Cidades

Sem-cova: falta de vagas nos cemitérios revolta população da capital alagoana

Locais disponíveis para sepultamentos em Maceió só são disponibilizados depois de muita insistência e luta das famílias

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 18/11/2023 14h03 - Atualizado em 18/11/2023 18h46
Sem-cova: falta de vagas nos cemitérios revolta população da capital alagoana
Dona Nazidir Vieira da Silva morreu na região de Bebedouro e não tinha onde ser sepultada; cemitério do bairro não funciona mais - Foto: Arquivo pessoal e Edilson Omena

Foram muitas as manifestações de revolta e indignação por parte dos familiares de uma idosa, dona Nazidir Vieira da Silva, que faleceu na quinta-feira, na região de Bebedouro, em Maceió, e não tinha onde ser sepultada. Com a repercussão de mais esse caso nas mídias sociais, a prefeitura de Maceió teve que se desdobrar para encontrar uma vaga, às pressas, num cemitério público da cidade, que pudesse receber o corpo da falecida.

“Só depois que o caso foi noticiado, por uma emissora de televisão, no início da tarde de ontem [17/11], que surgiu, ‘milagrosamente’, uma vaga para o sepultamento dessa senhora, no Cemitério da Piedade”, relatou o professor José Balbino dos Santos, acrescentando que esteve no cemitério e se certificou que o sepultamento dela teria ficado acertado para as 16 horas de sexta-feira.

De dentro do cemitério da Piedade, no bairro do Prado, o professor Balbino gravou um vídeo e postou imediatamente nas mídias sociais, comunicando o fato aos amigos e parentes da dona Nazidir. “Graças a Deus, conseguimos, depois de muita luta, um local para o sepultamento da dona Nazidir, que faleceu ontem [quinta-feira] às 16h25 e até o final da manhã de hoje [sexta-feira] não tinha onde ser enterrada”, informou.

Segundo o professor Balbino, em contato com a prefeitura, o serviço funerário de Maceió teria dito que precisaria exumar algumas ossadas de pessoas mortas para ter novas vagas nos cemitérios públicos.

“O mais grave ainda: falaram para o filho dessa senhora, que o corpo dela não seria sepultado de imediato, porque tinha uma fila de pessoas para serem enterradas. A dona Nazidir seria 12ª pessoa morta aguardando sepultamento, outras onze pessoas estariam na frente dela, aguardando uma vaga nos cemitérios”, afirmou Balbino, que se mostrou indignado com a situação dos cemitérios públicos de Maceió: “todos eles superlotados”.

Desastre urbano e ambiental da Braskem agravou o problema

Apesar da Câmara de Vereadores de Maceió já ter realizado vistoria nos cemitérios públicos e constatado o colapso no sistema funerário da capital, o problema da falta de covas persiste e tem piorado, cada vez mais.

“Com o fechamento do cemitério Santo Antônio, em Bebedouro, por conta do afundamento do solo nos bairros atingidos pela mineração, ficou ainda mais complicado o sepultamento das pessoas ligadas às vítimas da Braskem em Maceió”, afirmou a bióloga Neirevane Nunes, coordenadora do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB).

Segundo ela, nos últimos três anos, com a interdição do cemitério de Bebedouro, os moradores e ex-moradores das localidades conhecidas como zona de exclusão passaram a viver por mais esse constrangimento.

“Antes do crime socioambiental da Braskem, quem morava nessa região de Bebedouro, Mutange, Bom Parto e Pinheiro tinha, pelo menos, o cemitério de Santo Antônio para enterrar seus entes queridos. Agora, nem isso”, lamentou.

Para Neirevane, com o acordo firmado entre a Prefeitura de Maceió e a Braskem, que teria rendido à gestão do prefeito JHC (PL) uma indenização de R$ 1,7 bilhão, não é possível que essa situação não seja resolvida. “A prefeitura agora não pode alegar falta de verba”, destacou a bióloga.

Ela defende que parte desse dinheiro da Braskem, recebido pela prefeitura, seja utilizado para pagar indenizações por danos materiais e morais reverentes às famílias que tiveram os jazigos depredados e violados, no cemitério de Bebedouro, nos últimos meses.

Além disso, a coordenadora do MUVB exige que a Prefeitura de Maceió construa um outro cemitério, num local seguro, para que possa servir aos moradores e ex-moradores dos bairros atingidos pela subsidência do solo na cidade.

“Afinal, o dinheiro pago pela Braskem para a prefeitura pelos danos referentes ao cemitério de Santo Antônio é para indenizar essas famílias e devolver a elas o equipamento público que lhes foi suprimido, e não para outra finalidade”, enfatizou.

“Há décadas que a cidade de Maceió não constrói um cemitério público, o que levou ao colapso o serviço funerário municipal que enfrentamos hoje. Portanto, construir um novo cemitério é obrigação da prefeitura, independente do acordo firmado com a Braskem”, concluiu.

Central Única de Sepultamento não atende ligação da reportagem

A reportagem da Tribuna entrou em contado com a assessoria de comunicação da prefeitura de Maceió, para saber por que a população tem enfrentado dificuldade de encontrar vagas nos cemitérios públicos do município, mas não teve retorno.

No site oficial, a prefeitura diz que “Maceió possui oito cemitérios disponíveis onde os cidadãos podem realizar o sepultamento de seus entes queridos. Para melhor atendê-los, a Prefeitura criou a Central Única de Sepultamentos”.

A prefeitura informa ainda que a Central Única de Sepultamento “é responsável por unificar e otimizar assuntos referentes aos cemitérios da cidade, fazendo uma triagem e distribuindo entre as vagas disponíveis, otimizando o tempo das famílias. Após serem atendidas pela unidade, as famílias já saem com tudo encaminhado para realizar o registro do óbito em cartório e com o sepultamento agendado”.

Diz ainda que “para utilizar o serviço, o cidadão deve comparecer ao local munido de documento oficial com foto, comprovante de residência e a declaração de óbito do ente querido, que é emitida pela Instituto Médico Legal (IML), pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) ou pelo hospital”.

A prefeitura informa ainda que “além do atendimento presencial, de domingo a domingo, das 8h às 17h, o cidadão também pode entrar em contato com a Central de Sepultamentos através do WhatsApp 9.8222-7748, onde é possível solicitar guias de pagamento, agendar sepultamentos e obter mais informações e orientações”.

No entanto, quem liga para este número (9.8822-7748) não consegue ser atendido e muito menos agendar o serviço. Na ligação, uma voz gravada avisa que o número se encontra bloqueado ou não pode receber chamadas. Só resta ao interessado, a opção presencial, pelo endereço Central Única de Sepultamentos: Rua Coronel Pedro Lima, 69, Jaraguá.

Apesar do site da prefeitura informar que Maceió conta com oito cemitérios públicos, a população só pode contar com sete, já que o Santo Antônio, em Bebedouro, encontra-se interditado.

Santo Antônio (Bebedouro): Rua Belo Alves, 100

• São José (Trapiche): Av. Siqueira Campos, 1500

• Nossa Senhora da Piedade (Prado): Av. Siqueira Campos, 650

• Nossa Senhora Mãe do Povo (Jaraguá): Rua Dr. Zeferino Rodrigues, 1

• Divina Pastora (Rio Novo): Av. Projetada, 184

• Santa Luzia (Riacho Doce): Travessa Santa Joana, 91

• Nossa Senhora do Ó (Ipioca): Rua da Igreja, 165

• São Luiz (Santa Amélia): Rua J (Projetada), 146.