13 anos e sua prima Melinda Pyetra dos Santos, de seis. Moravam nas proximidades do conjunto habitacional, conhecido como PC, na parte alta da Barra de Santo Antônio, no centro da cidade. Viviane era aluna da Escola Municipal Benedito Casado e fazia parte do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura da Barra de Santo Antônio, onde participava do grupo de música Batuquetá. Melinda também era aluna da rede municipal. Na quarta-feira, dia 27 de dezembro, por volta das 11 horas da manhã, ambas saíram de casa para irem à praia, na Ilha da Crôa. E aconteceu a fatalidade, quando ambas se afogaram.

Apesar do protesto da mãe de Viviane, Josenilda da Silva, que tentou impedir a filha de ir à praia, acompanhada de Melinda, foram assim mesmo, seguindo uma vizinha, que com sua filha de 15 anos, também estavam indo para a praia. A equipe da Tribuna Independente, esteve no local do afogamento, bem próximo à foz do Rio Santo Antônio, totalmente isolado durante a semana e a praia de maior perigo da região, falou também com moradores e entrevistou com exclusividade com a mãe da adolescente.

Então, por volta das 15 horas da quarta-feira, aconteceu a fatalidade. Um pescador que estava bem próximo a foz do rio, percebeu que as meninas estavam se afogando e tentou resgatá-las. Ele conseguiu retirar a mais velha do mar, Viviane, mas quando chegou na areia da praia, ela já estava sem vida. Imediatamente o Corpo de Bombeiros foi acionado e as buscas começaram na tentativa de encontrar Melinda. A criança de 6 anos, no entanto, foi levada pela correnteza e ficou desaparecida por cerca de 24 horas, até ter o corpo ser encontrado, boiando, na praia de Ipioca, por pessoas em uma lancha particular.

Josenilda da Silva, 35 anos, a mãe de Viviane, afirmou que a filha, que não sabia nadar, não obedecia a ninguém da família, por isso frequentava o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos da Secretaria de Assistência Social. "Eu falei pra ela não ir, mas ela não quis me ouvir e foi assim mesmo. Eu não conseguia mais controlar a minha filha e agora ela está morta", disse a mãe à equipe da Tribuna.

Josenilda da Silva, mãe de Viviane (Foto: Edilson Omena)

O ex-vereador Boy, amigo da família, bem como o morador José Anastácio, profundo conhecedor da região, afirmaram que era necessário ter guarda-vidas nas proximidades do local do afogamento, além de sinalização. José Anastácio afirmou que não é a primeira vez que acontecem afogamentos na região, por se tratar de um local muito perigoso: "que todos os órgãos envolvidos prestem mais atenção nesse local, o mais perigoso de toda a ilha da Crôa. Tem que ter sinalização, tem que ter guarda-vidas, para evitar novos afogamentos, sobretudo, agora, com o verão".

José Anastácio afirmou que não é a primeira vez que acontecem afogamentos na região, por se tratar de um local muito perigoso (Foto: Edilson Omena)

Em relação a esse assunto, em setembro de 2021, a Secretaria de Turismo da Barra de Santo Antônio, enviou um ofício, de número 084, ao Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, solicitando um Posto de Guarda-vidas, considerando que o município é uma rota turística muito procurada, além de considerar uma preocupação com a segurança dos banhistas. Por isso a secretaria tinha solicitado um posto de Guarda-vidas na Ilha da Crôa. Na época aconteceu uma visita técnica dos bombeiros, mas nenhum posto foi instalado.

Em relação ao primeiro ofício, o Corpo de Bombeiros Militar, através de sua Assessoria de Comunicação, afirmou que o ofício foi respondido, dando ciência da impossibilidade no atendimento, devido ao fato de ser uma praia de baixo risco e de baixas estatísticas.

Mas em outubro passado, quando o vereador Márcio Moesio, também reforçou o pedido, enviando novo ofício ao Comando do CBM solicitando instalação urgente de um posto de Guarda-Vidas na Ilha da Crôa, uma nova visita foi realizada e acharam a necessidade de colocação de um posto, devido à crôa de Santo Antônio, que estava se formando. O posto, que deveria ser instalado em frente ao restaurante do Pituba, com 3 bombeiros, jamais aconteceu, segundo o secretário de Turismo, Sérgio Silva.

Já a Prefeitura da Barra de Santo Antônio decretou luto de 3 dias em virtude do falecimento das alunas da rede municipal de ensino, Viviane Cordeiro dos Santos e Melinda Pyetra da Conceição dos Santos, vítimas de afogamento. Afirmou também que a prefeitura deu toda assistência à família das vítimas através da Assistência Social.

Mas segundo o advogado Paulo Guilherme, também ouvido pela reportagem, o município tem responsabilidade quando se trata de um local com canais, redemoinhos e caldeirões. "Em casos semelhantes, a justiça condenou o município a indenizar as vítimas, com valores indenizatórios e pensões até quando as vítimas completariam 65 anos de idade", disse o advogado.

Segundo ele, o município tem o dever de sinalizar com placas os locais de perigo para os banhistas. "Diante do que foi informado para este advogado, o município tem sido omisso no que tange a placas informativas, tanto na região da praia próximo à foz do rio, onde há alguns canais de extremo perigo. Como também na praia do Carro Quebrado, onde há falésias com risco de desabamento e não existem na localidade nenhuma placa informando aos banhistas sobre o perigo de se aproximar das mesmas", finalizou o advogado.