Cidades

Alagoas vai estocar gás natural no subsolo

IMA confirma liberação da licença ambiental para implantação do projeto em Pilar

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 13/08/2025 08h56 - Atualizado em 15/08/2025 19h16
Alagoas vai estocar gás natural no subsolo
Origem quer estocar equivalente a 30 milhões de botijões de gás em Pilar - Foto: Reprodução

O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) confirmou ontem, por meio da sua assessoria de comunicação, que concedeu autorização prévia a um projeto que fará de Alagoas o primeiro Estado do Brasil a receber um sistema de armazenamento de gás natural no subsolo.

A empresa Origem Energia, que já é responsável por 99% do gás e 93% de todo o petróleo terrestre do estado, agora quer implementar o sistema de estocagem subterrânea de gás natural, com tecnologia conhecida como ESGN, no município do Pilar.

A informação foi divulgada esta semana pala Agência Tatu, reportagem de Lucas Maia e Thiago Aquino. Apesar dos riscos, órgãos ambientais do município e do Estado propagam a novidade como parte da estratégia de futuro de Pilar, município que está entre os maiores produtores de gás natural do país e um dos maiores produtores de petróleo de Alagoas.

De acordo com a reportagem, a Origem Energia pretende usar a infraestrutura deixada pela Petrobras, que antes servia para extrair gás ou petróleo. Ou seja, quer utilizar essas áreas subterrâneas para estocar o gás. Alguns poços são próximos à Lagoa Manguaba, que banha o município.

“O objetivo da Origem Energia é armazenar até 500 milhões de metros cúbicos de gás ao ano no subsolo da cidade – volume equivalente a cerca de 30 milhões de botijões de gás de cozinha, quase o mesmo volume de todo o gás de cozinha vendido mensalmente no Brasil, em torno de 35 milhões de botijões”, relata a reportagem.

A companhia já conseguiu a licença prévia do IMA, isso significa que o projeto já tem meio caminho pavimentado para ser implantado. Segundo a reportagem, tanto a localização como a concepção do projeto foram aprovados, bem como sua viabilidade ambiental.

“Agora falta o aval da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que confirmou à reportagem que está analisando a solicitação da empresa.

RISCOS

Especialistas consultados pelo Intercept Brasil e pela Agência Tatu apontam que os riscos do projeto – como vazamento de gás, explosões, contaminação de lagoas e adoecimento de moradores e trabalhadores – estão sendo minimizados nos estudos usados para embasar o licenciamento ambiental.

Licença prévia foi liberada pelo IMA em 15 de julho

A concessão da licença prévia foi anunciada, no dia 15 de julho, pelo presidente do IMA, Gustavo Lopes, durante o evento “Energia 360 Alagoas: caminhos para a Segurança Energética”, promovido pela empresa dona do projeto, em um hotel cinco estrelas.

O órgão estadual diz que o pedido atende a todas as exigências do processo de licenciamento e que a licença prévia foi dada após a análise técnica do órgão, com a contribuição de consultores contratados para avaliar os impactos ambientais do empreendimento.

A reportagem da Tribuna Independente procurou ouvir o IMA, por meio da assessoria de comunicação, sobre o assunto, mas a assessoria apenas confirmou o projeto, não respondeu se o mesmo teria risco ou não de explosão.

Apesar do avanço na parte administrativa, o empreendimento desperta medo na população local e é criticado por especialistas, ouvidos pela Agência Tatu. Eles questionam os riscos associados ao uso dessa tecnologia em um estado já marcado por desastres ambientais relacionados à exploração subterrânea.
De acordo com a reportagem, moradores de Pilar reclamam que não foram consultados sobre o projeto e temem o risco de impacto ambiental nas lagoas da região.

“É uma bomba relógio”, definiu o líder comunitário Luís Augusto Peixoto. “E se acontecer algum problema como aconteceu na Lagoa Mundaú por causa da Braskem?”, questiona o presidente da Colônia de Pescadores do Pilar, Josué Félix da Silva. Ele é outro que teme pela vida lacustre na Lagoa Manguaba com a chegada do projeto de estocagem subterrânea de gás natural.

Audiência pública para ouvir comunidade de Pilar e avaliar impactos do empreendimento da Origem (Foto: Ascom IMA)

Projeto foi debatido em audiência pública

O Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) disse que a população foi ouvida sobre a implantação do estoque subterrâneo de gás.

No dia 20 de março, o IMA realizou uma audiência pública em Pilar para debater a estocagem subterrânea de gás natural pela empresa Origem Energia, que já possui licença para produção e pretende ampliar suas operações.

“Essa etapa foi essencial no processo de licenciamento ambiental, pois teve como objetivo ouvir a população sobre os possíveis impactos do empreendimento na vida das pessoas”, afirmou a assessoria do IMA.

Segundo ela, a sessão foi presidida por Marianna Alverne, chefe de gabinete do IMA. Ela representou o diretor-presidente Gustavo Lopes, e enfatizou a importância de ouvir as contribuições da sociedade civil e da comunidade científica nesta fase inicial do licenciamento.

“Estamos na fase de licença prévia e estamos aqui para absorver todas as contribuições da sociedade civil e da comunidade científica, para levar essas informações ao Instituto do Meio Ambiente e, a partir delas, conceder o primeiro passo do licenciamento”, disse ela, na oportunidade.

Marianna Alverne acrescentou que aquela audiência pública seria um momento importante de escuta, não só por questões técnicas, mas também para compreender os impactos que a chegada do empreendimento pode trazer para a vida das pessoas.

Técnicos do IMA participam de evento sobre a segurança energética, que debateu a planta da estocagem (Foto: Ascom IMA)

Técnicos do instituto participaram de evento sobre segurança energética

Profissionais que atuam em diversos setores do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) participaram, em julho deste ano, do evento ‘Energia 360 Alagoas 2025’. O encontro teve como objetivo reunir iniciativas que promovem o diálogo entre empresas, sociedade, governo, reguladores, financiadores e demais tomadores de decisão, fundamentais para fomentar soluções sustentáveis e construir os caminhos para uma matriz mais eficiente e integrada.

Entre os temas abordados, estavam os desafios e as oportunidades para a melhoria contínua da segurança operacional nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil.

O diretor executivo do IMA, Ivens Leão, acompanhou as discussões e destacou a importância de encontros como esse para tratar da matriz energética de Alagoas. “É de extrema importância que os órgãos públicos participem de eventos deste tipo. Afinal, somente com a união de esforços dos setores público, privado e da sociedade civil poderemos encontrar soluções para a matriz energética, com todo o cuidado com o meio ambiente, por meio de estratégias sustentáveis que promovam o desenvolvimento do nosso estado”, frisou.

Durante o encontro, foram apresentados temas de interesse do setor, com destaque para decisões e orientações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), na busca por uma indústria mais segura e sustentável. Também foi anunciado o deferimento da Licença Prévia, emitida pelo IMA, para a implantação de uma instalação de estocagem subterrânea de gás natural no município de Pilar, pela empresa Origem.

O diretor-presidente do IMA, Gustavo Lopes, destacou que a Licença Prévia é uma autorização concedida pelo órgão estadual que aprova a localização e a concepção do empreendimento, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos a serem cumpridos nas próximas fases para o início das atividades.

“O IMA segue todos os trâmites exigidos pela legislação ambiental para o início da operação de empreendimentos. A Licença Prévia é uma etapa fundamental para a obtenção da Licença de Instalação e da Licença de Operação — passos que reforçam o compromisso do estado de Alagoas com o desenvolvimento e com as normas ambientais”, frisou Lopes.

A Origem Energia enviou posicionamento sobre o caso. Confira abaixo na íntegra

"Posicionamento Origem Energia

Em relação à iniciativa do Ministério Público de Alagoas (MPAL), a Origem Energia
informa que prestará todos os esclarecimentos com total transparência e segurança do
projeto de estocagem de gás em Pilar. A empresa reforça que está, como sempre
esteve, à inteira disposição de todos os órgãos competentes e da sociedade para
fornecer todas as informações necessárias.

O projeto seguiu todos os trâmites legais, e dispõe de Estudo e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/RIMA), entregue ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), que resultou na
aprovação da licença prévia após o cumprimento de todas as exigências. O EIA e o
RIMA estão disponíveis para consulta pública. O processo contou com ampla
participação social em audiência pública realizada em março de 2025, inclusive com a
presença de representantes do próprio Ministério Público Estadual e da Agência
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), além de especialistas do
mundo acadêmico, lideranças políticas e comunitárias, imprensa e outros.

A empresa reitera que o projeto de estocagem se baseia em uma tecnologia segura e
consolidada, utilizada no mundo há mais de 100 anos, e segue as boas práticas e
normas técnicas nacionais e internacionais.

É fundamental esclarecer que a estocagem de gás natural irá utilizar reservatórios
maduros que encerraram a produção de petróleo e gás utilizando uma técnica de
reinjeção, que é amplamente utilizada pela indústria para injetar e armazenar gás nos
reservatórios que ali se encontram.

Estes mesmos reservatórios já foram utilizados para a reinjeção de gás no passado.
Trata-se aqui da revitalização e reclassificação desses reservatórios do Campo de Pilar,
que já opera com segurança desde a década de 1980 na exploração e produção de
petróleo e gás e agora será usado para estocagem, sem alterações estruturais.

A empresa reafirma seu compromisso com o processo regulatório, com o
desenvolvimento econômico e social de Alagoas, com a abertura do mercado de gás, e
com a segurança energética do Brasil.
"