Uma semana após a morte de Benedita Betânia da Silva, de 57 anos, a família pediu justiça durante a missa de sétimo dia na Capela São José, no bairro Cidade Universitária, nesta quinta-feira (28). De acordo com a família, Benedita Betânia viveu um relacionamento abusivo com a companheira e morreu após sofrer diversas agressões físicas.

“Minha irmã era forçada a fazer muitas coisas, apanhava demais. Ela foi forçada, inclusive, a casar com essa mulher [a companheira]. Os filhos não podiam mais frequentar a casa dela, as amigas foram proibidas de andar com ela. Tem testemunhas que viram ela ser agredida, espancada, diversas vezes. Essa mulher já foi até no trabalho dela, ameaçá-la publicamente. Infelizmente, eu não sabia dos espancamentos. Não é justo acontecer o que aconteceu com a minha irmã e essa mulher ficar impune”, afirmou o irmão José Avanildo da Silva.

Segundo José Avanildo, a família está inconformada com a morte de Benedita Betânia e espera que a justiça seja feita. “Ela batia a cabeça da irmã na parede há um ano. O meu sobrinho uma vez foi visitá-la de surpresa e encontrou minha irmã caída num sofá, espumando e com um corte sangrando no pescoço. Perguntou o que foi a companheira dela e ela disse que foi uma queda durante o banho. Ela não podia nem comprar presente para os filhos e levar para casa porque a companheira iria quebrar, jogar fora. Isso não existe. Eu não me conformo até hoje com o que aconteceu. Não é fácil o que a família está sofrendo. Espero que seja feita justiça”, disse.

A ex-nora da vítima contou que a última agressão foi por causa de um Pix que Benedita Betânia fez para um dos filhos. “A atual companheira dela tomou conhecimento desse Pix e deu uma pisa nela na quinta-feira. Quando foi no sábado, uma irmã e uma sobrinha da minha tia foram visitá-la e ela começou a passar mal, vomitar, aí chamaram o Samu. Quando o Samu chegou, a companheira não deixou ninguém acompanhá-la ao HGE, tirou a minha outra tia da ambulância para acompanhar. Quando ela veio dar notícias da minha tia, já tinha sido transferida para outro lugar. Quando a minha tia chegou no HGE foi questionado se ela tinha sofrido acidente de carro ou de moto por causa das marcas no corpo. Tem testemunhas de que a minha tia já chegou a dormir mais de uma vez em motel para não voltar para casa, porque não aguentava mais a situação que estava vivendo, de que ela era vítima de cárcere privado e muitas outras coisas”, contou Daniele Souza.

Ainda de acordo com Daniele Souza, a companheira já vendeu bens de Benedita Betânia. “Ficamos sabendo ontem que ela já vendeu moto, carro, dilapidou patrimônio da minha tia, que é dos filhos, não é apenas dela e não foi definido pela justiça. Estamos sabendo que ela vendeu, está alugando as casas, está dando fim em tudo que era da minha tia e está indo embora, passar um tempo fora. No meu ponto de vista, ela está fugindo porque quem não deve não teme. Minha tia foi uma pessoa extraordinária, não merecia o que aconteceu. O que pedimos hoje é justiça por parte dos órgãos competentes”, finalizou.

Uma sobrinha de Benedita Betânia, que não quis se identificar, disse que estava afastada da tia por causa do relacionamento dela. “Eu nunca presenciei nada, até porque eu não convivia diretamente com ela, mas através de outros familiares eu ficava sabendo. Então, como isso me machucava muito, eu preferia me manter afastada. Diziam que ela era agredida e que, infelizmente, veio a esse quadro que a levou a óbito por conta de agressão”, contou.

Ainda segundo a sobrinha, pessoas que conviviam com ela chegaram a presenciar agressões. “Só não sabemos o motivo dela não ter saído desse relacionamento. Não sei se por medo porque quando a pessoa está em um relacionamento abusivo é muito difícil. Eu soube que ela ameaçava a minha tia, as coisas mais preciosas que a minha tia tinha, que eram os filhos, e, justamente, essa última briga foi por conta de um Pix que ela fez para a neta que ia nascer, para ajudar no enxoval. Eu achava que minha tia ia se recuperar mas, infelizmente, isso não aconteceu. Esperamos agora que seja feita a justiça”, afirmou.

Segundo o advogado da família, Paulo Guilherme Lins, foi aberto um inquérito de lesão corporal e, nesse inquérito, o delegado pediu o afastamento cautelar da vítima. “Na verdade, já tinha um antes de ela falecer, já tinha um acautelado Maria da Penha para se manter distante, sendo que, com o falecimento dela, a gente vai procurar saber junto ao delegado como é que vai ficar a situação desse inquérito. Se vai continuar como lesão corporal ou vai progredir para um possível crime de feminicídio”, explicou.