Cidades

No Dia Internacional da Mulher, elas ocupam as ruas de Maceió

Ato contra a violência e por direitos iguais percorreu Centro da capital alagoana para reafirmar que data é de luta

Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independente 09/03/2023 06h48
No Dia Internacional da Mulher, elas ocupam as ruas de Maceió
Mulheres, homens e crianças percorreram as ruas do Centro em ato contra violência e por direitos iguais - Foto: Adailson Calheiros

Violência doméstica, feminicídio, desigualdade salarial e fome. Essas foram apenas algumas das questões levantadas pela pauta das mulheres que foram às ruas ontem (8). No Dia Internacional da Mulher, elas reafirmam que o dia é de luta.

Com a presença de movimentos rurais e urbanos, a primeira caminhada de rua das mulheres alagoanas depois do início da pandemia aconteceu no Centro de Maceió e reuniu mulheres, homens e crianças. A presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rilda Alves, afirma que a sociedade está vindo de um período difícil para as mulheres.

“Com Bolsonaro foram 4 anos de ataque às mulheres, aumentou o feminicídio. Então este ano é especial pra nós. Com a esperança de uma construção diferente para as mulheres, de uma valorização para a luta das mulheres. A gente consegue hoje estar olhando o rosto de cada mulher que está aqui expressando a sua luta, suas reivindicações, trazendo suas bandeiras de luta para esse 8 de março na expectativa de um mundo melhor”.

Rilda detalha a pauta, que é bem diversa. “A questão principal, carro chefe, continua sendo a questão da violência contra as mulheres, o feminicídio que tem aumentado muito. Então esse é o ponto chave, mas a gente tem outras bandeiras que o 8 de março traz. Como a questão da valorização das mulheres no trabalho e o salário igual entre homens e mulheres. Protocolamos também uma pauta no governo do estado hoje com várias bandeiras de luta tanto do campo quanto das mulheres da cidade onde a gente traz a questão da delegacia de mulheres em todo o estado, que ainda não temos, e que seja permanente, 24h. Lutamos também por creche, moradia, condições de trabalho”.

Segundo Rilda, a manifestação foi planejada por vários grupos. “São vários movimentos organizados dentro da frente feminista composta por várias organizações de mulheres e movimento sindical, campo. Construído por várias organizações específicas de mulheres e também organizações mistas”.

Lúcia Santos, da Marcha Mundial das Mulheres, reforça que a queda da presidenta em 2016 representou retrocesso para as mulheres. “Depois de 2016, com o golpe da Dilma [Rousseff], muitos direitos que conquistamos na raça com vida e sangue foram destruídos e desconstruídos pelo governo bolsonarista fascista. Agora no governo Lula estamos reestabelecendo a democracia e principalmente reconstruindo a luta das mulheres para que nossos direitos conquistados não acabem e que a gente possa ter mais forças para buscar novos direitos. Porque só na luta a gente consegue”.

ABORTO LEGAL

Ela lembrou o Projeto de Lei do vereador Leonardo Dias, aprovado na Câmara Municipal, que revitimiza mulheres que sofreram estupro no momento que forem buscar o SUS para fazer o aborto legal. “Para você ver o absurdo, o projeto foi aprovado na Câmara de vereadores de Maceió mesmo sendo considerado inconstitucional pela própria procuradoria da câmara. Um retrocesso. Através da nossa luta vamos pressionar o prefeito para vetar e não deixar isso se transformar em lei”.

ARAPIRACA

De acordo com o site da CUT, 31 protestos espalhados por todo o Brasil estavam na programação do 8 de março de 2023. Aqui em Alagoas, além da capital foi realizado também um ato em Arapiraca, na Praça da Prefeitura.

À tarde, o presidente Lula assinou no Palácio do Planalto um pacote de ações que garante desde a obrigatoriedade do pagamento de mesmo salário para homes e mulheres que exercerem a mesma função até medidas para ampliar o enfrentamento à violência contra as mulheres.

Trabalhadoras rurais do campo realizam jornada o mês inteiro

As trabalhadoras rurais participaram do ato. “Hoje a gente entende que a luta no campo se fortalece quando a gente soma com a luta da cidade, assim como a luta na cidade também precisa fortalecer a luta no campo. Na periferia inclusive se concentra esse contingente de pessoas que são expulsas do campo”, pontuou Marciângela Gonçalves, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Para muitas dessas mulheres, essa foi uma das ações de uma grande programação. “Estamos na jornada de lutas das mulheres sem-terra em todo o território nacional e aqui em Alagoas uma jornada conjunta dos movimentos do campo. Começamos desde domingo no que nós chamamos de acampamento Dandaras do Campo, reunindo MST, FNL, MLST, CPT, MLT, que ocupou a Praça Sinimbu desde domingo (5) e foi até esta quarta, integrando essa jornada que segue por todo o mês de março”.

As reivindicações são voltadas principalmente para políticas públicas do campo. “Reforma agrária popular, que perpassa crédito produtivo para as mulheres, assentamento das nossas áreas de acampamento, assistência técnica, terra, pela abertura das escolas do campo que foram fechadas, enfim. Temos acampamentos com mais de 22 anos sem uma política de reforma agrária, crédito”.

O grupo que estava acampado fez uma caminhada na terça-feira (7) com o lema “Pela vida das mulheres, contra fome, violência, mulheres sem-terra em resistência”. Marciângela diz que denunciaram a violência no campo e cobraram justiça e reforma agrária. “É a denúncia do latifúndio que tem provocado a má qualidade de vida da população e principalmente as mulheres do campo. A gente trouxe pautas específicas do campo, mas pautas que defendem a melhor vida do campo, e isso também traz consequências para a cidade”. 

Participação dos homens amplia movimento feminino

Presente na luta assim como muitos outros homes que podiam ser vistos no local, o bancário Thiago Miranda fala sobre o protagonismo de mulheres. “É um dia importante não só de parabenizar e presentear as mulheres, mas lembrar esse histórico de lutas e conquistas das mulheres. Todos os homens devem apoiá-las sempre para que a gente avance ainda mais contra esses números de feminicídios que vem ocorrendo no nosso país, as agressões às mulheres, a questão da equidade salarial. Este ato tem importância histórica, remonta toda a tradição de luta das mulheres em diversos campos, desde a escravidão tivemos a atuação de mulheres”.

Na avaliação de Thiago, o avanço das mulheres é bom para toda a sociedade. “Com as mulheres conquistando os direitos, eu acho que os homens não serão prejudicados. Há espaço para todos e a gente tem que trabalhar pelo merecimento”.

Sobre a participação dos homens, Rilda Alves explica. “8 de março é a pauta específica das mulheres, mas a gente também precisa que os companheiros homens participem, porque não dá pra ir pro enfrentamento da violência se os homens também não tiverem participando do debate e da importância de encampar a luta contra a violência”.