Cidades

Riacho está contaminado por esgoto

Conforme atestou a Ufal, córrego em Garça Torta tem coliformes fecais marcantes na água que segue em degradação ambiental

Por Valdete Calheiros 05/08/2023 08h30
Riacho está contaminado por esgoto
Córrego em Garça Torta tem coliformes fecais marcantes na água que segue em degradação ambiental - Foto: Adailson Calheiros

As águas do Riacho Garça Torta, localizado no bairro homônimo, ao norte de Maceió, estão com altíssimo grau de contaminação por esgoto com a presença marcante de coliformes fecais, amônia e potássio. A constatação é do Laboratório de Aquicultura e Ecologia Aquática (Laqua) e do Laboratório de Sistema de Separação e Otimização de Processos (Lassop), ambos da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). As unidades laboratoriais analisaram amostras da água do riacho, após denúncias e pedidos feitos pela comunidade local.

O professor Emerson Soares da Ufal coletou pessoalmente as amostras de água do Riacho Garça Torta. E a situação da saúde hídrica do riacho pode ser ainda pior. Isso porque, conforme o professor adiantou, faltam ainda sair os resultados de mais análises que investigarão, por exemplo, se há também outros compostos como óleos ou pesticidas. Ao todo, serão analisados cerca de 130 compostos. Serão feitas análises físico, químico e biológicas. São estudos cromatográficos e de espectrometria.

Emerson Soares estima que o resultado completo das análises seja conhecido dentro de 10 dias. O professor, que monitora a Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, coordena o Laqua e o Projeto Laguna Viva, além da expedição científica ao Rio São Francisco, explicou, antes de confirmar a contaminação por esgoto, que havia a possibilidade de a coloração e o aspecto da água serem consequências de um “bloom de algas em uma visão otimista para amenizar a situação do Riacho Garça Torta que já está altamente degradado”.

Bloom de algas consiste num crescimento muito rápido e sem controlo, em meio aquático, de uma comunidade de algas, em particular as microalgas e as cianobactérias.

Diante dos resultados iniciais das análises feitas em amostras de água do Riacho Garça Torta, o professor Emerson Soares faz uma alerta à população para que evite, ao máximo, qualquer tipo de contato com o riacho.

“As bactérias presentes em água contaminada por esgoto, são altamente patogênicas e podem causar diarreias, problemas intestinais, vômitos, dores de cabeça”, sintetizou.

A constatação científica é mais um triste capítulo na novela protagonizada pela população do entorno do riacho e pelo Condomínio Garça Torta. Essa semana, os atores envolvidos fizeram parte de um enredo de sucessivas autorizações emitidas por órgão ambiental estadual, suspensão de autorizações pelo mesmo órgão, recomendações de suspensão de obras por órgão público federal, notificações de secretarias estaduais e constante vigilância de ambientalistas e moradores. De um lado o Condomínio Morada da Garça que pretende – ou pretendia – realizar obras de aterramento e desvio da desembocadura do Riacho Garça Torta, do outro lado a Associação dos Moradores do Loteamento Gurguri e representantes do Coletivo Ambiental Litoral Norte.

Nesse intervalo, o riacho sofreu modificações que podem impactar negativamente a fauna e flora da região, além de afetar o regime de fluxo de água. O riacho desempenha um papel fundamental no equilíbrio do ecossistema local.

Ao Ima, o Condomínio Garça Torta solicitou “a reabertura do leito preferencial do riacho de Garça Torta que estava causando grave processo erosivo na vegetação de restinga situada à frente do condomínio, criando assim uma escarpa [declive muito íngreme de terreno, provocado por erosão] de dois metros e ameaçando a estrutura dos imóveis”.