Cidades
Laudo da Ufal confirma poluição da lagoa com produtos químicos e metais pesados
Pesquisadores apontam presença de poluentes e espécies exóticas como causas do sumiço do sururu e da baixa qualidade do molusco

Às vésperas da Semana Santa, o sururu sumiu do mercado e o preço do produto aumentou por conta da lei da oferta e da procura. Conversando com pescadores e marisqueira da região do Vergel do Lago, eles mostraram que o sururu, além de raro, vem sendo retirado da lama da lagoa Mundaú sem muita qualidade, como se tivesse atrofiado, ou seja, com muita casca e pouco molusco.
A causa, segundo pesquisadores do Centro de Estudos e Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca/Ufal), é a poluição das lagoas. Além do sururu – considerado um patrimônio imaterial da cultura gastronômica alagoana - várias espécies de peixes já não são mais encontradas na lagoa Mundaú. Os altos índices de poluentes foram apontados também como a causa da última mortandade de peixes na lagoa.
De acordo com o laudo das análises físico-químicas e microbiológicas da qualidade da água da Lagoa Mundaú, apresentado ontem (3), pelos pesquisadores do Ceca/Ufal, a poluição coloca em risco a sobrevivência do estuário e compromete a subsistência das populações ribeirinhas. Segundo eles, a poluição é provocada pela grande quantidade de esgoto, produtos químicos e metais pesados despejados na lagoa.
Entre os produtos químicos encontrados, alguns apareceram mais recentemente e outros estão se acumulando no fundo da lagoa há anos. No entanto, o maior vilão continua sendo o esgoto residencial e industrial despejado todos os dias, sem nenhum tipo de tratamento, na lagoa. O ideal, segundo os pesquisadores, seria que o esgoto fosse tratado, numa estação de tratamento de efluentes, antes de ser jogado no mar ou nas lagoas.
A poluição por produtos químicos e metais pesados, segundo os especialistas no assunto, estão matando o estuário lagunar. Se nada foi feito para evitar a escalada de poluentes, as duas principais lagoas do Estado - Mundaú e Manguaba – estarão com o futuro altamente comprometido.
Os sinais da poluição ficam mais evidentes toda vez que os temporais castigam a região metropolitana de Maceió. Com as chuvas, a poluição aumenta, com a grande quantidade de veneno dos agrotóxicos, da lavoura da cana e outras culturas, levado pela enxurrada para as lagoas. Além da mortandade de peixes, a escassez de sururu é atribuída à poluição da lagoa. Segundo as marisqueiras da região do Vergel do Lago, o sururu está cada vez mais raro. O molusco quase não aparece na lagoa, e quando aparece é em pouca quantidade e de péssima qualidade.
MARISQUEIRA
A marisqueira Josiane Santos, que trabalha vendendo sururu há 36 anos, no Vergel do Lago, diz que o produto estava sumido e quando reapareceu foi de péssima qualidade. “Antes a gente tirava de uma lata de sururu com casca cerca de sete a 10 quilos do produto. Agora em duas latas, a gente tira no máximo dois quilos, dois quilos e meio de sururu”, afirmou a marisqueira.
“Eu criei meus filhos e netos com o sururu, mas agora não tenho como tirar o sustento de casa com a venda do sururu”, lamenta dona Josiane, acrescentando que o sururu passou sumido há mais de onze meses e quando retornou foi em pouca quantidade. No auge da produção do molusco, ela chegou a ter 15 mulheres e seis homens trabalhando para ela, extraindo, despinicando e vendendo o sururu. Além de mercadinhos e restaurantes de Maceió, ela vendia sururu para outros estados do Nordeste e até para São Paulo.
Mesmo de baixa qualidade, o produto está sendo comercializado a R$ 40. “E deve aumentar até o final da semana devido à alta procura para a Sexta-feira Santa”, avalia a marisqueira.
SURURU BRANCO
Para os pesquisadores, o sururu não está desenvolvendo como deveria e se encontra com estoque em depressão, ou seja, diminuindo, por causa da poluição e da concorrência com uma espécie exótica: o sururu branco.
“Depois de sumido por alguns meses, o sururu reapareceu, mas não na quantidade esperada, por conta da gestão incorreta dos recursos naturais e da pressão pela extração do produto, que é muito grande. Além disso, o sururu sofre a competição com a espécie exótica, que é o sururu branco. Com isso, o nosso molusco está vivendo em condições inadequadas. Então, é esperado que ele não tenha o desenvolvimento ideal”, afirma o professor Emerson Soares, coordenador da pesquisa sobre a situação da Lagoa Mundaú.
“As primeiras unidades do molusco que começaram a se desenvolver, numa pequena melhora do meio ambiente, foram logo pescadas, retiradas da lama. Então, o sururu tem esses entraves, porque ele tem a competição com a espécie exótica por espaço e por alimentos, ao mesmo tempo a predação pela pesca, extração de forma desordenada, sem um plano de gestão e cuidados com a sua exploração”, explica o pesquisador.
“Além disso, não só o sururu sofre os efeitos dos poluentes, outras espécies e seus exploradores também. Com a escassez do molusco, a população de pescadores e marisqueiras, que vivem da extração do produto, fica sem ter o seu ganha pão. Por isso, a lagoa precisa ser melhor cuidada, recuperada, despoluída, caso contrário o sururu não vai conseguir se desenvolver assim nas condições atuais”, acrescentou.
No caso da mortandade de peixes, os pesquisadores apontaram também, como agravante paras as péssimas condições da água da lagoa, o período de chuvas, com uma grande quantidade de poluentes que desaguou na lagoa, sem falar com o assoreamento e na presença dessa espécie exótica. Nessas condições, segundo eles, qualquer produto que vier da lagoa tem uma grande possibilidade de estar contaminado.
Mundaú: pesquisa é realizada após grande mortandade de peixes
da qualidade da água da Lagoa Mundaú foi realizada logo após uma grande mortandade de peixes, registrada pelos moradores do Flexal, em março do ano passado. Assim que a denúncia chegou aos pesquisadores do Ceca/Ufal, eles pediram aos moradores na região que fizessem a coleta da água da lagoa, nos pontos onde os peixes apareceram mortos.
“Recebemos o chamado da comunidade do Flexal [próximo ao Porto do Sururu], após evento de mortalidade de peixes ocorrido no dia 13 de março de 2022. Informamos que procedessem com a coleta em triplicata, com volume de 2,5 litros, seguindo metodologia de coleta de água, com frascos estéreis, numa área que cobrisse um raio de cerca de 100 metros, do local da mortandade dos peixes”, explicaram os pesquisadores.
“Quanto aos peixes, solicitamos que os exemplares fossem coletados ainda vivos, se possível, para retirada de fígado, brânquias e músculos para análises histopatológicas, enzimáticas e genotóxicas, o que não foi possível, devido ao horário de coleta e deslocamento da equipe da Ufal para retirada dos tecidos. Contudo, três exemplares da família Gobiidae – Gobionellus oceanicus, espécie estuarina, de hábito bentônico, com pouca capacidade natatória para grandes distâncias, estavam em bom estado de conservação e foi possível análise microscópica das brânquias e do fígado”, acrescentam.
Os pesquisadores afirmam também que “as amostras de água foram conservadas em geladeira e levadas ao laboratório no dia 14 de março para análise através de espectrofotometria de luz (Merck), Fotômetro (Hanna), Sondas Multiparamétricas (Hanna e YSI) e Fotômetro para análises para cloretos. “Os 3 exemplares de peixes foram dissecados, e os tecidos de brânquias e fígados, analisados através de lupa e microscopia eletrônica”, explicaram.
“Paralelamente, o local foi fotografado e realizadas as observações, através de questionamentos extraídos da comunidade local. Comparando-se os resultados obtidos nas análises com os valores estabelecidos pela Portaria Nº 2.914 de 12/12/2011, pela Resolução Nº 357/2005, do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), para Águas Salobras de Classes 1 e 2 e pela Portaria GN/MS, Nº 888 de 04/05/2021, observamos que a maioria dos parâmetros não satisfazem aos limites permitidos”, atestam os estudiosos, no laudo divulgado ontem.
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