Cidades
Laudo sobre contaminação da Lagoa Mundaú é encaminhado ao MPF
Pesquisa aponta que mortandade de peixes foi provocada por intoxicação química e orgânica, devido a esgoto e produtos poluentes
Um ambiente aquático poluído e hostil, contaminado por produtos químicos e metais pesados, com baixa oxigenação, assoreamento e salinidade alterada. Este foi o diagnóstico que chegaram os pesquisadores do Centro Estudos e Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca/Ufal), sobre a qualidade da água da Lagoa Mundaú.
O laudo com resultado da pesquisa – feita com base nas amostras da água da lagoa colhidas logo após uma grande mortandade de peixes, em março do ano passado – foi concluído na última segunda-feira (3) e encaminhado ao Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL), para a tomada de providências.
“A gente já mandou o nosso relatório para o Ministério Público Federal [MPF]. Portanto, os procuradores federais já estão cientes dessa situação, até porque toda pesquisa que a gente faz, sobre a qualidade da água da lagoa, a gente encaminha ao MPF, seguindo as recomendações que eles nos passaram”, garantiu o professor Emerson Soares, coordenador do programa de monitoramento da Lagoa Mundaú.
Segundo ele, algumas medidas já estão sendo tomadas, com base nos estudos e pesquisas feitas sobre a situação do complexo lagunar. “Recentemente foi criado um Fórum, com a participação de mais de 20 instituições, entre elas a Ufal, para discutir políticas públicas de combate à contaminação das nossas lagoas e nossos manguezais”, lembrou Emerso Siares, que é engenheiro de pesca.
Para ele, o mais importante é que os procuradores federais cobrem dos órgãos públicos municipais, estaduais e federais medidas urgentes para estancar a escalada de contaminação da Lagoa Mundaú. No momento, o estuário está seriamente doente e completamente desfavorável à sobrevivência de várias espécies de peixes, crustáceos e moluscos, a exemplo do sururu.
METAIS PESADOS
Segundo os pesquisadores do Ceca/Ufal, foram encontrados uma quantidade enorme de produtos que ocasionaram a mortalidade de peixes na Lagoa Mundaú, entre eles manganês, hidróxido de potássio, magnésio, pesticida, inseticida, raticida e nitrato. Este último impede o transporte de oxigênio às células e ao organismo dos peixes. O hidróxido de potássio torna a água alcalina e provoca aumento da temperatura da água, estressando ou levando os organismos à morte.
Outros compostos químicos altamente poluentes foram encontrados nas amostras da água da lagoa. Eles causam irritação respiratória e prejudicam a troca gasosa nos peixes. Além do Metil-1- butanol – que atua como agente antiespumante, causa distúrbios gástricos e pneumonia em humanos, nos peixes provocam estresse fisiológico; e o BTEX (tolueno) – provoca necrose nas brânquias.
MORTANDADE DE PEIXES
A pesquisa sobre a situação da qualidade da água da Lagoa Mundaú foi realizada logo após uma grande mortandade de peixes, registrada pelos moradores do Flexal, em março do ano passado. Assim que a denúncia chegou aos pesquisadores do Ceca/Ufal, eles pediram aos moradores na região que fizessem a coleta da água da lagoa, nos pontos onde os peixes apareceram mortos.
CONTAMINAÇÃO
No relatório que divulgaram, os pesquisadores destacaram cada um dos poluentes encontrados nas amostras coletadas, conforme veremos a seguir:
1 - PH: A acidez ou alcalinidade da água é determinada pela concentração de íons H+, sendo influenciada pelo teor de carbonatos e bicarbonatos e varia de 0 a 14, com níveis ótimos para peixes tropicais em torno de 7 a 7,5 (7,4 é o pH do citoplasma celular). A faixa compatível com a vida aquática é de 4,0 a 11,0, contudo níveis acima de 8,5 ou abaixo de 6,5, prejudicam e geram estresse à biota aquática. A eficiência enzimática cai conforme ocorram valores fora deste limite. Quando o pH ultrapassa o valor de 8,5, os valores de toxicidade da amônia aumentam substancialmente prejudicando as trocas gasosas e diminuindo a permeabilidade da membrana plasmática das células, intoxicando os peixes. A alcalinidade apresentada no presente laudo facilita a formação de hidróxidos e carbonatos, como magnésio, que apresentou índices elevados.
2 - Turbidez: É influenciada por efluentes domésticos, industriais, erosão nas margens, produtividade primária ou desestratificação térmica. É caracterizada por meio do qual se infere a penetração de luz no corpo da água. É influenciada por solos erodíveis, onde a precipitação carreia argila, siltes e óxidos metálicos do solo. A turbidez no presente estudo foi levemente alterada.
3 - Manganês: O manganês pode contribuir com a dureza da água e geralmente a dureza tem origem por dissolução de rochas calcárias ricas em cálcio e magnésio e em menor quantidade por efluentes industriais. O manganês é originário de dissolução de rochas e solos, este composto raramente excede 1,0 mg/L em águas superficiais. Este metal na água, apresenta-se na forma de hidróxidos Mn (OH)2 ou sulfatos MnSO4. Em algumas ocasiões pode estar atrelado à matéria orgânica. Caso ocorra inversão térmica, estes compostos atingem a comunidade superficial da água. O padrão da OMS estabelece concentração de 0,4 mg/L. Neste laudo o valor está 20 vezes maior. A presença deste composto indica coloração marrom à água, condição observada in loco.
4 - Sulfato: A determinação de sulfato em águas estuarinas e marinhas é de suma importância em estudos que controlam a qualidade dessas águas. O ácido sulfúrico é o principal agente utilizado na lixiviação de minerais, no acabamento e polimento de superfícies, no processamento de minérios fosfatados. Por outro lado, O consumo de enxofre no país decorre, principalmente, de sua aplicação na agricultura (53%) nas indústrias químicas (47%) para produção de ácido sulfúrico, sendo que de 70% a 80% do produto destinam-se à produção de fertilizantes. Quanto ao enxofre, este é outra fonte que pode gerar sulfato. É utilizado, ainda, em outros importantes setores industriais, tais como para a fabricação de pigmentos inorgânicos, papel celulose, borracha, bissulfeto de carbono, explosivos, açúcar e cosméticos. Neste caso, parte do enxofre importado é lançada em nossos rios na forma de sulfato. O sulfato também está presente em esgotos domésticos.
5 - Nitrato: É a forma oxidada e nutriente essencial para maioria dos organismos aquáticos. Juntamente com o fósforo, constituem nutrientes importantes para o florescimento de microalgas e plantas aquáticas. A fonte do nitrogênio é oriunda da decomposição do fitoplâncton, macrófitas aquáticas, proteínas, clorofila etc. Outra fonte é decorrente de rejeitos domésticos, industriais, criação de animais e fertilizantes. Em águas com pH alto (caso desta amostra, por exemplo) ocorre a conversão no gás amônia, intoxicando os organismos aquáticos. Os níveis altos deste composto impedem o transporte de oxigênio no sangue de peixes, levando a ter trocas gasosas insuficientes, levando o animal à morte.
6 - Potássio: Embora os níveis de potássio não sejam explícitos na legislação brasileira, a União europeia quantifica os níveis de potássio em águas potáveis de 10 mg/L. O Potássio possui coloração prateado-branco, metálico e alcalino, oxidando rapidamente quando em contato com o ar. São aplicados na produção de fertilizantes, fermento, vidros e, de forma limitada, na indústria química. Uma vez oxidado, pode formar hidróxido de potássio, com cor brilhante e tornando a água mais alcalina. Esta situação foi observada na região amostrada na lagoa.
7 - TDS: São compostos orgânicos, inorgânicos e elementos minerais dissolvidos na água com partículas inferiores a 0,45 µm. Pode servir de indicativo de hidrocarbonetos, poluentes e herbicidas.
8 - Enxofre: O enxofre foi encontrado em quantidade significativa no ambiente. A junção de compostos, como sulfeto de hidrogênio, dióxido de enxofre, ácido sulfídrico, é decorrente de ações industriais e decomposição de grande quantidade de matéria orgânica que quando em reação na água liberam quantidade de enxofre no ambiente. Observa-se também contaminação microbiológica do corpo hídrico. Quanto aos peixes, foram encontrados nas brânquias substâncias orgânicas e óleo prateado nos rastros branquiais. É possível observar o possível efeito de brânquias atingida por contaminantes.
Estudo sugere monitoramento do ambiente lagunar para garantir saúde pública
Veja a seguir a conclusão sobre a mortalidade de peixes na Lagoa Mundaú. Avaliando-se os dados obtidos do Laboratório de Aquicultura e Análise de Águas (Laqua), Laboratório de Sistemas de Separação e Otimização de Processos (Lassop), Laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento de Química Analítica (Linqa) e Laboratório de Processamento Químico e Recursos Naturais (LPQRN), todos da Universidade Federal de Alagoas, concluímos que:
1 – Os peixes morreram por intoxicação química e orgânica, devido ao produto lançado, ter sido de forma intencional, por escape ou ainda por escoamento superficial (lixiviação). Este atua no aumento da permeabilidade celular, permitindo a entrada de íons indesejáveis nas células e impedindo a troca gasosa das brânquias com o ambiente aquático, desta forma os exemplares com pouca capacidade energética e natatória não tiveram oportunidade de deslocar-se da área contaminada levando-os a morte;
2 – Foram encontrados os seguintes produtos que ocasionaram a mortalidade: Manganês – atuou causando distúrbios motores e de orientação; pH alcalino, devido ao hidróxido de potássio entre outros compostos como magnésio, atuou aumentando o poder tóxico dos compostos nitrogenados como o nitrato que impede o transporte de oxigênio às células e ao organismo. De forma complementar, o líquido inodoro encontrado nas amostras pode ter sido a mistura de pesticida (fluroacetamida) e hidróxido de potássio (grande quantidade deste composto), que torna a água alcalina e provoca aumento da temperatura da água, estressando ou levando os organismos à morte;
3 – Quantos aos outros compostos encontrados nas amostras, destacam-se: fluoroacetamida - inseticida e raticida, altamente solúvel em água e altamente volátil, moderadamente tóxica para os peixes e provocam altas taxas de mortalidade em animais; Cyclotetrasiloxane, octamethyl-; Cyclopentasiloxane, decamethyl-; pentasiloxane, dodecamethyl-; Cyclohexasiloxane, dodecamethyl – causam irritação respiratória e prejudicam a troca gasosa nos peixes; Metil-1- butanol – atua como agente antiespumante - causa distúrbios gástricos e pneumonia em humanos, nos peixes provocam estresse fisiológico; e o BTEX (tolueno) – provoca necrose nas brânquias.
Devido, a quantidade de NPK – compostos nitrogenados (nitrato), fósforo e potássio (hidróxido de potássio) proveniente possivelmente de fertilizantes, fluoroacetamida – pesticida lançado no ambiente e BTEX (tolueno) – causaram necrose no órgão respiratório dos peixes, com adição de manganês, conclui-se que este foram os causadores da morte de peixes com menor mobilidade e crustáceos. Sugere-se ainda a realização de monitoramento do ambiente lagunar com vistas à saúde pública e qualidade e segurança alimentar, devido alguns índices elevados de mercúrio, manganês, potássio, BTEX (tolueno), bactérias e coliformes fecais encontrados no ambiente. Estes afetam e podem trazer graves danos à saúde da população.
A pesquisa foi feita pelo Laboratório de Aquicultura e Análise de Águas - Limnologia- Ceca/Ufal, tendo como técnicos responsáveis: Emerson Carlos Soares e Vivian Costa Vasconcelos.
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