Cidades
Rachaduras e água minando do solo na Marquês de Abrantes
Moradores atribuem problemas à mineração da Braskem e pedem realocação e indenização justa

Após mais de cinco anos do afundamento do solo em cinco bairros de Maceió, em razão das atividades de mineração de sal-gema feitas pela Braskem, moradores da Rua Marquês de Abrantes, em Bebedouro, sofrem com rachaduras e água minando do solo dos imóveis. Segundo o líder comunitário Romualdo Oliveira, eles anseiam por realocação e indenizações justas para refazerem suas vidas.
“Temos mais de um quilômetro de rua, com diversas casas rachadas. Não tem mais condições de moradia. A minha casa, por exemplo, teve rachadura que dava para entrar a minha mão. As paredes racharam, o piso rachou, tem espaço entre a parede e o chão. Todo dia eu peço a Deus para não cair. Já colocamos ferro, mas continua abrindo. Já estou pensando no próximo inverno. Eu só estou aqui porque não tenho para onde ir, assim como os outros moradores. Além das rachaduras, temos casas com água minando do solo e é muita água”, afirmou.
Oliveira contou que solicitaram ajuda da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) para investigar o problema. “Conversei com uma professora e ela disse que a situação da Marquês de Abrantes é pior do que a do Bom Parto e dos Flexais, com a subsidência dessa água do lençol freático que está subindo. É muito pior. No próximo mês, na segunda quinzena, eles vêm aqui. São muitas casas. A maré da lagoa começou a subir depois da Braskem e está jogando água para cá. As casas estão todas assim, minando água. Não é vazamento, vem direto do lençol freático, direto do solo”, disse.
A dona de casa Marta Rosa é moradora da Rua Marquês de Abrantes e estava reformando o imóvel, quando as rachaduras começaram a surgir. “Já tinha batido laje e tudo. Depois que aconteceu o problema no Pinheiro, ela começou a rachar. Mandei consertar diversas rachaduras e surgiram novamente. Até onde não tem laje é toda no ferro, de 3 em 3 metros tem uma coluna, mesmo sem bater laje, e rachou. Ela é nova, toda no radier e o defeito aqui, simplesmente, é o pedreiro. Veio o pessoal da Defesa Civil e disse que essa parede estava cedendo, que não podia mais fazer primeiro andar, não aconselhava mais fazer o reboco da laje de cimento porque estava pesando e, se quisesse fazer algo, tinha que contratar um engenheiro particular para ficar responsável. Caso viesse a ceder, o engenheiro tinha que indenizar a gente. Eles simplesmente jogam a culpa em quem não tem”, afirmou.
Para a moradora, a única saída é a realocação. “Bebedouro é um bairro morto, não tem escola, não tem posto, não tem mercadinho, não tem açougue, não tem nada. Quando a gente precisa comprar algo tem que ir para a Chã da Jaqueira. Os assaltos têm sido constantes, inclusive, durante o dia. Na semana passada, duas e meia da tarde, foi a menina descendo da lotação e o cara assaltando, levou celular, bolsa e tudo. Precisamos que a justiça seja feita”, disse.
A beneficiária Aparecida Rosário também reside na Rua Marquês de Abrantes e toma remédio para conseguir dormir, por causa do medo de acontecer uma tragédia. “A minha sala afundou. Teve que encher o buraco, fazer um contrapiso novo e colocar uma cerâmica nova. Tem rachaduras em todas as paredes, está tudo solto, dá para ver o outro lado. Eu não estou dormindo porque o medo é constante. Quando dá 1h, 2h da manhã estou acordada, preocupada e tomo diazepan para conseguir dormir até às 5h, 6h da manhã. Os ônibus passam e a casa estremece. É uma situação horrível”, contou.
A moradora conta que a Defesa Civil esteve na residência e alegou que o problema é resultado de má construção e material de má qualidade. “Essa é a resposta deles. O que eu quero é realocação e indenização justa para dar juntamente com a minha família continuidade as nossas vidas em outro bairro que não esteja passando por esse caos”, afirmou.
A redação entrou em contato com a Defesa Civil de Maceió, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno.
Comerciantes também clamam por realocação
Quem tem comércio na região também sofre com a falta de clientela. A comerciante Rosângela Cavalcante tem um estabelecimento há mais de 15 anos na Rua Marquês de Abrantes e disse que o movimento reduziu bastante. “O movimento caiu muito, acabou tudo. Eu vendia 30 grades de cerveja por semana. Hoje em dia, não vendo nem duas. Acabou tudo, a Braskem acabou com a gente. Estou vivendo como Deus quer, pingando venda. A gente só não passa fome porque se vira com uma coisa e outra. 17 anos que eu tenho essa venda, nunca tinha visto assim”, contou.
O pintor automotivo Francisco Emílio disse que o estabelecimento dele era cheio e, agora, está ‘comendo e assando’. “Meu irmão mais velho que está me ajudando porque tem semana que não tem um cliente. Tenho que ficar pegando dinheiro emprestado para pagar minhas contas. Bebedouro acabou para a gente. Depois dessa situação que estamos vivendo há quase quatro anos, acabou. Estamos assando e comendo. É a situação de todos que têm negócios aqui”, afirmou.
O comerciante Erivaldo da Silva tinha uma mercearia, há quase 20 anos, e acabou reduzindo o negócio porque não tinha mais venda. “As mercadorias venciam, não tinha mais ninguém para comprar. Fechei e fiquei só com isso para vender. Mesmo assim é daquele jeito, pingo d’água. Imagine você como um microempresário acontecer isso. Você suar tanto para ter um patrimônio deste e jogar fora? Eu comecei do zero, o meu sonho está todo aqui dentro. Esse imóvel vale mais de 350 mil e, se eu arrumasse um comprador hoje, eu venderia por 120 mil. Não tem condições de continuar aqui. Eu vou esperar pela Braskem? A Braskem destruiu tudo, a verdade tem que ser dita”, afirmou.
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