Cidades

Aparelho se perde com rompimento da mina 18

DGPS monitorava cavidade número 18 da Braskem; Defesa Civil diz que acompanhamento segue com outros equipamentos

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 12/12/2023 09h14 - Atualizado em 12/12/2023 17h09
Aparelho se perde com rompimento da mina 18
Águas da lagoa invadiram local onde funcionava a mina 18 - Foto: Edilson Omena

A Defesa Civil de Maceió corre contra o tempo para poder retomar o monitoramento da mina 18 feito pelo equipamento DGPS, perdido com o rompimento da cavidade localizada na Lagoa Mundaú. O equipamento, usado para acompanhar a movimentação do terreno, não foi localizado desde a tarde do último domingo quando o teto da mina se rompeu às 13h15.

O rompimento aconteceu na área que já havia sido delimitada pelos técnicos e que já estava desocupada. O órgão mantém o estado de alerta na região.
O afundamento da mina aconteceu menos de quinze dias depois que as autoridades começaram a monitorar o solo na região que estava para colapsar.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil Municipal, Abelardo Nobre, as equipes técnicas estão estudando a forma mais viável de continuar monitorando a mina que se rompeu e, assim, conseguir traduzir a situação em minúcias. Segundo ele, o rompimento não foi precedido e nem sucedido por abalos sísmicos (tremores de terra).

“Assim que a área voltar a ser observada com a tecnologia apropriada será possível perceber se o solo continua em movimento e, nos próximos dias com os estudos pertinentes, a dimensão do desastre para, a partir disto, atestar se o evento se tratou de um rompimento parcial, restrito ao trecho da Lagoa Mundaú, ou de um colapso”, detalhou.

Apesar de ter perdido o DGPS da mina 18 – usado na rede de monitoramento em torno dos poços de sal-gema e nas áreas de desocupação dos bairros –, o órgão informa que os demais equipamentos instalados nas demais perfurações estão funcionando normalmente e não indicaram, até o momento, movimentações atípicas que sugerem dolinamento (depressão circular que resulta de erosão subterrânea).

“A região afetada pelo rompimento e as demais no entorno dos poços de sal seguem sendo monitoradas 24 horas por dia. Reforçamos que o evento se concentrou na mina 18, sem vítimas, já que a área estava desocupada, e o monitoramento não indica comprometimento de minas próximas”, ressaltou Abelardo Nobre.

Até o final da tarde de ontem, os censores ainda presentes na mina 18 não detectaram nenhuma nova alteração que pudesse indicar novos movimentos. “O monitoramento continua, o nível de alerta continua. A área delimitada para a segurança dos pescadores também continua”, assegurou a Defesa Civil da capital.

Ainda de acordo com a Defesa Civil Municipal, todos os equipamentos que monitoram as outras 34 cavidades estão em normalidade. O órgão, segundo a nota, continua o monitoramento, assim como acompanha e verifica as consequências do rompimento da mina 18.

As vias continuam interditadas, por recomendação da Defesa Civil, para segurança da população. Toda a área das minas continua isolada.

Estudos vão avaliar impacto de rompimento

A Defesa Civil informou que “os próximos passos serão dados posteriormente aos estudos de impacto do rompimento da cavidade.”

A vistoria feita pela Defesa Civil foi acompanhada por técnicos do Ministério de Minas e Energia que afirmou continuar monitorando a situação junto às autoridades locais e atuando com foco na redução do impacto à população. Também participaram da análise dos dados, o Serviço Geológico do Brasil e a Agência Nacional de Mineração.

Segundo o coordenador da Defesa Civil municipal, Abelardo Nobre, a pressão interna da mina pode ter equilibrado com a entrada do volume de água após o rompimento.

O prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), também descartou novos abalos. “O rompimento foi concentrado, local, na região do Mutange. As pessoas de outras áreas podem ficar tranquilas. Não há nenhum estudo que aponte outro colapso dessa magnitude”, garantiu o prefeito.

Ontem pela manhã, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) coletaram água da lagoa para avaliar os danos. O professor Emerson Soares explicou que as amostras de água deverão indicar se houve contato de produtos da mina ou da sal-gema com a água da Lagoa.

“Precisamos verificar os efeitos desses compostos caso ocorra de sair em direção à água, de se juntar com a água, se isso realmente vai causar algum dano”, explicou.
O governo de Alagoas anunciou que vai ampliar as ações de monitoramento das regiões dos Flexais de Baixo e da qualidade da água da Lagoa Mundaú, após o colapso da mina 18.
O secretário de Governo, Vitor Pereira, reafirmou o compromisso do Estado em apoiar as vítimas da Braskem. “É importante que os governos municipal, estadual e federal atuem em conjunto para que a Braskem aumente a área afetada, resolvendo o problema dos Flexais, do Bom Parto e da Marquês de Abrantes”.

“É preciso responsabilizar a Braskem”, diz secretário

O secretário de Governo Vitor Pereira chamou a atenção ontem para a necessidade de responsabilizar a Braskem pelos crimes ambientais, sociais e econômicos que afetam também os municípios da região Metropolitana de Maceió.

“A Braskem é responsável por tudo o que está acontecendo. A mineradora deve ser responsabilizada por esse crime. O município de Maceió, o Estado de Alagoas e a União não podem arcar com qualquer custo para o endividamento econômico da administração pública”, considerou o secretário.

Por causa do risco de afundamento do solo em cinco bairros de Maceió – Pinheiro, Bom Parto, Mutange, Bebedouro e Farol –, em cinco anos, mais de 55 mil pessoas precisaram abandonar as casas onde moravam na capital alagoana.

A região onde a mina 18 rompeu também já tinha sido totalmente evacuada desde que o alerta de colapso foi emitido, no dia 29 de novembro.

Braskem

A Braskem informa que assim que foi identificado, em nota, o movimento atípico do solo, no dia 28.11, a empresa adotou o protocolo de segurança e retirou os trabalhadores que exerciam atividades na área de resguardo, onde fica a cavidade 18.

“A região continua sendo monitorada e qualquer avaliação para retorno das atividades só será feita com as devidas condições de segurança para o acesso à área”, finalizou a nota da mineradora.